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Pedofilia na Igreja...

As mais absurdas confissões feitas por pelo menos um dos padres envolvidos com crimes de pedofilia na cidade alagoana de Arapiraca nos estarreceram. A sociedade vestiu seu manto de dignidade para se dizer “enojada” com os fatos narrados pelo sacerdote, homem que deveria dedicar sua vida a uma missão especial dada por Cristo. Por outro lado, os fiéis da igreja católica se dizem “traídos” com toda essa tempestade – e não é para menos.
 
 
Temos o direito de ficar decepcionados mesmo. Um padre pedófilo comete um erro frente à sociedade e frente à igreja – e deve, portanto, responder às leis civil e canônica, pelos seus atos.
 
Estive olhando os comentários dos internautas nas diversas matérias publicadas em sites de notícias alagoanos e pude notar, entretanto, que há muitos não-católicos fazendo uso da situação para pregar uma verdadeira contracultura da fé. Há quem diga que a igreja católica está moralmente acabada por causa da grave falta cometida pelos padres que se deixam levar pelo pecado do prazer e pelo crime da pedofilia.
 
Começam a confundir as coisas e jogam no meio das discussões temas como o “fim do celibato” – como se a pedofilia fosse um crime praticado exclusivamente por indivíduos homossexuais. É natural perceber que, ao contrário do que acham os desinformados, o perfil do pedófilo tem se caracterizado, sobretudo pela capacidade de influenciar o outro, mas independe da opção sexual ou da constituição de uma família. Prova disso são os diversos pedófilos heterossexuais e “pais de família” que existem.
 
É preciso mexer na ferida, sim, desde que a emoção não tome conta da nossa razão, pois nesse caso corremos um grande risco de ficar falando tagarelices por aí afora. É fato que a igreja não aceita essa atitude de nenhum de seus membros, e que os padres de Arapiraca estão sendo julgados também por um conselho da igreja, que deverá destituí-los do estado clerical, tornando-os ex-padres.
 
É verdade também que, por mais que esse fato gere infâmias, nada deverá mudar o conceito de igreja santa que a católica objetiva ser. Isso por um motivo muito simples: o Cristo que nós pregamos não é pedófilo, e é ele o nosso maior modelo de santidade. Homens são falhos. Homens se deixam levar por paixões, prazeres, vulgaridades, traições (acrescento “dinheiro” e “extorsão”)... Cristo não. E “ai de nós” se não fosse Cristo, o nosso espelho.
 
Eu quero que os padres sejam julgados, sim; mas não quero eu me vestir de hipocrisia para apontar o erro dos outros e esquecer-se de reconhecer os meus próprios erros. É essa a maior incoerência da sociedade civil: gritar para que padres pedófilos sejam presos e se calar quando outros tipos de criminosos se mantêm livres para, muito mais do que abusar sexualmente de um menor, abusar do nosso direito de ter saúde, educação e segurança – tríade essencial na estrutura de uma população.
 
Tenho a certeza de que cada um deverá, um dia, prestar contas com Deus da sua passagem por esta vida terrena, incluindo aqueles que estão transformando a chamada “CPI da pedofilia” numa peça de jogo para fins político-eleitoreiro e político-religioso. Incluindo aqueles que estão posando de inocentes e vítimas, onde na verdade deveriam antes assumir o crime de extorsão que evidentemente foi praticado.
 
Afinal, seria muita inocência acreditar que um jovem indefeso de apenas 18 aninhos foi obrigado a manter relações sexuais com um padre velho e malvado que, por coincidência, pagava a mensalidade do seu colégio. Seria inocência, ou melhor, cegueira, achar que o rapaz gravou um vídeo de sexo explícito sem má-intenção; ou que os cinco milhões que ele comprovadamente cobrou ao padre não caracteriza extorsão; ou ainda que ele não tivesse presumido o efeito-escândalo do vídeo quando o entregou a um programa de televisão nacionalmente assistido.
 
O fato é que não dá pra ver essa história por um só prisma. Todos erraram; inclusive aqueles que estão julgando a igreja pela falta de virtude de alguns de seus padres. Não há diferença entre um bandido que rouba um celular de outro que rouba milhões de um banco – o erro é o mesmo.
 
De maneira análoga, não há sentido considerar o crime de pedofilia cometido por um padre, sem considerar o crime cometido por um jovem no momento em que quis extorqui-lo, ou ainda no momento infringiu o artigo 5º, inciso LVI, da constituição federal de 88, que considera inadmissível, num processo judicial, apresentar provas obtidas por meio ilícitos. Vale lembrar que o tal vídeo era ilícito, visto que foi gravado sem a autorização do padre, nem da justiça.
 
A igreja está sofrendo. E eu estou sofrendo junto, mas sofro na esperança de que nenhuma de nossas virtudes será perdida e que Cristo irá nos ajudar a superar os traumas provocados por esses escândalos.
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

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