Tema Acessibilidade

Elas e o Ano Novo

Tão cedo passa tudo quanto passa!

Morre tão jovem ante os deuses quanto

Morre! Tudo é tão pouco!

Nada se sabe, tudo se imagina.

Circunda-te de rosas, ama, bebe

E cala. O mais é nada.

(Ricardo Reis, pseudônimo de Fernando Pessoa).

 

ERA UMA VEZuma linda criança que pela primeira vez veria a queima de fogos do Ano Novo na praia de sua cidade. Antes, sempre ficava em casa com sua mãe, pois era muito difícil conseguir dinheiro para pagar um táxi, e sua protetora, por mais que trabalhasse, não conseguia o suficiente. Pois bem. Esse ano ela conseguiu. E justo o ano em que ela completa 7 anos. Por que justo? Porque, como diria um grande contista, esse número tem um certo poder, uma certa magnitude. Ou, como dizem os estudiosos: “Essa é a idade na qual as crianças decidem o que vão ser e não se pode mais alterar, mesmo que nós pais queiramos”. Bem, está na hora de entrarmos realmente na estória da menina.

Já era noite (20:00h) e sua mãe estava tomando banho para se arrumar e, então, irem comemorar. Enquanto isso, Mariana estava terminando de se trocar em seu quarto... De repente, diante do espelho, assustou-se com seu próprio reflexo. Como assim?? O reflexo de Mariana fazia gestos que diferiam dos dela, e como num passe de mágica a garota do espelho falou:

Olá minha irmã! Nossa como você está linda! Essas palavras a deixaram pasma e petrificada. — Não pode ser verdade. Deve ser a ansiedade que tá me deixando assim, pensou. Mas, tão certo quanto dois mais dois são quatro, Mariana teve a confirmação do que estava vendo. A garota do espelho deu um pulo, e saiu de onde estava. Já fora do arcabouço de vidro, puxou Mariana para a cama e juntas sentaram, para que as explicações fossem dadas.

— Tenha calma minha querida, eu não vou machucar você. Estou aqui para te dar um aviso sobre a festa de hoje à noite.

Mariana parecia uma folha de papel virgem, totalmente branca. Não sabia se gritava chamando a mãe, ou se escutava o que a imagem tinha a lhe dizer. E, então, o reflexo encostou a boca no ouvido da garota e sussurrou baixinho algumas palavras.

— Filha, já estou pronta! Vamos! Não podemos chegar atrasadas na praia. Nada. Nenhuma palavra foi ouvida pela mãe da menina. — Estranho!, pensou ela. E voltou a falar: — Tá tudo bem aí, minha querida? Para que a mãe não presenciasse aquela coisa no seu quarto, Mariana imediatamente respondeu: — Sim, mãe. Eu tô terminando de me arrumar. Já tô descendo!

Após cinco minutos, saiu do quarto. Mas as palavras estavam na sua mente e teimavam em não sair. Percebendo alguma coisa de diferente na filha, Lívia perguntou se algo de estranho havia acontecido em seu quarto. Mas Mariana, que era muito esperta, convenceu a mãe de que estava tudo bem. Passados quarenta minutos lá estavam as duas na praia...

A multidão se espremia para chegar cada vez mais perto do local da queima dos fogos, e as duas, mãe e filha, se apressavam para não perder essa que seria a primeira vez da menina. Enquanto corriam pela areia, a garota viu um vulto e pensou que fosse a imagem do espelho. Mas não poderia ser, ou será que poderia? De qualquer forma elas continuaram correndo...

23:30h, estava quase na hora do Ano Novo. Não era necessária mais tanta pressa. Elas já estavam perto do local.

23:45h, enquanto descansavam, alguém se aproximou pelas costas de Mariana e a tocou no ombro. Era a garota do quarto. Ela estava exatamente vestida como Mariana. Seus cabelos estavam da mesma forma dos da menina. — Lembre-se do que te falei, sussurrou ao seu ouvido. Quando Mariana se virou, não viu ninguém. — Filha, você está com as mãos frias. O que foi? Fale pra sua mãe. Mariana, então, resolveu contar tudo para sua mãe, que teimou em não acreditar. Ela disse que tudo não passava de imaginação da menina, afinal os espelhos não falavam. E, também, ninguém poderia sair de dentro das coisas. Era impossível. Porém, a garota falou para a mãe as palavras que a coisa do espelho havia lhe dito, e isso fez Lívia mudar totalmente de feição.

— Não pode ser. Você não pode saber uma coisa dessa.

— Eu sei. Mas ela me contou. Ela disse que você não vem à praia porque sente muita dor pelo que aconteceu. É verdade mamãe?Em lágrimas, as duas se abraçaram. São 00:00h, era Ano Novo.

Já em casa, elas subiram para o quarto de Mariana e pararam em frente ao espelho, esperando que a menina aparecesse novamente. Cinco. Dez minutos e nada. Parece que não saberemos quais foram as palavras ditas. Mas, após quinze minutos, finalmente ela surgiu, com os olhos cheios de lágrimas e pálida.

Lívia deu-lhe um forte abraço, beijou-lhe a cabeça e a recolocou novamente no espelho. — Adeus minha filha querida. Adeus minha querida Mariana. Descanse em paz.

A pobre Mariana sem entender o que estava acontecendo, sentada na cama, aguardava uma explicação de sua mãe.

Lívia perdeu sua primeira filha quando ela tinha 7 anos. A menina morreu afogada na praia. Desde então, decidiu que a próxima filha que nascesse receberia o nome da primeira, que era Mariana. E que a levaria à praia quando a menina completasse 7 anos. E assim foi feito quando Mariana nasceu. Após contar toda a estória para sua filha, Lívia abraçou-a, jurando que não iria perdê-la por nada no mundo. E as duas, então, decidiram que nos próximos reveions ficariam ali, no quarto, esperando que a outra Mariana aparecesse para que juntas, as três, fossem à praia comemorar a chegada do novo ano.

Copyright © 2011. Todos os direitos reservados ao autor. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
0
1 mil visualizações •
Denuncie conteúdo abusivo
AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
Maceió - AL

Membro desde Junho de 2011

Comentários