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Agosto de 2011

Olá Carlos,
   Hoje, após um ano, tenho forças para te escrever e encerrar de uma vez esse capítulo. Sabe o que eu queria dizer se tivesse chance? Que eu não te culpo mais e nem te acho covarde, pois, agora, entendo que os homens demoram mais para se acostumar com a idéia de ser pai e perder a ‘liberdade’. E apesar de não entender bem seus motivos, te perdôo por destruir meus sonhos, por quase ter acabado com a estabilidade emocional do nosso filho e por ter desmoronado tão rápido quando eu mais precisava de você.
   Não acho que você gostaria de saber, mas Bruninho acaba de completar quatro anos e finalmente está se acostumando com a sua falta. Ele voltou a brincar com os amiguinhos, parou de perguntar pela sua volta e os pesadelos que começaram após sua partida, cessaram.
   Sinto que nosso filho está feliz. Sinto que estou feliz.
   Outra coisa que gostaria que soubesses: ontem criei coragem e depois de meses, visitei seus pais. Ambos sentem saudades e torcem para que estejas bem onde quer que esteja. Sua mãe foi quem me convenceu a escrever essa carta e lê-la para você; Disse que seria bom para aliviar um pouco o fardo que carrego e aqui estou... Sentada ao lado de sua lápide enquanto o vento brinca com meus cabelos, tal como você fazia.
   Ah, Carlos, eu me culpo, às vezes. Penso que se não houvesse te idealizado tanto, você ainda estaria aqui, mas sempre pensei em você como um herói, tal como um príncipe encantado que se adaptaria facilmente a vida em família e de quem me tornei dependente.
   No entanto, depois que Bruno nasceu e uma vida passou a depender de mim, começou o meu processo de amadurecimento. Pena que você não durou o bastante para ver a mulher que me tornei. Pena que quanto mais eu ganhava equilíbrio, mas você perdia o seu. Uma parte de mim ainda te ama e vez ou outra pensa como as coisas poderiam ter sido diferentes se você não houvesse cometido suicídio. Enquanto a outra parte tenta seguir em frente e apagar esses últimos meses.
   Durante o ano que passou comprei uma nova casa com um quarto para os brinquedos de Bruno e um parquinho no quintal para brincarmos juntos, entrei na faculdade de Jornalismo e arrumei um emprego que me satisfaz.
   Durante esse último ano, desencorajei todos os homens que me convidavam para sair, mas Alex conseguiu vencer minhas barreiras e, agora, posso dizer que encontrei alguém que valha a pena. Alguém em que posso me apoiar e que, não somente, cuida de mim e de Bruno, mas me impulsiona a arriscar e a viver.
   Carlos, hora de buscar nosso filho na escola. Ele está tão contente, pois Alex irá nos levar para passarmos um tempo juntos e torço para que Bruno o aceite como padrasto.
   Sinto a sua falta e teria continuado te amando se continuasses comigo.
 
   Com amor,
                            Lena
 
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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

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