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A Casa do Silêncio e o Menino Francisco

Apaga-te, ó delicada chama! Apaga-te!

A vida é sombra passageira.

Um mísero ator que chega, agita a cena inteira,

Diz sua fala e sai. E ninguém mais o nota.

 (William Shakespeare, Macbeth).

 

ERA UMA VEZum garoto que foi esquecido em casa. Todas as pessoas da sua família foram para a praia e deixaram-no trancado, sozinho. Como a casa era muito grande, o garoto ficou morrendo de medo, porque o silêncio a deixava aterrorizante. Ela tinha cinco quartos, uma grande cozinha, um quintal enorme, uma sala bem grande e um corredor de causar medo a qualquer criança. Então, vamos ao conto da casa.

Enquanto o garoto estava na cozinha fazendo um lanche, ouviu uma voz vindo do corredor que chamava por ele. — Francisco... Francisco... Venha cá.... Quando ouviu o chamado, o menino tremeu de medo e rapidamente correu para acender as luzes do corredor. Mas quando olhou, não viu ninguém. Então voltou para a mesa e ficou esperando um pouco de coragem para encarar o seu inimigo.

Meia-hora depois, lá estava ele, andando pé ante pé pelo corredor, tentando chegar na sala. Quando estava quase perto, ouviu um chamado, dessa vez, vindo da cozinha: — Francisco... Francisco... Cadê você?? Mais do que de pressa Francisco correu e pulou no sofá. E ali ficou com as pernas tremendo de tanto medo que sentia. Afinal, quem era essa alma que o chamava? Por que quando a gente fica sozinho em casa começa a imaginar vozes? O silêncio às vezes é muito estranho, pensava o garoto.

Francisco rezava para que sua família chegasse logo, ou que notasse que ele ficou em casa. Se pelo menos sua irmã também tivesse ficado, já que os dois se davam muito bem. Mas não. Estava sozinho. E o que é pior, tinha uma voz na casa, que chamava por ele. Dez minutos passados e o menino conseguiu coragem para correr até o seu quarto. Chegando lá, tratou logo de fechar a porta, mas a voz não parou e veio da sala mais um chamado:

— Francisco... Francisco... eu sei onde você está... e vou até aí.... Não é possível que essa voz vá entrar no quarto, pensou ele. Agora eu tô frito. Deitado na cama agarrou o travesseiro de que tanto gostava e começou a rezar. Mas como num passe de mágica o travesseiro também falou com o menino.

— Ei! Para de me apertar assim.

— O quê? Quem falou? Será a voz que já entrou no quarto?

— Não, seu moleque medroso! Sou eu, o seu travesseiro. Você não tem vergonha não? Tão grande e tão medroso. Amanhã vou contar para todas as almofadas da casa que você é um menino covarde.

— Mas como pode você falar? Você é feito de pano.

— É claro que posso falar. Do mesmo jeito que um garoto como você pode ter medo de uma voz fraquinha dessa.

Agora já sei por que os travesseiros são sempre batidos ou servem para guerras de travesseiro, é porque eles são muito chatos. Mas voltando ao silêncio da casa.

— Venha cá! Entre aqui embaixo, que você se protege, disse o lençol do menino.

— Ufa! Enfim alguma coisa que quer me ajudar. Dizendo isso, correu e se escondeu embaixo dele. Mas a voz que pensávamos que tinha sumido falou novamente: — Francisco... Francisco... estou aqui na porta e vou entrar. Essa foi a coisa mais tenebrosa que o garoto já tinha ouvido em toda a sua vida. Ele não queria encarar uma alma de frente. E agora o que fazer? Enfrentar o medo ou ficar ali e esperar que chegasse alguém? O menino escolheu a segunda opção, e ficou bem quieto, embaixo do lençol.

Passados mais dez minutos de silêncio, o garoto pensava que finalmente a voz tinha ido embora, mas ouviu um barulho vindo da porta: toc! toc! toc! — Abra aqui! toc! toc! toc! — Você não pode fugir! Como escapar dessa perseguição? — Morar em casa grande é uma péssima ideia. Quando eu crescer vou morar numa casinha bem pequena, aí não vou mais passar por isso. Mas as batidas cresceram e cresceram até que pararam. Francisco criou coragem e colocou a cabeça para fora do lençol, bem devagar, mas não viu nada. — Será que a voz se foi?? Será? É melhor ficar aqui, embaixo do cobertor mais um pouco só para garantir, disse ele. E lá se foram mais sete minutos.

Quando finalmente Francisco resolveu que iria sair do quarto, sentiu uma mão tocar na sua cabeça. — Aí meu Deus, agora eu vou me borrar todo. A alma me pegou. Ela entrou no quarto. Ele ficou imóvel, enquanto sentia aquelas mãos percorrem a sua cabeça, tocar no seu rosto. Aquelas mãos finas, suaves e macias. Com certeza seria uma alma feminina. A alma começou a puxar o lençol de cima do garoto, quando de repente todas as luzes da casa se apagaram...

Um profundo silêncio tomou conta da casa. A energia teimava em não voltar. Passaram-se um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete minutos, até que finalmente voltou a energia e todas as lâmpadas, como num passe de mágica, acenderam. Mas a mão, não estava mais sobre a cabeça do Francisco. Onde foram parar aqueles dedos finos e macios? E a voz?

Porém uma voz vinha de detrás da porta do quarto, e não era aquela que chamava por ele, e sim uma risada, como se alguém estivesse muito alegre, contente. Francisco foi observar bem calmamente, pois poderia ser a alma tentando lhe pregar mais um susto, mas quando abriu a porta... lá estava ela. Rindo até não poder mais. Caindo no chão de tanto rir. E não era alma nenhuma não, era a irmã sapeca de Francisco que também tinha sido esquecida e pregou uma peça nele, afinal Francisco era o travesso da casa, aquele que gostava de aprontar com todos. Mas dessa vez parece que o feitiço virou contra o feiticeiro.

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AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
Maceió - AL

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