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Táticas do combate de rua - alguns poemas

 

Iniciemos o combate:

Dance como um bailarino

no centro da praça da Faculdade

não ligue para os olhos incompreensivos

de que nada conseguem compreender

confia apenas nos atenciosos eucaliptos

em suas almas tão surradas

 

 

ainda há tempo de poder voar

sentir os sonhos afagando os cabelos

 

 

debaixo do braço: haroldo de campos

na mente efervescente: drummond

e para completar o balé

o surrealismo de jorge de lima

despejado ao ar

 

 

preste bem atenção em si próprio

não se esqueça que a loucura é uma arma irreversível

aquele que for capaz de abraçá-la

irá entender o que é vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sê diferente enquanto há tempo

o próprio tempo não irá percebê-lo

 

 

finja ser uma rosa

uma rosa tipicamente rosa

que já não se vê mais nas praças

 

 

desperta-te para o infinito da beleza

mesma que ela seja fugaz

não tenha medo do passeio no Jaraguá

 

 

desafie o pau-de-fogo mal-intencionado

ilumina-te os próprios passos

sobre os paralelepípedos felizes

porém, quando for dormir, durma com temor

porque senti-lo te tornará mais humano.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Devemos esquecer as más línguas que banham as ruas?

Por quê?

Para cada poste luzente

um poeta feito

feto? Mais que fato

 

 

um poeta, mesmo de versos ruins

que os doutores tanto odeiam,

já é história, motivo de quebrar fronteiras,

ou literatura...

 

 

que os vagalumes o expliquem

com sua calmaria mansa e redondamente calma

 

 

um dia, as cigarras insolentes, que povoam os galhos secos de tua vida,

irão compreender todos os cantos

 

 

agora sabemos: não pode existir canto bom ou ruim

porque tudo é dor

e quando não, a coragem de vivê-la.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

pense

mas pense esconsamente

existe uma janela e através dela a vida

em cada orquídea

em cada pinheiro

em cada folha verde, e até mesmo na pedra

 

 

acredite, nela sobrevive o fungo, em doce harmonia,

sem mexer com o desconhecido

sem dores de cabeça para decifrar

ele vive, anonimamente, como extintor

que só despertará de seu silêncio

quando a bomba não mais respirar

 

 

que é a bomba? o fulgor de uma rosa transtornada

o choro em risco de um vinil arranhado

a vitrola esquecida no porão

as velhas alpercatas desprezadas no baú de folha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

tudo que ponha fogo no ostracismo republicano

 

 

comece apregoando versos subversivos nos pontos de ônibus

nas portas dos supermercados

desadormeça as estrelas e a lua

acorde tudo que for inanimado

 

 

piche nos muros a grande arte

com arte

 

 

dê outra cor a cidade

componha um verso ruim a cada quinze minutos

para enraivecer a crítica muda

grude nos postes cada letra que faz de um homem

um poeta

 

 

maiakóvski, guerreiro, drummond, tudo de bom,

moliterno, mestre, sidney wanderley, poeta,

luiz alberto machado, bichim onde estás tu,

arriete, coração desfiado em poesia,

pablo, a revolução...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

antes de pôr os pés na rua: medite

 

 

lá fora o espreita as forças do esquecimento

por isso arma-te com o melhor verso

carregue dentro da tua mochila rota os grandes nomes

mesmo que te pese o mundo

 

 

és forte e único e por que temer tais forças?

nada neste universo resistirá à imortalidade poética

o caráter é tua roupa, agora, como quem vai discursar, recitar ou orar,

as pernas foram feitas para correr, seguir o próprio vento,

para saber onde ele se esconde depois que anoitece

as mãos, para sentir o calor de outras mãos

para aprender o que o mestre tem a dizer

 

 

corre, agora, a platéia o aguarda ansiosa

leva o pouco que sabes da verdade

e despeja nas mesas faraônicas dos mentirosos da Assembléia

 

 

prepara-te para a guerra das linguagens

a linguagem contra a irracionalidade do chumbo

nada de vírgula nem ponto

entre tu e a multidão

 

 

furte a mais bela bromélia, pode ser qualquer flor,

sendo a mais bela,

depois diga na televisão

que acabou de alegrar um triste coração.

 

 

 

 

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Fábio dos Santos ESCRITO POR Fábio dos Santos Escritor
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