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Vocação pra Corno - 2007.

 
Dona Lindalva do Carmo,
Moça de dezoito anos
Se casou nova, coitada,
Casou forçada e sem planos
Com o véio Barnabé
Que já teve dez mulé
E disquitou-se por razão;
Ele deixou todas ela
Pruquê pulavam a jinela
Pra se danar na traição.

Lindalva, como era nova,
Começou a dar trabái.
Saía dizendo que ia
Comprar um vrido de gai
Pra botar no lampião.
Mintira, ia lá pro ribeirão
Se encontrar justo comigo.
Se o véio subesse da festa
Me dava um tiro na testa
E outro no mêi do imbigo.

Adispois saí dizendo
Carregando um pote
Que ia buscar água
Na Cacimba do Serrote.
Saía toda cheirosa
E chegava lá fogosa
Na beira do ribeirão,
Adispois voltava pra casa,
Já tinha apagado a brasa,
Isso era todo dia, patrão.

O véio nem disconfiava
Dessa safadeza
E tanto confiou nela
Que viajou pra Fortaleza
Pra comprar água de chêro
Pra mode botar no banhêro
De sua linda sinhora.
A casa ficou vazia
E ela ficou vadia
Pra gozar todas as hora.

Eu chegava de madrugada,
Saía tarde da noite,
Ela batia n’eu cá mão,
Cá cinta, cipó, açoite,
Ficava louca de desejo,
Era porrada e bêjo,
A coisa mais excitante...
A mulé nunca parava
E tão pouco cansava,
Era "coisa” todo instante.

O véio tinha dizido:
“Em uma sumana tô voltando”.
Mais só fez dá quatro dia
O véio tava regressando
Com o frasco de prefume
E morrendo de ciúme
Da sua linda mulé.
Quando vi o véio na rua
Larguei Lindalva lá nua,
Fiquei doidin pra dar no pé.

“Largue de ser imbecí!...”.
Mim dixe Lindalva pra mim.
“Nós temo que inventar alguma coisa...
Nós vamo dizer assim...”
Combinemo a história
E pra toda nossa gulória
O véio chegou no ato
E preguntou: “O que ta havendo?”
Aí comecei dizendo
Com a cara de gaiato:

“Eu vim passando aqui perto
Quando ovi certa zuada,
Entrei aqui e vi
Sal mulé sendo atacada
Por um baita bandido
Que já tava todo dispido
Agarrando sua sinhora.
Eu pensei: _ Ele quer é comer ela!
Joguei-lo pela jinela
E salvei-la na mesma hora.

Adispois do ocorrido
O sinhô veio e chegou”
E não é que o bicho besta
Na história acreditou?
Cuidou bem de sua mulé
E pra mim tirou o chapé
De tamanha gratidão.
É como o povo conta:
“Quem tem vocação pra ponta
Nunca perde a profissão”.

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Comentários

Virginia Melo
Virginia Melo

Nunca vie tamanha criatividade pra safadeza!