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Sua última chance, sua última dança

Sua última chance, sua última dança

De repente toda mágica se acabou
E na nossa casinha apertada
Tá faltando graça e tá sobrando espaço.
O teatro Mágico

 

            O último baile da escola estava terminando, ao fundo ouvia-se uma música antiga e conhecida: “Algo nos seus olhos me recorda o passado, algo no seu rosto não me deixa viver (...)”; vozes brincavam e cantavam ao mesmo tempo, namorados beijavam-se e dançavam seguindo o embalo...

             Ela esperava, próxima a saída, o carro que a levaria para casa, quando o viu saindo pela porta pela qual passara minutos atrás. Olharam-se à distância. Em um silêncio carregado de intensos sentimentos.

           O que será que ele viu quando a olhou?

            Talvez tenha visto uma menina brincando de ser mulher com sua roupa de festa e um brilho triste no olhar. Ou talvez tenha visto apenas uma mulher toda desarrumada, exausta, sentada próxima a saída do estacionamento.

           O que será que ela viu quando o olhou?

            Talvez tenha visto um menino de sorriso triste com sonhos grandes e que corria riscos como um guerreiro. Ou talvez tenha visto um homem que fora obrigado a escolher entre os sonhos e o amor.

            Ele a encarou por mais um momento e em seguida dirigiu-se para seu próprio veículo. Ela observou o carro entrar em movimento e parar próximo ao local onde estava sentada. Olhou-o, enquanto ele descia e abria a porta do passageiro para outra entrar. Doeu ao recordar que um dia fora ela quem havia segurado sua mão e que em os seus lábios havia beijado.

            Ele a fitou novamente. Quem sabe, adivinhando, que aquela seria a última vez que a veria. Olhou-a tentando guardar para si os seus traços e os momentos felizes pelos quais passaram. 

            E enquanto o coração dela dizia para ir atrás, que talvez ainda houvesse tempo para uma última dança, os seus pés recusavam-se a caminhar e em silencio ela o observou indo embora.

            Ele se foi. Uma lágrima escorreu do seu rosto indo em direção ao chão.

            Ela disse entre lágrimas: “Mesmo querendo estar no lugar dela, espero que ela saiba te amar. E sinceramente, espero que te ame mais do que eu”.

            Sua última noite havia chegado ao final, ao longe viu os faróis do carro do pai. Havia chegado a hora de dizer adeus. Iria embora da cidade e quem sabe um dia o destino não cruzasse novamente seus caminhos.

            O veículo parou, ela se levantou e olhando por sobre o ombro sussurrou um adeus silencioso a todo o passado. Ela sussurrou “eu te amo” ao seu menino sonhador.

            Entrou no carro, deu boa noite ao pai, respondeu algumas perguntas sobre o baile, encostou-se no banco, fechou os olhos e deixou-se levar para um mundo de sonhos, enquanto seu pai a levava para sua nova vida.

            Agora nada mais importa, sua última chance, sua última dança havia chegado ao final. A mágica se apagou.

 

 

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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

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