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BONECOS NA POLÍTICA

 

            Eu sou um boneco. Não boneco tipo bonecos de Olinda, porque aqueles são alegria; este, tristeza. Tristeza de ver tantas injustiças cometidas Brasil a fora. Descobri assim, sem querer, que sou um boneco da Educação. Eu sou um boneco, tu és um boneco, ele é um boneco, nós somos bonecos, vós sois bonecos e só eles é que não são bonecos. Eles são os malabaristas. Somos bonecos e a vida é um palco. Essa verdade é tão latente quanto é evidente que o sol nasce todos os dias. Descobri-me assim, de repente, não mais que de repente, que sou um boneco. Boneco tapeado, ludibriado, traído. Virei boneco, boneco diferente dos bonecos de Olinda. Boneco de pano, boneco de brisa, boneco de fuba. Boneco. Eu sou um boneco da Educação. Não ria, porque você nasceu para ser algo mais importante, mas virou boneco também. Um boneco não tem vontades, boneco obedece aos malabarismos e acrobacias de mãos adestradas; mãos vis, mãos nefandas, mãos insensíveis à causa patriótica e às causas do trabalhador. Mãos que mancomunam nas caladas da noite, em segredo, medidas contra o trabalhador, o verdadeiro trabalhador; contra aqueles que, de fato e de direito, realmente trabalham. Professor é boneco também. Bonecos dos Governos e dos Secretários. Boneco é escravo. Escravo nasceu para trabalhar e pagar suas contas. Trabalhar para divertir e engordar um público minoritário, formado pelos maus agentes da política brasileira e os mega-empresários. Pelos homens do comando. Homens maus, homens desonestos, homens indolentes, homens sem Deus. Homens traidores da consciência dos trabalhadores. Somos bonecos nas mãos de homens, daqueles homens que criam as leis, formulam decretos que acabam com nossos sonhos de verdadeira dignidade e cidadania. Vida de bonecos é a que levamos. Somos bonecos daqueles que derrubam as leis com decretos. Assim, de repente, não mais que de repente, descobri que sou um mamulengo, também conhecido como boneco, que fique bem claro isso. Não esqueçam que não somos bonecos de Olinda, somos bonecos de pano, de barro, de brisa. Impotentes e pagadores de impostos.

            Boneco não discute, contenta-se, cala-se, para não ser jogado. Boneco não institui o preço do feijão, do gás, da luz, do aluguel da casa. Boneco nasceu para ser manuseado, escrachado, chacoalhado, vilipendiado nas mãos de mãos ágeis e versáteis; mãos que elaboram o preço do gás, do feijão, da água e da luz. Mãos que despejam dinheiro às vésperas das eleições. E aos bonecos, nós, resta-nos obedecer. Se não, morre.

            Mas no teatro de bonecos que é o mundo, existem aqueles – e são a maioria – que acreditam que tudo vai muito bem nas “Mãos de Nosso Senhor”. E assim colocam Deus numa saia justa, como se Ele, o Soberano, fosse o culpado por todas as coisas feias e abomináveis que acontecem neste mundo. A maioria dos professores, infelizmente, são passivos e acomodados, verdadeiros bonecos de barro. Não reivindicam por seus direitos. Preferem assistir o Pé na Jaca a engajar-se em luta por direitos salariais legítimos e legalmente adquiridos. Enfiam literalmente o Pé na Jaca. Essa qualidade de bonecos são os mais omissos, pois ajudam a perpetuar esse sistema de coisas erradas, que o nosso Darcy Ribeiro, em sua obra “O Povo Brasileiro”, chama de “miopia social”.

            Existe o boneco de mola, aquele que vai e vem e não passa disso. Não sabe o que quer; existe o boneco de cera, aquele que se derrete todo diante de uma dificuldade; há também o boneco de vidro, que logo se quebra ao menor contato adverso. Existem os bonecos de barro. Mas, como toda regra tem exceção, existe o boneco de ferro, aquele que se rebela, que não aceita ser manuseado, aquele que entende das coisas e vê tudo com os olhos da crítica  e da contestação. Estes morrem logo cedo. Se não pelo desgosto da descoberta por não poderem fazer nada, se não pelos balaços de quem está incomodado com suas descobertas. Estes bonecos, provavelmente, solucionariam o problema do Brasil; mas, infelizmente, são a minoria das minorias das minorias. E como boneco de ferro, a ferrugem da impotência termina também por consumi-los. Precisamos de bonecos-diamantes ou bonecos-liga de carbono. As coisas mais sólidas que existem na natureza.

            Deixemos de lero-lero e continuemos, porque o show da vida sem esperanças já começou de novo, e as contas da Ceal e da Casal precisam ser pagas. A matrícula dos filhos ser feita, a prestação da Casa própria quitada, as dívidas do fim do ano pagas; mas... Com que dinheiro? Não podemos, enquanto bonecos, dar calote, pois seremos presos. Eles podem, nós não. Tenho a solução para isso: criemos escolas que ensinem o cidadão a ser homens de verdade, homens que primem pela dignidade e que honrem compromissos. Homens que não nos enganem. Homens que saibam legitimar direitos. O Brasil está farto de diplomas e pobre de virtudes. Vamos lá, precisamos representar nosso papel na sociedade: papel de bonecos. Vamos lá, tentemos criar escolas que ensinem valores, cidadania e dignidade. E não apenas as equações do 2° grau.

            Para terminar, gostaria de saber: Que tipo de boneco você é nesse show da vida? Em que palco para bonecos você é um boneco? Na Educação, na Saúde, na Segurança, na Igreja, na Política... Eu sou um boneco na Educação. Você é um boneco de mola, de vidro, de cera, de ferro, de liga de carbono ou de diamante? Ou prefere responder quando se desatolar do Pé na Jaca?

 

Erisvaldo Vieira

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Erisvaldo Vieira ESCRITO POR Erisvaldo Vieira Escritor
Palmeira dos Índios - AL

Membro desde Julho de 2012

Comentários

Ataniel
Ataniel

E que bonecos! Encontro-me nessa mesma situação, no mesmo palco, como boneco da Educação Brasileira. Acredito que continuaremos sendo por um tempo não determinado, isso se a gente não agir, não querer mudanças que melhorem as condições de trabalho, não priorize uma educação de qualidade, não meramente mais um "faz de conta". Agora, digam-me quem está apto a dá o primeiro passo? Eu, você, precisamos de mais voluntários, uma classe mais unida, justa, digna de respeito a futura geração, a nova sociedade construída por cidadãos como nós. Ótimo texto! Abraço!

Erisvaldo Vieira
Erisvaldo Vieira

Agradecido pela atenção dada ao meu texto, Ataniel e ADhemyr...

Ataniel
Ataniel

Agradecemos a você por nos dá a oportunidade de ler textos como estes. O tempo de ficar calados já se foi, agora é o momento de expressar o ar de liberdade. Abraço!