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Admirável Brasil Novo...

Nunca antes na história desse país a popularidade de um presidente foi tão alta – e ninguém pode desmentir isso: Lula é realmente um gênio político. Sua vida de luta sindical reflete sua capacidade de articulação. Lula tem “amigos” de todo tipo; desde personalidades que controlam o mundo, como Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, Nicolas Sarkozy, presidente da França, até extremos revolucionários como o polêmico Hugo Chavez, presidente da Venezuela.
 
“O mundo está vendo o Brasil com outros olhos” – diz uma propaganda do governo federal. A propaganda sugere ainda que o governo Lula marcou o início de um novo Brasil, um Brasil que tem a camada do pré-sal, um Brasil que sediará a copa do mundo em 2014, um Brasil que fez o feito histórico de ser escolhido para abrigar uma olimpíada, em 2016, um Brasil que saiu forte de uma das maiores crises econômicas que atingiu o mundo.
 
E por que não dizer que a causa de tudo isso é o fato de termos um presidente que é “o cara” – segundo definição do próprio líder estadunidense Obama, ou “o homem do ano” – conforme escolheu o jornal francês Le Monde, justificando o carisma de Lula, a dinâmica de desenvolvimento por ele empreendida, o prestígio mundial, os acordos comerciais com a China, a redução da pobreza e, sobretudo, o zelo pela democracia, visto que mesmo com uma popularidade tão alta, ele não tentou modificar a constituição para ter um terceiro mandato.
 
É importante que se diga que Lula não foi um dos nossos piores presidentes, antes de falar que o Brasil é ainda um dos países mais desiguais do mundo, que nossa educação continua medíocre, que nosso sistema de saúde é deficiente, que a corrupção ainda é um mal que nos assola (inclusive com a conivência de Lula), que a política nesse país é ainda ineficaz, que está faltando fazer a sonhada reforma agrária, que nossa justiça é lenta, que os problemas da Amazônia não foram resolvidos etc.
 
Os europeus, nos séculos XV e XVI, se orgulharam por terem encontrado o “admirável mundo novo”. Lula quer que nos orgulhemos dessa sua construção do “admirável Brasil novo”. O que mais me chama a atenção é que o discurso lulista vende a ideia de que ele, o presidente, é o responsável por tudo o que nos aconteceu de bom, e se esquece que ninguém faz nada sozinho e que o “novo Brasil” é apenas o fruto de uma semente que foi plantada por vários presidentes, inclusive Lula.
 
É certo que os brasileiros não podem, em hipótese alguma, mergulhar no pessimismo de quem vê demagogia em tudo, mas é nosso direito achar que Lula é um tanto egoísta quando se diz construtor do novo Brasil, ou que ele pode correr um sério risco de cometer o mesmo erro que a história cometeu quando intitulou Pedro Álvares Cabral o descobridor das nossas terras, sem levar em conta o fato de que foram os índios quem aqui já habitavam naquela ocasião.
 
Antes de criticar o governo Lula, devo apenas criticar esses detalhes que justificam o fenômeno que é sua aprovação frente ao povo. Collor deixou entrar a tecnologia no mercado brasileiro – fato importante. Toda política de Lula no primeiro mandato foi baseada em projetos que já existiam e que foram apenas aperfeiçoados, alguns até para pior como o bolsa família que, apesar de unificar os programas sociais do FHC (bolsa escola, auxílio-gás, cartão-alimentação...), retirou o critério de terem as mães seus filhos devidamente matriculados e freqüentando uma escola.
 
Não que a educação que o governo oferece (crítica direcionada aos governos estaduais) seja lá grande coisa, mas é melhor concordar com Paulo Freire que dizia que “se a educação sozinha não transforma a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”.
 
O fato é que, Lula tem mostrado seu esforço e até está aquém das expectativas daqueles que tinham medo de votar nele; mas não pode, em hipótese alguma, achar que, por si só, seu governo transformou esse país. Omitir o que os outros fizeram e fazer o povo concordar que tudo o que a oposição diz é mentira caracteriza uma atitude tirânica da parte do petista. Aliás, por que será que populismo e ditadura têm caminhado sempre tão juntos nos governos latino-americanos?
 
Daqui a uns dias ele até vai querer nos convencer que Dilma ama tanto o povo quanto ele, e se a oposição tentar mostrar o quanto a candidata presidencial odeia o populismo (fato óbvio), Lula nos convencerá: é mentira!
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

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