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A Menina que gostava de Ler e Imaginar

Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca

Só quando, em vez de criar seca.

(Fernando Pessoa)

 

ERA UMA VEZuma linda menina que adorava ler, só que essa criança, após suas leituras, começava a imaginar a estória, e tudo parecia saltar da sua mente e criar vida.

Como seu pai era um apaixonado por leituras, sempre trazia livros e mais livros para ela. E assim foi criada uma linda relação entre a garota e os presentes que ganhava. Bastava o pai chegar do trabalho que ela corria para ver se ele trazia alguma novidade. As outras meninas que moravam na mesma rua ficavam com raiva dela, porque ela nunca saía para brincar e preferia ficar trancada no seu quarto, lendo aquelas lindas estórias de contos de fadas, monstros, romance, aventura...

Um dia, enquanto estava lendo as aventuras de Peter Pan, sentiu o livro pular de suas mãos e cair no chão. Quando o foi pegar, Julia viu uma figura saltar para fora da página. — O que tá acontecendo?, pensou a menina. Mas a curiosidade foi maior do que o medo e, então, ela se aproximou da criatura, não acreditando que era ele. O próprio Peter Pan estava no seu quarto. E, como sempre muito educado, se apresentou e sentou-se, chamando-a para conversar um pouco.

— Qual é o seu nome minha jovem?

— Meu nome é Julia. E você é mesmo o Peter?

— É claro que sou. Vim da Terra do Nunca para te convidar para irmos até lá.

— Mas não posso. Como vou sair assim? Como vamos entrar no livro?

— Não se preocupe. Isso é com a Sininho. Ela tem um pó mágico que vai fazer você voar. Então, você vem ou não?

— Acho que não posso perder essa oportunidade de conhecer a fantástica Terra do Nunca.

Então, Sininho jogou seu pó e os três entraram no livro. E durante horas e horas a menina voou com seu querido Peter Pan. Ela conheceu todos os lindos lugares da Terra do Nunca e os meninos que moravam com o Peter. Também viu o navio do Capitão Gancho e seus marujos. E é claro que não podia deixar de ver o Crocodilo que tem um relógio na barriga. Aquele que faz o Capitão morrer de medo.

Mas já havia passado muito tempo e com certeza seus pais estavam à sua procura.

— Peter, eu quero voltar. Meus pais devem estar preocupados comigo.

— Tudo bem Julia. Eu vou te levar.

Então, todos se despediram da menina e mais uma vez Sininho jogou seu pó e os dois voaram e voaram...

— Acorda minha filha! Acorda Julia! Era sua mãe chamando. A garota tinha caído no sono.

— O quê? Cadê o Peter? E os meninos?

— Você estava sonhado. Meu anjo, sua imaginação é muito fértil.

— Não mamãe. Eu estava na Terra do Nunca. O Peter veio aqui e me levou até lá. E nós voamos e voamos, durante horas e horas.

— Está bem, minha querida, a mamãe acredita em você. Agora vamos comer alguma coisa.

— Vamos. Eu tô morrendo de fome. E assim, as duas saíram do quarto e foram para a cozinha fazer um belo lanche.

À noite, quando o pai de Julia chegou do trabalho, trazia mais uma surpresa para ela. Mas nós já sabemos que era mais um livro.

— Filha, cadê você? Tenho um presentinho. Correndo mais que depressa, a menina foi abraçar seu pai.

— Aqui está o seu mais novo presente. Tenha muito cuidado com ele.

— Nossa papai! Este é bem diferente dos outros.

— Esse se chama Vidas Secas. Leia com bastante calma e atenção. Essa estória é muito bonita.

— Você é muito legal papai, eu te amo. Vou começar agora mesmo.

— Filha, você nem acabou de jantar, disse sua mãe. Assim você vai ficar fraca, e fraca não dá para ler. Venha! Termine a janta, e depois você sobe para o seu quarto.

A menina comeu tudo bem rapidinho e correu, subindo as escadas, em direção ao quarto. Chegando lá, foi logo rasgando o embrulho e folheando as páginas. Aquele tinha muitas letrinhas e iria demorar um pouco mais que os outros para terminar, mas ela não tinha medo de ler. Na verdade, adorava. A leitura a transportava para um outro mundo. Um mundo de magia, sonhos, fantasias. Tudo que as crianças adoram.

Mas aquela estória não falava de magia ou de aventura. Não do jeito que ela encontrava nos outros livros. Aquela, falava sobre uma família que andava pelo sertão, em busca de moradia, emprego e felicidade.

Ela pensou: Essa estória parece tão real. Eu vi ontem na TV uma família assim. Será que esse livro saiu este ano? Mas quando olhou na capa de trás, viu que já fazia muito tempo que tinha sido escrito. Esse escritor era muito inteligente. Ele conseguiu escrever uma estória que aconteceu muitos anos depois. Nossa!! Agora fiquei com mais curiosidade.

Passados sessenta minutos, ela já sentia um leve cansaço nos olhos.

Acho que preciso dormir um pouco. Mas assim que acordar eu termino...E então Julia dormiu e começou a sonhar.

— Ei menina, acorda! Onde está sua mãe?

— Quem é a senhora? Onde estou? Tá muito quente aqui.

— Eu sou Sinhá Vitória. E você está na minha casa.

— Como? Você é a mulher do livro? A mulher do Fabiano?

— Sim.

— E cadê os meninos? E a Baleia?

— Eles estão brincando lá fora. Por que você não vai lá e fala com eles?

— Nossa! É verdade mesmo. Ei! Menino mais Velho e Menino mais Novo, deixa eu brincar com vocês?e os quatro (as três crianças e a cachorra Baleia) brincaram durante toda a tarde no alpendre da casa.

No cair da noite, chega Fabiano da roça e não consegue entender a estória que Sinhá Vitória lhe conta. Mas não se importa, e vai tomar um banho para jantarem. Após o jantar eles se sentam na porta de casa para ouvir Fabiano contar estórias de trancoso. Meia-hora depois, as crianças já estavam com sono, e Sinhá Vitória as colocou na cama. Enquanto dormia, Julia sonhava com uma voz que chamava por ela. A voz parecia bem distante, mas foi aumentando e aumentando, até que a menina abriu os olhos e viu sua mãe sentada na cama, ao seu lado.

— Sinhá Vitória? É a senhora?

— Não meu bem. Sou eu, a sua mãe. Estava sonhado de novo, né?

— Era. Eu tava na casa da família do Fabiano. E brinquei a tarde toda com os meninos e a Baleia. Ela é muito alegre e brincalhona.

— Tudo bem filha. Agora durma e descanse. Amanha é dia de ir para a escola.

— Boa noite, mamãe.

— Boa noite, meu anjo. E bons sonhos...

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AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
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