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VIVER DE ARTE OU VIVER DA ARTE?

VIVER DE ARTE OU VIVER DA ARTE?
 
(Carta aos amigos artistas, especialmente aos que vivem DA música, DO teatro e DA dança)
 
 
 
Eu costumo definir as pessoas que têm envolvimento com as artes em três categorias: os que vivem “DE” arte (por amor à causa), os que vivem “DA” arte (pelo dinheiro que ela pode proporcionar) e os que entendem a necessidade do “DE” e do “DA” juntos, os que unem o útil ao agradável.
 
Minha explicação nada tem a ver com regência, apenas vou utilizar o exemplo a seguir para deixar clara a minha colocação:
 
1.Bolo DE chocolate – Quando alguém fala isso, você logo percebe que há chocolate em sua composição, em sua essência.
2.Bolo DO chocolate – Nesse caso, chocolate toma a forma de algo ou alguém que tem o bolo como propriedade. Chocolate seria o senhor, o patrão do bolo, aquele que dita as regras. O bolo poderia ser DO laranja, DO Baunilha, DO Morango… Chocolate não faria parte da essência do bolo.
 
Por que isso? É bem comum vermos músicos, atores, dançarinos… que têm em seu repertório linguístico a frase: “Eu vivo de teatro”; “Eu vivo de música”; “Eu vivo de dança”. Para a maioria desses artistas eu digo: “Não. Você não vive de arte”.
 
A arte, atualmente, é apenas vista como mais um emprego, como mais uma fonte de renda. Isso não é ruim, isso pode ser bom, mas infelizmente alguns artistas esqueceram que “fazer arte” vai além de tudo isso. Não é por que ele é detentor de alguma habilidade que faz arte. A arte tem por objetivo mexer com a consciência, despertar as percepções humanas que serão interpretadas de diferentes formas por diferentes pessoas. Há uma mistura na criação de percepções com emoções e as ideias.
 
Viver DE arte é ter a arte como algo seu, de sua essência, algo tão importante como o ar que se respira e que não há dissociação. É sentir-se bem criando, expondo, levando ao mundo suas propostas artísticas. É ter um, dois, três empregos, mas nunca abandonar as suas habilidades, nem que seja de forma indireta, porque sem isso, lembrando, não se vive.
 
Agora, viver DA arte, é ser uma sanguessuga de tudo que ela pode proporcionar. É ter o dinheiro acima da qualidade, acima da real intenção artística. É como ser refém, escravo dela, porque bem sabemos que nem a remuneração é tão boa assim para a maioria dos artistas. É não apoiar a sua própria causa, o seu próprio grupo, seus próprios ideais. É anular-se em prol do ideal alheio, porque alguém chamou para ganhar uns míseros reais a mais e o convite foi aceito.
 
Mas há algumas pessoas que conseguem lidar com as duas preposições. O que seria mais aceitável. Tem a arte como base fundamental de sua vida, bem como sabe a importância que as artes desempenham na cultura de sua região, no crescimento humano, na escola, nos lares… Só que entendem que precisam se sustentar e que podem extrair daí o alívio de suas contas. Mas nunca de uma forma selvagem ou bárbara. O mundo capitalista impõe isso, mas nós podemos dosar, tornar algo prazeroso como forma de nosso sustento.
 
Eu finalizo fazendo um apelo a todos que não respeitam a música, o teatro, a dança e as demais manifestações artísticas. Se querem viver DA arte, tentem pelo menos fazer isso de forma saudável, respeitando os limites, os amigos, compromissos, por que muitos acabam prejudicando seus pares pelo simples fato de querer desesperadamente mais e mais dinheiro. Fazer arte não é isso, porque o artista deixa de se preocupar com a estética, com a relação comunicativa que a arte pode proporcionar e prioriza o bem-estar do bolso apenas.
 
Tentemos fazer parte do terceiro grupo de artistas, aqueles que unem o útil ao agradável. Por isso eu reclassifico esse grupo como: VIVER COM ARTE. Sendo assim, pode-se ter qualidade, estar ao lado daquilo que faz feliz e pode suprir suas necessidades financeiras de forma honesta e louvável. Não seja mais um, seja alguém que faz a diferença no meio artístico. E fazer a diferença não é fazer apresentações de graça ou por preços abaixo da tabela, é trabalhar na sua produção artística de forma consciente e sensata de que fez um bom trabalho cobrando aquilo que se deve.


By Jabs Barros

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