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Preço reverso da liberdade...

Respiramos liberdade neste século XXI. Por um prisma, somos ainda aprisionados quando somos consumistas, quando somos incapazes de fazer uma revolução proletária eficaz, quando a maioria nos afoga em seus acertos e em suas burrices etc.
 
 
No entanto, no conceito mais prático, somos livres: temos direito a voto; temos o direito de falar e de permanecer calado; temos o direito de não sermos mais vítimas de palmatórias nas escolas; nossos presos têm direito à ampla defesa (por mais que essa discussão seja polêmica); temos direito à razão; Chico Buarque de Holanda tem o direito de cantar o que ele quiser; Ney Matogrosso pode ficar seminu no palco sem que isso seja um escândalo.
 
É fato: somos livres. E para que assim fosse muitos tiveram que ser mortos, torturados, exilados, silenciados. Pagaram o preço para conquistar a liberdade. Não foram egoístas ao ponto de esquecer as futuras gerações, e hoje, desprezamos seu legado. Há quem diga que ninguém hoje daria o seu sangue por um projeto político, por exemplo, a longo prazo, ou seja, que fosse beneficiar apenas uma futura geração – nesse quesito os opositores da ditadura brasileira tiveram uma atitude heróica.
 
Fico a imaginar o apogeu dessa conquista: o voto direto. O movimento “diretas já” representou o ideal de direitos: era a sociedade testificando que a ditadura havia acabado, que a partir dali tudo poderia ser diferente.
 
Tão logo conquistaram o direito de escolher seu presidente republicano, os brasileiros respiraram democracia quando elegeram Collor de Mello; dois anos depois, diante de um suposto esquema de corrupção, os mesmos brasileiros foram às ruas retirá-lo do poder, com a mesma euforia dos que aguardam o sábado de Zé Pereira e o anúncio de mais um carnaval, aliás, carnaval é sinônimo de liberdade. Com ou sem ideais, a juventude pintou a sua cara e conseguiu a façanha de mais um marco político na vida deste país: a queda de Collor.
 
Somos, hoje, a juventude da liberdade, mas parece que a festa perdeu a graça. Nossos carnavais não são mais os mesmos, e, na analogia política, não temos mais carnavais. É simplista demais argumentar que não sabemos cobrar direitos por falta de experiência; o problema, de fato, é falta de consciência. Essa inércia que nos atinge é a resposta que demos aqueles que brigaram pela nossa felicidade – resposta incoerente e infeliz – “burrice”, pra ser mais sincero.
 
Os movimentos sociais não têm respaldo da sociedade; os movimentos sindicais perderam-se nos seus reais objetivos; a esquerda, em geral, almeja tornar-se a direita que tanto condena; a juventude procura outros carnavais. Ulysses Guimarães morreu no século XXI, e só a educação pareada com uma revolução de consciência da nossa juventude poderá ressuscitá-lo.
 
A antipatia com a responsabilidade, não pode ser o preço reverso da nossa liberdade. Mudar essa história é nosso dever e nossa obrigação frente à memória dos nossos mártires.
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

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