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O Menino e a Rua Escura

Não sei onde estou indo

Só sei que não estou perdido...

(Renato Russo)

 

ERA UMA VEZdois irmãos que adoravam contar estórias. Eles ficavam até tarde da noite contando fábulas. O mais velho chamava-se Hugo e o mais novo Tiago. Hugo sabia contar os fatos como ninguém. Tinha um talento ímpar para juntar as palavras e dar vida aos personagens.

Um dia... Ou melhor, uma noite, enquanto se divertiam com suas estórias, Hugo resolveu contar a estória do Menino e a rua escura.

— Acomode-se bem Tiago, que eu já vou começar, disse o garoto.

Era uma vez um menino que morava com os pais numa casa velha, que ficava numa rua bem escura, perto de um lago. Um dia os pais do menino o mandaram ir até a cidade comprar leite e pão para o jantar. Como o dia já estava caindo, o garoto resolveu caminhar rápido, pois da sua casa até a cidade era um pouco longe.

Enquanto caminhava, pensava em coisas alegres, para não ficar com medo, pois estava sozinho e a noite iria surgir a qualquer momento.

Meia-hora depois, já estava tudo escuro. — Calma, Heitor, dizia ele, para ele mesmo.Você é corajoso. Ande rápido que você chega logo. E Heitor seguia pelas ruas, andando cada vez mais rápido e mais rápido.

— Nossa! O Heitor está demorando muito, dizia sua mãe. Mas o pai não parecia estar nem um pouco nervoso. Ele continuava a fumar o seu charuto, com toda a calma do mundo. E sempre dizia: — Calma mulher! Já já ele chega. Deixe de preocupação!

         Na volta para casa...

Quanto mais o menino caminhava mais escura ficava a estrada, até que entrou numa rua totalmente negra. Não havia nela nenhum poste. Nenhum tipo de iluminação. — Ai meu Deus! Que rua é essa? Eu nunca passei por aqui. Será que me perdi? O menino estava totalmente desesperado. Ele não deveria ter feito esse mandado. E logo quando o dia já estava escurecendo. Essa foi uma péssima ideia!, pensou. Mas era tarde para arrependimento e tinha que chegar em casa logo. Sabia que sua mãe já estava apreensiva com toda essa demora.

— O que foi Tiago? Você está com medo?

— Não. Pode continuar a estória.

— Fale a verdade. Se estiver, não conto mais nada para você. A sua cara está parecendo a do garoto da minha estória. (Risos)

— Pode continuar. Eu não tô com medo, não. E, então, Hugo seguiu em frente com a narrativa.

— Deixe eu ver onde parei.... Sim!O garoto teve que passar pela rua escura. E tentou não pensar em nada enquanto a atravessava. Era tarde demais. Ele já estava imaginando coisas: via um gato todo deformado por trás da lata de lixo. Olhava para cima e enxergava morcegos, de cabeça para baixo, olhando para ele. E o que é pior, tinha a sensação de que alguém o estava seguindo. Essa era a pior das ideias saídas da sua cabecinha.

Então começou a correr e correr... E quanto mais corria mais sentia que a pessoa se aproximava. A cada passo, a cada fôlego, a cada respiração, ficava cada vez mais angustiado, mais trêmulo. Até que sem forças parou.

Não consigo mais dar nenhum passo, vou enfrentá-lo,pensou. É agora ou nunca.

Mas não tinha nenhuma criatura atrás dele. Era sua imaginação, que estava lhe pregando peças. — Ufa! Não tem ninguém aqui. Menos mal.

Dobrando a esquina e saindo totalmente da rua, o menino respirou aliviado. E só para garantir, deu uma olhada para trás. Por que ele fez isso?? Uma mão acenou na sua direção. Uma mão branca e seca. Parecia ser feita apenas de ossos, sem carne alguma. Imediatamente o garoto voltou a correr, agora com plena certeza de que aquela mão iria segui-lo. E disparou sem olhar para trás. Correu, correu, correu... E novamente cansou. Mas dessa vez, aquela mão não estava acenando de longe para ele, ela estava bem atrás, esperando apenas que ele virasse para meter-lhe um belo susto. E quando o garoto olhou para o lado, viu alguns dedos agarrados no seu ombro. E sentiu uma voz rouca dizer baixinho no seu ouvido: — Agora você não me escapa, seu moleque medroso.... (risos).

— Por que você só sabe contar estórias assim, me assustando?(interrompeu Tiago).

— Calma meu irmãozinho. É assim que são contadas as melhores estórias. Quem conta, tem que colocar verdade nos fatos, para que os ouvintes acreditem em cada palavra. E você ficou com uma cara bem engraçada, quando eu botei a mão nas suas costas, e falei no seu ouvido.

— Mas eu quero saber o que aconteceu com o garoto. Ele chegou em casa ou não?

— Está bem. Vou terminar.

Ao ver aquela mão e sentir a respiração, o menino ficou petrificado. Não conseguia sair do lugar. Estava paralisado de tanto medo. E a voz falou-lhe novamente ao ouvido: — Corra! Corra! Que estou bem atrás de você. Sou uma alma que gosta de correr atrás de crianças e te seguirei até a sua casa... agora vá! Corra bastante e não olhe para trás.

Ao ouvir essas palavras, as pernas do garoto começaram a se mexer e ele começou a correr tão de pressa que em vinte minutos estava na porta de casa, cansado e com o coração batendo bem rápido, que parecia que sairia pela boca a qualquer momento. Sua mãe abriu a porta da casa e o colocou para dentro. Logo estavam os três, na mesa de jantar, ceando. Mas, antes de se deitar ele contou tudo o que tinha acontecido para sua mãe. Ela, como todo bom adulto, não acreditou, e disse que era uma ótima desculpa para o atraso.

— Viu Tiago. Como eu sei contar estórias.

— É. Você é muito bom mesmo. Agora deixa eu contar a minha, certo?

— É claro. Pode começar.

— Então lá vai....

Era uma vez uma menina que se perdeu da mãe num parque de diversões e após alguns minutos...

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AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
Maceió - AL

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