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O tocador de pífano

Jonas era um menino diferente dos outros. Ele não podia andar como os outros, brincar como os outros ou correr como os outros. Tudo isso por que Jonas usava cadeira de rodas. Sentado em sua cadeira, ele apenas observava os outros meninos andando, brincando ou correndo.
Todos os dias sua mãe o levava para a escola sentado em sua cadeira. Os meninos da rua o acompanhavam e gostavam muito dele, mas ele sempre ficava triste por não poder acompanhá-los depois da aula para jogar bola perto da lagoa.
Um dia, a mãe de Jonas, vendo o menino sentado em sua cadeira, triste e suspirando por não poder correr com os outros meninos da rua, decidiu lhe dar um presente. Ela foi até o mercado e pediu a um marceneiro que lhe fizesse um presente valioso, que desse alegria ao coração de Jonas. O homem conhecia a história de Jonas e também ficava triste ao saber que o menino não podia brincar de pega- pega, como ele fazia na infância.
Então ele pensou e pensou. Queria fabricar algo que realmente fosse importante para o menino. Foi até o quintal de casa, arrumou uma taboca e começou a trabalhar nela. Em pouco tempo, o pedaço de bambu foi ganhando forma e ganhou sete furos. Um para soprar e outros seis para dedilhar. No final ficou bem parecido com uma flauta. Mas o som, era diferente, pois o marceneiro havia feito um pífano para o menino Jonas.
Quando a mãe de Jonas chegou em casa com o pífano, o menino estava dormindo. Ela o acordou e lhe deu o presente. Disse que tomasse conta do instrumento, que fosse cuidadoso e que logo logo aprenderia a tocar.
Todos em casa ficaram surpresos, pois tão logo pegou o pífano Jonas aprendeu a soprar em menos de uma semana. O som do pífano saia pela janela do quarto de Jonas e todos ficavam encantados com a beleza daquele som. Logo os meninos da rua estavam lhe pedindo que tocasse e as meninas suspiravam quando ele tocava para elas.
E todos os dias, depois da aula, enquanto os meninos jogavam bola perto da lagoa, Jonas ficava contente por ficar lá com eles e tocar pífano alegrando a todos. A brisa era suave, e ele podia sentir que a natureza também gostava de sua música.
Mas então um dia, o pífano de Jonas sumiu. Dentro da gaveta de seu armário, lugar onde ele sempre guardava o pífano antes de dormir, havia apenas um bilhete. “Ajude-me por favor, preciso encontrar meu filho. Te devolvo seu pífano quando encontrá-lo”. Jonas não entendeu por que haviam feito isso com ele, levaram-lhe o objeto de que mais gostava e ele nem sabia quem havia sido.
Ficou chorando por um bom tempo. Sabia que não adiantava chorar, mas as lágrimas saiam de seus olhos assim mesmo. Mas foi então ele teve uma ideia. Colocou um bilhete no mesmo lugar onde havia encontrado o outro. “Eu te ajudo a procurar”. No outro dia um outro bilhete dizia que estivesse na beira da lagoa depois da escola de manhã. E assim Jonas pediu a um colega que o ajudasse a chegar até a lagoa. Mas não havia ninguém lá. O amigo de Jonas precisou ir e o menino ficou sozinho esperando a mãe vir buscá-lo.
De repente, ele ouviu um barulho que veio da água. “Jooooonas!” Dizia a voz devagar, mas alto o bastante para que ele pudesse ouvir. Ele olhava fixamente para a lagoa, mas não via nada além do mexido das águas com o vento.
“Jooooonas!! Joooooonas! Por favor, ajude-me a encontrar meu filho. Eu lhe devolvo seu pífano se você me ajudar...”
Jonas respondeu: “Quem é você? E por que pegou meu pífano? Eu ajudo você a procurar seu filho, mas devolva meu pífano, por favor”. De repente as águas da lagoa ficaram escuras e começaram a se mexer rapidamente. Saiu de lá um grande sapo. Jonas sentiu muito medo, mas não tinha como fugir dali. Pensou em gritar, mas não viu ninguém por perto.
O sapo olhou para Jonas. Abriu a boca e jogou o pífano no seu colo. “Meu filho gosta muito do som do pífano. Tenho certeza de que se ouvir você tocando, ele volta para a lagoa”.
Jonas pegou o pífano e começou a tocar. Nada aconteceu.
Ele pensou que o sapo estivesse mentindo. Mas de alguma forma, quando viu a tristeza no olhar do sapo e seu jeito triste observando a lagoa, pensando em seu filho, Jonas lembrou-se de todos os momentos em que observava o mundo através da janela do seu quarto e do quanto esteve triste muito tempo por não poder correr com os outros meninos.
“Me desculpe ter roubado seu pífano”. Disse o sapo. “Eu pensei que meu filho escutaria o som, onde estivesse, e voltaria para casa. Eu sei que ele está perdido em algum lugar. Pode estar com medo, sem saber como voltar”.
“Eu te desculpo, mas não acho certo o que você fez. Por favor, não faça mais essas coisas. Eu fiquei muito triste quando achei que não teria meu pífano de volta. Do mesmo jeito que você está agora. Vou tocar mais uma vez”.
Jonas tocou mais uma vez. Desta, ele encheu os pulmões de ar, inspirando profundamente. E tocou com toda a vontade de seu coração, imaginando que um jovem sapinho estava voltando alegre para casa. Ao abrir os olhos, depois de uma linda canção, viu o jovem sapinho pulando saltitante em direção ao pai que chorava de alegria e com os braços abertos esperando o filho.
“Onde esteve meu filho? Eu estava triste, preocupado com você”, disse o sapo pai.
“Me desculpe papai. Eu me perdi. Saí do lago para apreciar um grupo de meninas que dançava com vestidos azuis e vermelhos e fiquei encantado com aquela música. Daí fui atrás delas, mas logo elas foram para casa e eu não sabia mais como retornar ao lago”.
“Deviam ser as meninas do pastoril aqui da rua”, disse Jonas que estava escutando a conversa dos dois. Ele estava muito feliz por ter encontrado o sapinho com sua música.
“Muito obrigado por me ajudar. Eu prometo que não faço mais o que fiz”, disse o sapo para Jonas.
E então Jonas tocou mais uma vez a canção mais bela que todos já ouviram. As meninas do pastoril estavam dançando ali perto e vieram observar o que estava acontecendo na lagoa. E logo os meninos do futebol também estavam ali para ouvir. Foi uma grande festa para o sapinho! Ele não cabia em si de tão feliz! Assim como seu pai, por ter lhe encontrado!
Logo a mãe de Jonas também veio buscá-lo na lagoa e ficou também muito alegre em ver o filho rodeado de crianças que dançavam contentes e animadas ao ouvir a música que saia do pífano. Depois desse dia, Jonas todos os dias em que ia para a lagoa tocava uma ou outra música para o sapinho que pulava feliz ao redor da cadeira do menino junto com seu pai.
 



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Jacqueline Freire ESCRITO POR Jacqueline Freire Escritora
Maceió - AL

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Comentários

Fabio da Silva
Fabio da Silva

Li e gostei.