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A RAINHA DA NOITE

Vanessa dirigia à beira-mar em direção ao laboratório, detestava levar agulhada, entretanto, precisava fazer exame de sangue. De repente lembrou, havia deixado o cartão de saúde em cima da cabeceira da cama, retornou para casa apressada, estacionou o carro, ao entrar no apartamento ouviu Murilo, o marido, falando ao telefone, parou para escutar, fechou a porta com cuidado.
- Meu bem, você sabe, lhe amo, só posso me encontrar com você pela tarde, é melhor, a Jararaca não desconfia. “Se você quer ser minha namorada... Ai que linda namorada você poderia ser... Se quiser ser somente minha exatamente essa coisinha... Essa coisa toda minha que ninguém mais pode ser... Você tem que me fazer um juramento. De só ter um pensamento, ser só minha até morrer...”
Parou de cantar quando um vaso espatifou-se em sua cabeça. Zonzo, Murilo soltou o telefone, assustou-se ao ouvir a gritaria de Vanessa louca de raiva.
 - Vá ficar com sua vadia, saía já dessa casa seu filho de uma rapariga, não quero você aqui, suma antes que lhe mate.
O marido sequer levantou a voz, não adiantava se defender, pela segunda vez foi flagrado, a primeira com a namorada no carro, agora flagrante audível, sem questionamento, medo da mulher, louca e traída, escafedeu-se com a roupa do corpo, tomava um hotel até as coisas de acalmarem.
Vanessa caiu aos prantos na cama, sem condições de fazer exame, por toda manhã chorou sozinha, reviu, reviveu sua vida, 24 anos de casamento, um filho, maior orgulho, estudando no Canadá. Entretanto, traição é imperdoável. A força do amor próprio reagiu a fera ferida, ela levantou-se, respirou fundo, tirou a roupa, só de calcinha olhou-se no espelho, 44 anos, corpo perfeito se não fossem algumas detestáveis celulites, era ainda muito atraente, muitos homens olhavam com desejo, algumas vezes havia sido cantada por belos homens, até mulheres, contudo, nunca admitiu traição, sempre fiel ao marido. Desconfiava de o marido não ser santo, entretanto, dessa vez, foi um flagrante, contundente, machucou, ainda martelava no ouvido, “a Jararaca”. Entrou no banheiro, uma hora de ducha morna ajudou ao reconforto. Almoçou, deitou-se na cama, o pensamento rodopiava, algumas amigas telefonaram, sequer deu notícia, nem conselho pediu. Pela tarde foi a uma loja chique, comprou três belos vestidos, decotados e sensuais.
Ao anoitecer telefonou a uma amiga, separada e vida torta, perguntou qual o melhor programa daquela sexta-feira. Antônia percebeu alguma coisa diferente, cúmplice e assessora do Diabo em sexo e amor Tonha convidou imediatamente a colega de repartição, encontro às 9 da noite num bar da Jatiúca, depois seja o que Deus e o Diabo quiserem, soltou uma gostosa gargalhada.
   Vanessa chegou às nove e meia, ao avistar Antônia numa roda de amigos acenou com a mão, dirigiu-se à mesa animada, sua amiga apresentou-a, os homens se encantaram com a jovem coroa, inteligente, bonita e recém separada como frisou com certa maldade Antônia. Foi uma noitada de alegria e muita farra, comedida na bebida Vanessa aproveitou toda noite, mudaram de bar, jantaram, terminaram numa boate da moda, dançando, cantando, paquerando, até o dia amanhecer.
Vanessa acordou-se ao meio-dia na cama de um companheiro de noitada, ele dormia, roncava. Ela levantou-se, foi ao banheiro, vestiu-se, saiu sem barulho e sem vestígio. Pegou um taxi para casa, nem triste, nem alegre, relembrou de toda noitada, fazer amor com um recém conhecido, experiência nova, vida nova, ainda desconhecida, não sabia o rumo a tomar, entretanto sabia, jamais voltaria para o esposo.
  No sábado voltou à balada, começava a gostar de ser solteira. Dois anos se passaram, Vanessa se sente feliz, tem emprego, ninguém para dar palpite, gosta da noite, sem compromisso, um ou outro namorado fortuito. Não gosta sequer de conversar com o ex-marido, nem cogita de casamento, pelo menos enquanto tiver fôlego para enfrentar baladas e for a rainha da noite.

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Carlito Lima ESCRITO POR Carlito Lima Escritor
Maceió - AL

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