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As Filhas do Seu Rodrigues

Seu Rodrigues, alto funcionário federal transferido de Belém do Pará para Maceió na década de 60, trouxe a esposa Fafá e três filhas bonitas, Rosa, Hortência e Margarida, todas com nome de flor. Alugou um sobrado nos arredores da Praça do Centenário. Com pouco tempo fez amizade com homens importantes da cidade. Algumas figuras da política, do comércio e da justiça alagoana frequentavam sua casa. Autoridades civis, militares e eclesiásticas se tornaram íntimas da família.

Graças às estripulias de sua bonita e gostosa esposa e filhas, Seu Rodrigues, com pouco tempo estabelecido na nova cidade já era considerado o maior corno da capital.

Sua casa uma festa constante. Chegavam carros bonitos dos abastados, como também amigos das meninas colegas de escola, de clube e de praia.

Dona Fafá e suas diletas filhas tinham um comportamento bem avançado para aquela época. Enquanto as pudicas meninas da sociedade conservadora namoravam de mãos dadas, as filhas do Rodrigues eram dadas a outras traquinagens avançadas. Inventaram a moda do “ficar”. Não tinham namorados fixos, o primeiro a chegar tinha prioridade em arrastar para os cantos escuros, os becos do bairro do Farol, namoro em alta rotatividade. Os que tinham carro levavam vantagem. Cada filha tinha preferência, Margarida adorava militar.

Fabiano havia chegado de férias em Maceió. Fardado de tenente do Exército tomou um ônibus na Avenida da Paz para se apresentar no 20º BC. Quando parou em um ponto na Rua do Sol entrou uma moça de pele rosada, cabelos castanhos cacheados, decote chamativo. Olhou para os passageiros do ônibus, sorriu, dirigiu-se e sentou-se junto ao tenente. Com um risonho bom-dia iniciaram uma longa e alegre amizade. A partir desse dia Fabiano tornou-se assíduo frequentador da casa de Margarida.

Naquela época em Maceió havia o elegante Baile de Máscaras um mês antes do carnaval, na Fênix, o clube mais aristocrático da cidade. Só entrava no baile fantasiado ou de smoking. Os foliões geralmente tiravam as máscaras depois da meia-noite. Festa animada, bonita e tradicional, em benefício a um Lar de Menores, a seleção dos convidados era feita pelo preço salgado da mesa. Fantasias suntuosas, havia um empolgante concurso.

Alguns sócios da Fênix que eram também sócios frequentadores da casa do Seu Rodrigues perceberam numa mesa animadas odaliscas, era o harém do Seu Rodrigues, ficaram preocupados. Muitos casados, outros noivos, namorados. Foi um reboliço. Durante o animado baile, o carnaval pegando fogo, alguns senhores evitavam passar pela região de provável conflito árabe.

Certa hora um dos diretores foi conversar com Seu Rodrigues. Ele levantou-se. Discutiram um bom tempo no canto da parede.

Seu Rodrigues ao retornar à mesa, confabulou com a família. Foram se retirando sem chamar atenção. Negociaram a retirada do baile com direito a indenização da mesa, dos gastos com fantasias. Dinheiro oferecido e dado na hora por um magnata do comércio.

Foi uma alegria para certos senhores da tradicional família alagoana, dançaram o resto da noite com suas madames, aliviados.

Nos dias de sábado havia festas no sobrado do Seu Rodrigues. O jovem Ulisses não perdia, depois do praieiro encostava para o almoço, geralmente uma feijoada ou cosido. Dona Fafá adorava a conversa divertida de Ulisses, os dois se divertiam, comiam e bebiam a vontade.

Certa tarde logo depois de se refestelar um bom cosido, estômago pesando, Dona Fafá convidou Ulisses para descansar, dormir um pouco, depois continuava a festa. Ele aceitou, foi levado ao quarto do casal.

Dona Fafá trancou à chave, ficaram a sós no quarto. Ela o abraçou e iniciaram o trabalho predileto da dona da casa. Ulisses encantado, animado, entretanto, com certo receio, perguntou se não havia bronca com o marido, dormindo na cadeira de balanço da sala. Ela deu-lhe uma lambida no pescoço, não haveria problema. Recomeçaram os abraços. Quando estavam no bem bom, de repente, Seu Rodrigues bateu à porta gritando:

-“Vocês vão morrer! Vocês Vão morrer!”

Ulisses apavorou-se. Levantou rápido, tudo murchou. Tentava colocar as calças, pensando fugir pela janela, quando o maridão continuou.

-“Vocês vão morrer. Vocês são doidos! Não sabem que faz mal depois do cosido? Dá congestão! Cuidado!”

Ulisses teve um alívio e um ataque de riso. Continuaram a labuta, gostosa labuta.

Não se faz mais corno como antigamente!

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Carlito Lima ESCRITO POR Carlito Lima Escritor
Maceió - AL

Membro desde Abril de 2010

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