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Ressaca moral...

“Carnaval é a festa da carne”. Na verdade isso é uma conclusão equivocada quando se acha que o sentido da palavra carne é sinônimo de prazer e pecado. O carnaval (adeus à carne) é, teoricamente, uma festa celebrada no dia que antecede a quarta-feira de cinzas. Nessa festa a carne deve ser comida de modo a satisfazer os quarenta dias de abstinência que os cristãos o fazem por uma questão cultural. Teoricamente, repito.
 
 
Não tem como fugir da realidade que o carnaval se transformou, isto é, numa festa que começa oficialmente no “sábado de Zé Pereira” e dura por mais três dias. Aliás, se formos contabilizar as prévias e ressacas veremos que a festa dura muito mais do que isso, afinal, no carnaval os homens extravasam – esse é a palavra de ordem.
 
Sagrado seja o nosso direito à diversão. E, sem dúvida, as variadas formas de se viver esse tempo nos trazem diversão: blocos carnavalescos, fantasias, maracatus, escolas de samba, shows regidos por diversos ritmos como o frevo, o samba, o axé... Até aí nada de errado. Mas eis que, de repente, alguém inventa de dizer que carnaval é também a festa do prazer, da promiscuidade, e, portanto, da embriaguez, das drogas, do sexo irresponsável.
 
É triste ver jovens resumindo seu corpo a um objeto qualquer, e sua vida a algo que não merece cuidados. A maior prova disso são os diversos acidentes que acontecem devido a uma mistura fatal entre álcool e direção. De certo, quem bebe e dirige coloca a sua vida e a dos outros num leque de possibilidades, e a lei de Murphy nos diz que “se algo pode dar errado, dará” – salvo o exagero, nossas vidas valem muito mais do que um risco.
 
Pior do que isso é o apelo que se faz (com dinheiro público, ressalte-se) para o uso da camisinha, que só incentiva o sexo irresponsável e às vezes prematuro. E se posicionar contra isso é fugir do bom senso, como se bom senso fosse aceitar o ser humano como um objeto de prazer, sem dignidade, que pratica o sexo sabe-se lá com quem, com quantos (as). Sem falar na exposição exagerada de homens e mulheres que procuram o “ficar por ficar”, nos casamentos abalados em nome de um prazer momentâneo.
 
Bom senso para mim é encarar este ser especialmente criado por Deus como alguém digno de respeito. Afinal, o maior pecado não é contra a castidade, é contra o amor – sentimento maior dentro de nós. Lembro-me que em certa aula, Alberto Rostand, professor de uma disciplina base do curso de engenharia civil, falava sobre segurança do trabalho; na ocasião ele foi enfático ao afirmar que “o corpo humano cobra na velhice todos os esforços empreendidos durante a vida”. E é exatamente por isso que todo trabalhador deve atentar as coisas que acontecem em sua volta: seja um ruído excessivo ou um movimento repetitivo, que mais tarde se transformarão numa lesão.
 
Nosso corpo moral também irá cobrar mais tarde por todos esses esforços que o mundo contemporâneo nos propõe. E embora este corpo seja algo abstrato, a dor é concreta. Depois do exagero vem a ressaca moral. Isso acontece quando nossa humanidade passa a nos cobrar sentimentos sólidos, relacionamentos constantes. E o que teremos para alimentá-la? Nada além de instabilidades.
 
É o momento em que a pessoa toma consciência de tudo o que fez e da consequência de seus atos, ora irreparáveis. Vivências precipitadas geram frustrações.
 
Por tudo isso, procure sempre coisas duradouras para você, coisas que te preencham no presente e no futuro. A felicidade é um processo a ser construído durante toda a vida, e que, segundo o cristianismo, se consolida com a morte, mas somente para aqueles que souberam viver. Não vale a pena confrontar a felicidade com o prazer das drogas, da bebida, do sexo desregrado, da prostituição do corpo e dos valores.
 
É possível viver de maneira saudável, com respeito a você e ao outro, percebendo que as pessoas com quem você se relaciona não estão na sua vida de passagem. Frequente lugares que condizem com o seu propósito de vida, e que te estimulem a preservar o sagrado do seu corpo e da sua natureza humana, sem euforia, sem precipitação.
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

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