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Pra quê falar?

Pra que falar? Se não há interesse em me ouvir, o que querem é uma satisfação, e sinceramente satisfazê-los com as verdades que tenho pra contar é praticamente impossível.

Eu achava que viver era mais fácil, no entanto é a tarefa mais árdua que existe, porque não há mais pessoas simples, existem seres vestidos de humanos pra lá e pra cá, e é quase como uma profissão viver em função de entrar na vida dos outros pra não ser bom.

Dei-me conta que estou cansada, mas não posso nem mesmo me permitir cansar. Todo dia me pergunto quando a vida pára e começa a dar certo. Qual é o instante em que vou poder me cansar e admitir que estou apenas suportando estar viva?

Minha decepção antes de ser pessoal, é perceber ao meu redor as impossibilidades em coisas tolas. Achava que ter família tornaria as coisas mais fáceis, que ser de uma entidade religiosa me traria paz, que ter um namorado me daria um porto seguro, mas quer saber? Ao menos comigo isso não é assim, nem mesmo as amizades duram mais que um verão, e as pessoas que eu amo me trocam sem motivo algum. Pra que falar? Se vou dizer que os valores estão trocados.

Pra que falar? Falar sobre o quê? Quando há pré-conceito, não importa o que for dito, nunca será o que se quer ouvir. Essa porcaria de pré-conceito que arranca das pessoas o direito de acreditar em si. É isso que tenho vivido. Tiraram-me a confiança, me puxaram o tapete, deixaram-me perdida e sem vontade de acordar no dia seguinte.

Pra que falar? Se vou dizer que sei por que as pessoas perdem o controle e se matam, sei por que se drogam ou se prostituem, sei por que os templos estão cada vez mais vazios. Não! Deus não é ruim, e os caminhos não são bons. Mas o pré-conceito afasta as pessoas, põe palavras em suas bocas, omitem palavras que foram ditas, impedem que uns sejam aceitos por outros. Torna os seres vestidos de humanos reféns de seus próprios dogmas. Como seria muito mais fácil morrer, mas renunciar a vida assim deliberadamente é pecado e meu filho não merece crescer sem mim.

Se eu falar que gosto de mim, que meu bom caráter não foi feito em laboratório ou templos, que eu gosto de cuidar dos outros e nunca sabotaria o sonho de ninguém? Alguém acreditaria? Revolto-me ao ver tanta gente vestida de verdadeira, amável, longânime, mas apenas sob a condição de ser filho de Deus, mas são incapazes de receber pessoas diferentes. Odeio isso! Não odeio a Deus nem O culpo por nada, mas considero um fracasso não ser aceita por quem me gerou. Por isso fracassei como filha! Não escolhi ser uma pedra sem sentimento ou argumento sobre a vida. Dever-se ser tola, talvez prostituta para poder ter amigos homens, barganhar caronas na madrugada e usar roupas ridículas. Quem sabe mentirosa pra maquinar alguma desculpa ao telefone, também burra, desorganizada, certamente se eu não recorresse a um ser superior pra me ajudar a entender a vida. Quem sabe assim eu seria um modelo de filha perfeita. Mas não sou! Não consigo fingir que gosto, não admito fazer nada por fachada, não sei errar e gostar disso.

Odeio estar trancada no meu banheiro pra chorar de tanto não saber o que fazer na frente de meus semelhantes. Tenho vergonha do que eles pensam de mim. O pré-conceito, pior que cólera, já os cegou e os ensurdeceu. Contra isso não tenho força, vêem e ouvem apenas que eu não sirvo pra nada. Então, pra que falar? Se não há disposição em me entender. Entender que sou feliz quando canto, mas eles nunca me ouviram cantar, que me realizo jogando, mas eles não se misturariam pra me ver jogar. Pra que falar que amo um homem que não posso amar? Pra ser apenas julgada e não abraçada. Nego-me! Pois não estou a procura de mais problemas. Ao menos desse constrangimento eu me poupo de passar.

O que é viver? Se não um monte de dias cheios de barreiras a serem vencidas, onde um ganha e outro perde, um se apaixona e outro é ignorado, um tem dinheiro e outro não tem. Os meus dias estão passando sem paixão. Abri mão de tudo que gostava pra obedecer e sou a pessoa mais incompleta que eu conheço.

Graças a Deus eu criei um mecanismo em mim que silencia a vida, que me conforta sempre que preciso. Não sei explicar, mas consigo desligar meus problemas e desviar minha atenção, porém não se engane, estou sofrendo e se por acaso me encontrar e perguntar como estou responderei que estou mal.

Acho que poderia morar nesse banheiro. Quando me foi tirado o motivo de viver, qualquer metro quadrado passou a servir pra passar a noite, desde que não acabem as folhas de papel e a tinta da caneta afim de que eu possa desabafar.

Não vou obrigá-los a me aceitar, nem tão pouco explicar porque minha vida está fora do meu controle, porém não vejo nada demais em ser bem vinda. E agora o que fazer? Pra onde ir? Abro esta porta? Como me desfazer de tudo ou nada? Não consigo nem desabafar com alguém de verdade, é no papel que jogo toda minha tristeza Como deixar de não ser boa o bastante? Sinto que a vida finalmente parou, mas não tem a mínima intenção de mudar pra melhor. Parou pra me deixar confusa, dividida entre ser infeliz renunciando meus sonhos e realizar a vontade de outros, ou ser infeliz por fazer o que gosto e, no entanto ser condenada.

Não desejo a ninguém esse vazio profundo e é tentadora a vontade de sumir.

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Tanne Delamary ESCRITO POR Tanne Delamary Escritora
Maceió - AL

Membro desde Novembro de 2011

Comentários

Samara de Lima
Samara de Lima

Esse texto é sufocante e ao mesmo tempo de grande aprendizado! =D

Adrielly Mayla
Adrielly Mayla

olha muito interessante seu texto, realmente como sama falou é sufocante, mas te falo que para tudo existe uma luz, e que nada acontece por acaso, pois a vida é dessa foorma e acredito que tudo passa mesmo que demore, e me desculpas a intimidade de falar isso mais eu te digo que dessa foorma você está se maltratando falando assim de você... acredite no senhoor espere nele, Deus vê seu coração ele sabe que se passa dentro dele e sabe o tamanho da sua dor, e não pode por limites no seu amor porque ele sabe até onde vai todo pecador e terminando falando que lágrimas são suor de almas que lutam só, acredito nisso!