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Preencher os espaços

É estranho o amor, ou melhor, o jeito como ele chega. O amor vem aos poucos, sem fazer alarde, sem fazer barulho, e quando você menos espera é surpreendido com outra pessoa fazendo morada em seu coração. Aliás, amor também não se escolhe. Um vizinho, o melhor amigo, um estranho no ônibus, um colega de infância, um primo distante ou o vendedor da loja da esquina, não importa quem seja, quanto ganhe, a raça ou o nível intelectual, qualquer um pode entrar no seu peito e bagunçar toda a sua mente.

E o pior é a vulnerabilidade que dá. Alguém que você nunca imaginou começa a decifrar seus segredos, a desvendar seus medos e por mais que você tente não se envolver não consegue impedir que os muros que existem ao seu redor sejam derrubados tijolo por tijolo. Nem aquela armadura que você levou anos construindo serve para lhe proteger, pois esse alguém será capaz de ver por dentro desse amontoado de ferro e metal, decifrando todas as verdades por trás daquilo que você não diz.

Aos poucos o muro vai caindo, a armadura vai enferrujando e os segredos vão sendo revelados. Nesse momento você percebe: a sua vida não mais lhe pertence. É dele. Mesmo ele não pedindo, mesmo ele não fazendo muito esforço, você dá aquilo que é mais precioso: metade do seu coração e metade do seus pensamentos.

A partir desse momento, você começa a pensar nele cada vez mais e passa a desejar a presença dele com mais frequência. Você que sempre se orgulhou de ser moderna e que sempre riu das suas amigas, começa a ver aquelas coisas bregas de casais, tais como andar abraçados, ter apelidos engraçados, mandar mensagens, fazer declarações de amor, receber flores, dar de comer um ao outro, como gestos românticos e obrigatórios.

Os dias transcorrem, vocês seguem acreditando que vai ser eterno e que o amor de vocês irá durar para sempre. No entanto, num belo dia, ele ou mesmo você solta a tão temida frase (ou alguma coisa parecida): "O que eu sentia mudou. Vamos ser apenas amigos.". Por mais que o outro queira dizer que foi pego de surpresa, não adianta, pois os sinais estavam todos ali. O amor não muda de uma hora para outra, aos poucos ele vai se transformando em amizade, em raiva ou em decepção.

Nessa hora a metade que você deu ao outro vai fazer falta, o buraco que há no seu peito vai doer e as memórias que antes traziam alegria só vão servir para confirmar o que você perdeu. Entretanto, não adianta procurar culpados, gritar ou ameaçar. Quando o amor se transforma em um sentimento inferior só se pode escolher entre lutar, dando mais uma oportunidade para recuperar o que foi perdido, ou desistir, esperando que o espaço que ficou no peito seja preenchido com novas memórias.

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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

Membro desde Abril de 2010

Comentários

AdrianoRockSilva
AdrianoRockSilva

olá Iorgama. gostei bastante do seu texto. vc conseguiu ser ao mesmo tempo simples com as palavras e clara com o que vc gostaria de transmitir. assim são os bons textos. o mestre Graciliano Ramos afirmava sempre que a palavra foi feita para dizer e não para enfeitar. parabéns. abraços.