Pânico nas ruas de Maceió I
Pânico nas ruas de Maceió.
não andamos dois terços de cem passos
e já nos deparamos com sombras secas e esquálidas
tentamos vê-las nas vestes duma criatura humana
mas são bichos criados pela conjuntura.
uma mulher corre, em desespero, para não ser atingida pelo marido
e suas balas sórdidas.
um corpo estraçalhado no meio-fio às pedradas,
no alto a paz do azul somente perturbada por um risco indiferente
de um helicóptero que tem olhos esbugalhados.
ó que vontade danada de atirar em todos - talvez pensem aqueles olhos.
um CD pirata toca distante a porcaria do momento,
incitando ao sexo, às drogas e ao crime.
o vento solfeja a marcha fúnebre,
as águas do mar acordaram banhadas em sangue,
um terço da humanidade feneceu,
a cidade parece cambalear, sob o olhar dos turistas
que se interessam pelas desgraças dos povos que morrem
à miséria.
lá, tão distante, no centro do país, macaqueia-se e comemora-se as
novas aprovações, novas leis, enquanto os sobreviventes,
com vistas de palhaço assistem incrêdulos a felicidade pecaminosa dos poderosos.
corremos, desistimos de comprar pão, de volta para o lar, cercado de menores
que mais se parecem com criaturas das trevas,
nos bolsos de suas roupas pedras que endoidam e escravizam mentes,
fingimos que não vemos, procuramos as chaves de nossas casas, nervosamente, enquanto somos cercados
por aqueles monstros - monstros que os direitos humanos defendem em detrimento dos que são cidadãos -,
e vagarosamente adentramos naquilo que chamaríamos de lar se não sentíssemos prisioneiros.
lá fora já sentimos, as autoridades luminosas atirando no próprio pé, corruptos e incompetentes,
ó que vontade de fugir, mas para onde, se a desgraça está em tudo que é lugar?
Fábio dos Santos
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