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A Carta Que Eu Nunca Te Mandei

A você...
A mim...
A nós...
 
     Sei que a mim só restam duas alternativas: confessar meu amor ou deixar tudo como está. Confesso que tenho medo da primeira. Tenho medo de acabar acreditando que você me ama e meter os pés pelas mãos confessando o quanto gosto de estar ao seu lado, pondo assim um fim na nossa amizade. Mais que isso, tenho medo de você dizer que sente o mesmo apenas por pena, para não me machucar. E só para você saber: não quero que se sinta responsável pelo que eu sinto ou que diga que sente o mesmo sem sentir.
     É por isso que eu preciso saber exatamente quando parar, ou melhor, preciso parar de esperar por coisas que não dependem de mim. O ideal seria se eu aprendesse que desistir não é sinônimo de fraqueza: é coragem, principalmente quando desistimos de algo que nos faz bem ou de algo que não possuímos, mas que no nosso interior sentimos que é nosso por direito.
     Cansei de esperar por uma resposta sua, um sinal, por menor que fosse para que eu me aproximasse de você e confessasse o que mantenho a sete chaves. Cansei de esperar por aquilo que não acontece. O tempo está passando e a cada segundo vejo mais próximo o final. O pior não é saber que vai ter um final e sim saber que não tenho coragem de fazer nada para impedir os rumos que a nossa vida vai tomando.
     Já posso imaginar onde estaremos daqui a um ano. Você na sua cidade ou, quem sabe, por aqui mesmo. Eu terminando a faculdade, à espera de um mestrado ou de qualquer outra coisa que me levará embora daqui e das lembranças. Na verdade isso não importa muito, pois de qualquer forma você estará longe dos meus olhos e dos meus dias. De qualquer forma estaremos separados com um segredo, o meu segredo, lutando para ser posto para fora.
     Continuarei aqui, ao seu lado, desejando que o ano termine para que assim eu não precise mais forçar indiferença e bom humor quando estou perto de ti. Vamos continuar como amigos: continuarei sorrindo para você e sentindo dificuldade em sufocar um ‘eu te amo’; por dentro só eu saberei o quanto cada sorriso e cada ‘Bom dia Moço’ custarão para mim.
     Apesar de querer continuar guardando a doce ilusão de que você é tímido e por isso não tem coragem suficiente para dizer os sentimentos mais fortes que tem por mim, eu sei que nada vai acontecer. Não existem mais lágrimas agora que o final é previsível, com exceção desta que desce pelo meu rosto: solitária e teimosa (assim como eu sou?). Não existem mais nada. Existe um vazio, uma saudade do que poderia ter sido e não foi, uma espera infinita que nunca cessa e uma certeza insistente de que fomos feitos para durar.
     É como se existisse, ou melhor, como seu eu soubesse que existisse um universo paralelo onde nós fomos felizes... Onde nossas almas estão sendo felizes... Juntas. Sentir tudo isso fortalece mais e mais minha decisão de por um ponto final em você... Em nós (tenho que aprender a parar de usar esse pronome!).
     Aqui e agora me despeço de você minha doce ilusão e que venha a primavera junto com novas flores e novos caminhos. 
 
P.S.: A vontade mesmo é de jogar todas essas palavras na sua cara, para ver você sem reação. Talvez assim eu pudesse te roubar um beijo.
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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

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