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O Quarto e o Quadro

É preciso amar as pessoas

Como se não houvesse amanhã.

(Renato Russo)

 

ERA UMA VEZum quarto bem escuro e cheio de pó. Nesse quarto havia uma escada que levava a um sótão.  Ninguém tinha coragem de ir até lá arrumá-lo. Esse quarto ficava na casa da família Silva.

Os Silva tinham dois filhos. Uma menina que se chamava Lanis. E um garoto chamado Renato.

Enquanto os pais trabalhavam durante todo o dia, eles ficavam em casa trancados. Embora fosse quase todos os dias uma empregada para cuidar da casa, ela não tinha coragem de limpar aquele quarto. E os pais já tinham avisado:

— Nunca! Mas nunca mesmo, Lis, entre naquele quarto. Ele está trancado há muito tempo. Nossos pais pediram para que não fosse aberto. — Você entendeu?!A moça, sem coragem de responder, apenas balançou a cabeça fazendo o gesto de positivo.

Um dia, enquanto os pais estavam tomando o café da manhã para irem trabalhar, os irmãos foram até a porta do quarto e ficaram parados, olhando e imaginando o que existiria atrás daquela porta.

— E aí! Vamos entrar, disse Renato.

— Acho melhor não, respondeu a bela Lanis.

— Que isso! Deve ter alguma coisa muito valiosa aí dentro, retrucou o menino.

— Já chega! Vamos voltar para a mesa, finalizou a irmã. E assim eles voltaram para a sala, onde seus pais já estavam à sua procura.

— Ei Filhotes! Onde vocês estavam?Falou a mãe Margareth.

— Estávamos na cozinha mamãe, respondeu o esperto garoto.

— Está bem. Agora vamos tomar café, porque nós já estamos atrasados. Já já chega a Lis. Não a perturbem, está bem?

— Sim, responderam juntos.

— Assim está melhor,falou o pai, o Sr. Silva.

Após cinco minutos chegou a Sra. Lis. E então, o pai e a mãe foram para seus respectivos empregos, de onde só voltariam no final do dia.

— Venham cá os dois! Vamos fazer um acordo,chamou Lis. E quando os três estavam frente a frente, ela falou: — Podem brincar durante todo o dia, em qualquer lugar, menos perto daquele quarto. Acho que vocês já devem saber o porquê. Estamos de acordo? Os dois se olharam e responderam que sim. — Assim é bom! Fico mais sossegada. Vão lá pra fora brincar, vão! E eles foram...

Durante toda a manhã eles brincaram, correram, pularam, gritaram, até que já era hora do almoço, e, então, foram correndo para dentro de casa.

Já na mesa, Renato olhou para Lanis e a convidou para brinca de pic-esconde, após descansarem a comida. É claro que como uma criança esperta Lanis topou na hora. Ela disse que mal via a hora de começarem a folia pela casa.

Quarenta minutos após o almoço, lá estavam eles correndo pela casa, se escondendo e procurando um ao outro. Mas e o quarto? Vocês já devem está se perguntando. Calma! Ele já vai entrar na nossa pequena fábula...

— Renato onde está você?Gritava Lanis. Responda! Lanis já tinha procurado por toda a casa e nada dele. Já tinha chamado até a Lis para ajudá-la. Mas nada. Nada. Onde estava o menino? Sim, ele tinha entrado no quarto. Renato tinha bolado essa brincadeira justamente para entrar lá. Ele era muito curioso, e quanto mais seus pais diziam que não era permitido ir naquele lugar, mais ele ficava curioso.

Com bastante calma, ele desceu a escada, até chegar ao sótão. Era um lugar empoeirado, frio, escuro. Acho que ninguém vem aqui faz muito tempo, pensou. Vou aproveitar e tentar descobrir que segredo é esse. Enquanto ele estava procurando uma vela, lâmpada ou qualquer coisa que iluminasse o lugar, ouviu a porta se fechar. — E agora? A porta só abre por fora. Realmente Renato estava encrencado dessa vez...

— Achei! Achei!Renato finalmente encontrou uma vela. Parecia muito velha, mas serviria. Agora vamos embarcar nessa aventura. Ele procurava e procurava e só encontrava coisas velhas, móveis antigos. — Onde estará o segredo? Onde?

Um barulho num canto fez o sangue do menino esfriar. O que seria aquilo? Sim, meus amigos, era algo que Renato jamais tinha visto. Era um quadro com pinturas humanas. Havia duas pessoas retratadas nele: um homem e uma mulher. — Quem seriam? Por que guardar esse quadro a sete chaves? Renato não fazia a menor ideia, mas logo saberia por que não deveria ter entrado ali.

Ele jogou o quadro no chão e começou a pensar em como sair dali. Já estava cansado de procurar e não achar nada de interessante. Porém, ao dar as costas, sentiu alguém tocar-lhe no ombro. Essa mão estava fria, mas tinha carne. Não era feita apenas de ossos. Achando que era sua irmã ou Lis, ele se virou. Não deveria ter feito isso. Parados na sua frente estavam as pessoas do quadro: O casal. Renato não soube o que fazer ou dizer, apenas ficou olhando sem acreditar no que estava vendo. Mas estava vendo. Então, mais do que depressa largou a vela, e saiu correndo, tentando encontrar o caminho de volta. Como conseguiria, com tudo escuro?

— Não vá garoto! Volte aqui! Você nos libertou, e agora vamos ficar do seu lado, sempre. Era o que diziam as figuras saídas do quadro.

— Não é possível. Eu só posso estar imaginado coisas. Fantasmas não existem. Todo mundo sabe disso. Cadê a saída!? Cadê!? Ela deveria estar aqui. Cadê aquela escada!?

Cansado de procurar e não conseguir achar a escada, o menino desistiu e se sentou, tremendo de medo, sem saber onde estariam os fantasmas. — Agora seja o que Deus quiser. Não posso ter medo. Ao dizer isso sentiu uma respiração vinda pelas suas costas, e resolveu se virar. Era o casal de fantasmas, que dissera: — Nós não vamos lhe fazer mal nenhum. Apenas queremos que você nos ajude a sair daqui. Queremos ser livres, assim como você. Renato, apesar de estar com medo, sentia que havia verdade nas palavras dos espectros. Então, ele finalmente abriu a boca e falou: — Vou ajudar vocês. Mas primeiro me ajudem a encontrar a escada, preciso falar com a minha irmã. Ela vai saber o que fazer. Os fantasmas ajudaram-no a sair do quarto, mas, antes, ele teve que prometer que voltaria.

Já em seu quarto, com sua irmã, Renato explicava o que tinha acontecido. Ela, como sempre, custava a acreditar no irmão. Mas após longos minutos de conversa, decidiram voltar ao local e libertar o casal. Porém, Lanis estava com uma pergunta na cabeça: por que o casal de fantasmas não saia voando? Era tão simples. Só que chegando no sótão eles disseram que o quadro os mantinha presos. Alguém que morou naquela casa há muito tempo os tinha prendido no sótão, e eles ficaram durante muito e muito tempo presos. Havia apenas uma pequena moldura em branco, vazia, que com o tempo foi absorvendo a imagem do casal. Foi assim que eles, após morrerem, transferiram seus espíritos para aquela moldura, e se transformaram em um quadro.

Após a explicação, a menina Lanis começou a pensar numa forma de libertá-los. Mas faltava saber como. E ela, sem vacilar, foi logo perguntando:

— Digam! Como libertar vocês dessa prisão?

— Vocês têm que levar o quadro até a luz do sol. Somente a luz do dia pode queimar a imagem e libertar os nossos espíritos.

— Mas hoje não dá mais. Já é quase noite, disse o menino.

— Tem razão, responderam. Mas prometam que amanhã vocês darão um jeito de nos libertar.

— Sim. Nós faremos isso. Fiquem calmos. Essa é a última noite de vocês aqui nessa prisão. E os dois irmãos voltaram para cima, enquanto o casal voltava para o quadro.

No dia seguinte, às onze horas da manhã, enquanto a menina ficava de olho na Lis, Renato foi até o quarto, desceu a escada, pegou o quadro e subiu correndo, para realizar o desejo de liberdade dos espectros.

Enfim juntos, os irmãos foram para frente da casa, e lá colocaram o quadro virado para o sol. Quando a luz o tocou, uma fumaça começou a se formar. E Lanis não pôde mais segurá-lo, com medo de se queimar.

— Veja Lanis! A fumaça está levando o casal embora.

— Sim. Estou vendo. Acho que estão subindo para o céu.

— É. Eu também acho.

— Vem! Vamos entrar e brincar mais, enquanto nossos pais não chegam.

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AdrianoRockSilva ESCRITO POR AdrianoRockSilva Autor
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