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Pés que Brilham; Cor que Alumia

17 de Outubro de 2020
17 de Outubro de 2020

No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros" 1 Tes 4:9

A cor negra da pele, todo o encanto e beleza de uma raça, que deve se orgulhar de sua cor. ...e é bom que os brancos nunca se esqueçam disso

Essa foto da capa é muito significativa e traz para nós uma grande lição. Quem sabe querendo dar um basta nessa podridão racista espalhada como um tumor mundo afora. Éh...essa segregação racial deveras não existe outra figura pra representá-la senão, um tumor, um câncer vertiginoso.

Mas vamos lá!

Novamente aqui estamos. Digo até mesmo no plural, pois são dois sentimentos que podendo assim considerar, caminham conosco; uns livres, outros infelizmente presos, escravos em suas emoções e pensamentos, que adverso aos requisitos do Grande Arquiteto, vivem com suas mentes incapazes de reconhecer a grandeza do ser que igualmente somos, indiferente à cor, raça, credo ou religião, que certamente seria um outro assunto a ser abordado. Na verdade, eu pensei, pensei, e tornei a pensar. Andei para lá, andei para cá, por três vezes levei a mão ao queixo, olhei da janela, vi os traçados como de um colorido lápis preto e branco envolto às montanhas enverdecidas e refleti se deveria de fato escrever sobre esse assunto, haja visto, tamanha repercussão que poderia gerar nesse mundo "patriarcal", face as desigualdades sociais que ao longo dos tempos temos assistido e de tão complexo, por ora polêmico, poderia ser que ninguém interessaria lê-lo, quando lembrei-me de uma ilustre frase do conhecido escritor e professor de história da Unicamp Leandro Karnal quando disse que: "se recuso um texto porque acho que não será lido por alguém, é porque dialogo mal com minha vaidade", e, nas suas palavras ainda, a vaidade e o orgulho constitui na tradição religiosa, o primeiro pecado, e sendo assim, pra não tornar-me um pecador em extremo, aceitei mediante minha livre consciência, escrevê-lo; esse livro que, e faço aqui as palavras de Abujamra quando diz que "pode não ser uma janela aberta para o mundo, mas certamente é um periscópio sobre o oceano do social". Mas enfim, considerações à parte, novamente aqui nos encontramos, eu e meus dois gloriosos sentimentos que de acordo com o Silveira Bueno, nada mais são que o ato de sentir; sensibilidade; paixão; finalmente, minhas livres émotions et pensées, ou "emoções e pensamentos" caminhando de mãos dadas, numa satisfação ainda muito maior, indizível quem sabe? Como regidos pela batuta da Verdade e Justiça, a exemplo do Regente Maior da Vida que do alto comanda na terra com olhos de amor e compaixão, essa fantástica, sublime e contraria ao que deveria ser, insubmissa, corrupta e infelizmente, destroçada orquestra multirracial, quando de sua sublime sensibilité, na língua do sorriso - francês – ou, sensibilidade pelo coração da alma, numa louvável exposição do grandioso valor dos "frè yo nwa" - no Crioulo Haitiano – idioma – ou "irmãos negros"; na apresentação do grande valor dos irmãos negros, a comunidade negra, que indiferente ao seu brilhante colorido onde se destaca às demais, se torna a grande luz da história; a comunidade negra que nada mais é ou possui, numa gloriosa rima inspiradora "a bravura de um povo lutador", como exposto no quadro a óleo, uma aquarela de Jean-Baptista Debret -1768/1848, famoso Debret e as chamadas "As Escravas de ganho", que segundo a amostra, passavam o dia nas ruas vendendo suas frutas e doces, a quitandeira de Ferrigno, que na verdade não oferece seus produtos, mas permanece sentada e cansada, onde o painel mostra uma luminosidade ardente incidente sobre a figura daquela quitandeira para acentuar dessa forma, o tom de sua pele. O seu corpo naquela aquarela, possui um volume e se destaca na cena. É um corpo forte, possivelmente acostumado com o pesado serviço braçal. Mesmo que a intenção do artista tenha sido a de se utilizar de uma imagem, ora sentimental, daquela mulher negra – a Quitandeira – para angariar simpatias em premiações de salões, como sugere Maraliz de Castro Vieira Christo (licenciada em história pela UFJF e mestre pela UFFluminense), podemos entender o que vai além dessa quitandeira: a luz baixa, os tons terrosos, o lugar pobre, os poucos objetos como ervas e chinelos em desordem, sugerem um futuro sem perspectivas ou pouco promissor. E porque não falar na Batalha do Avahy, óleo pintado por Pedro Américo – Pedro Américo de Figueiredo e Melo, o paraibano de Areia, o menino-prodígio, romancista, poeta e dentre tantos, professor brasileiro - nos anos 1872-1877 quando em gloriosas façanhas do Império e seus bravos heróis, pode-se observar um soldado imperial negro lutando como integrante das tropas brasileiras. Entretanto, esse soldado não possui nenhuma individualidade, não está entre os que demonstram atitudes bravas e diferenciadas, nem tão pouco entre aqueles que merecem destaque ou espaço no primeiro plano da pintura, pelo contrário, é apenas mais um entre muitos combatentes, mas que certamente lembra que também de negros é formada a nação, porém, não lhe é dado nenhum lugar de destaque ou posição relevante. De fato, como dito no parágrafo anterior, o futuro seria sem perspectivas. Já na Batalha dos Guararapes de 1879 de Victor Meirelles, outra representação de uma batalha histórica ocorrida no século XVII, é usada para reforçar as questões de união e identidade nacional em oposição ao que era extremo e colonialista. Neste embate entre as tropas locais e os holandeses, vistos como invasores, a história nos confirma isso, os negros são mostrados como um importante contingente das tropas nacionais, e responsáveis pelo menos em parte, pela força brasileira. Na pintura são mostrados como poderosos, mas, ao nosso ver, amorfos e até grotescos, liderados por heróis lusos sobre os quais recaem a bravura e a nobreza do combate cavalheiresco. Éh! é a história do negro que se faz e refaz nos memoráveis tempos.

-----------------------------------------Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o estigma de um crime [...]. Mas os críticos esqueceram que esta cor é a origem da riqueza de milhares de salteadores que nos insultam; que esta cor convencional da escravidão como supõem os especuladores, à semelhança da terra, ao travez (no italiano) da escura superfície, encerra vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade.

Luiz Gama

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Fico maravilhado e porque não dizer, de queixo ao chão, digo eu agora, quando pelos olhos da memória avisto nos longínquos tempos e arredores, como o famoso Rochedo Fastnet na Irlanda e suas grandiosas lanternas a percorrer em círculos o fantástico mar irlandês, a luta desse povo em manterem sua identidade – isso é forte! – a identidade - conjunto de características de um indivíduo ou de um povo -; o DNA de sua persistência e perseverança, se assim podemos dizer, é parte integrante da sua alma cansada, que, mesmo cansada, por conseguinte, como sempre pudemos acompanhar, de punhos cerrados, os tem feitos vitoriosos. É! Me sinto alegre, claro! em saber que, primeiramente, somos todos iguais perante ao Criador, e é bom que os brancos se lembrem disso; e me revolto quando vejo que "não são todos, e sim, poucos os que concordam com esse princípio"; o Criador que não faz acepção de pessoas; sejam brancos de olhos claros como negros de escuros, ou, pela ordem, negros de escuros como brancos de claros, ou ainda na contraordem, brancos de escuros como negros de claros, enfim numa afetuosa miscigenação, todos provém Dele, vivem Dele, pertencem a Ele, e a Ele será devolvido, e depois, pelo que aprendemos com eles (negros) em sua perseverança, esperança e ademais, a tão gloriosa conquista que é, ainda que meio tímida e invisível, descolorida, ou quem sabe empalidecida, a LIBERDADE para com a vida, como escreve Mônica Custódio – secretária de Política de Promoção da Igualdade Racial no dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial criado em memória dos mortos e feridos no massacre de Shaperville na África do Sul em 21 de março de 1960 onde faz uma dura crítica em que, "em sua esteira da campanha de valorização dos afrodescendentes, - se referindo a ONU -, segue o recrudescimento – ato ou efeito de transformar em algo ou alguém mais intenso: tornar-se mais forte, exacerbar - da política de extermínio da juventude negra". Nas suas palavras ainda, "a história dos negros no mundo consiste na luta em defesa da vida e da liberdade" e, "toda a historiografia negra, desde o escravismo, é marcada pela luta no direito à liberdade e à vida – a história do negro em qualquer parte do mundo é, antes de mais nada, a história de luta pela vida" e ainda, "porque a vida, e a liberdade de nossa juventude negra, IMPORTA", conclui a secretária. Mas enfim, com enorme respeito e aprendizado, é desse povo, os negros, que mediante o soprar dos ventos, abro as páginas virgens deste livro a exemplo do escritor Rubem Alves quando diz que "o poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito"; enfim, para procurar numa linguagem livre e aberta, ou clara como preferir, demonstrar a singularidade que são. A vida meus queridos, como diz o escritor, "precisa do vazio; a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta; a música precisa igualmente de um vazio chamado silêncio para ser ouvida; um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito; e as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro de si". É! Precisamos de um vazio dentro de nós, para entendermos que não somos, nem mais, nem menos que os afro-descendentes, ao contrário, somos iguais; o que muda é a cor da pele. Por fim, falo de um povo diferente, embora como tantos outros, alguns, não todos, as vezes carregando dentro de si, como no meu livro anterior, suas igualmente atitudes ou comportamentos desregrados, pisadas desajustadas, cavernistas e pré-históricos no contrapé da integridade – comportamentos ou ações que demonstram retidão; honestidade, - que grosseiramente os chamo face a indignação que duramente carrego dentro em min'alma; um povo que corre em suas aparentes veias, o sangue invisível da liberdade, repito: "o sangue invisível da liberdade" e muito mais da igualdade social. "Mesmo com os direitos conquistados, a condição social dos negros não mudou drasticamente e a segregação racial permaneceu. Todavia, apesar das dificuldades impostas por uma sociedade retrógada, com uma forte herança rural e escravocrata, com ideias muitas vezes amparadas em teorias evolucionistas, a busca por reconhecimento e por cidadania continuou"

[Benacho, Ana Laura; Beck, Diego Eridson; Costa, Rafael Machado; Vargas, Rosane. Considerações sobre a representação do negro na arte do Brasil, 1850-1950]

[Livro em andamento]

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Iraldir Fagundes ESCRITO POR Iraldir Fagundes Escritor
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