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BERENICE: DA MERDA AO ESTRELATO (CAPÍTULO 01)

(O texto a seguir contém uma linguagem chula, coloquialismo, palavras de baixo calão e escatologia. Nem por isso deixa de ser interessante ou de oferecer algo proveitoso, nem que seja momentos de bom humor. Se você tem algum problema passado mal resolvido que envolva religião, política, preconceitos (sexismo, racismo, etnocentrismo, homofobia, heterossexismo, xenofobia) ou outros, esse não é seu lugar, pois aqui ninguém se respeita.)

 

CAPÍTULO 01

 

O título já denuncia o final da história, mas o que poucos sabem é como Berenice conseguiu ser uma mulher bem-sucedida. O que motivou essa guerreira a buscar mudanças em sua vida e se tornar destaque nacional nas maiores favelas do país. Ela é nascida e criada na favela, entende tudo acerca do assunto.

Era Natal de 2011, Berenice reuniu a família para assistir à filmagem do Natal de 2010, durante a ceia em família. Muitos já não lembravam o que aconteceu, porque durante a janta, a maioria já estava de cara cheia de álcool. Os que lembraram, inventaram uma desculpa para não participar novamente, mas na verdade, ficaram em casa comendo o resto do almoço enquanto assistia a algo na programação da TV.

- Não vai dar, prima. Hoje estou com uma “caganeira” terrível, acho que tinha algo estragado no feijão. – Disse uma das primas gordas de Berenice por telefone. – Vou ficar pensando naquele seu bolo com cheiro de ovo delicioso.

- Que pena, prima. Você fará falta aqui em casa. Principalmente se alguém quebrar algum copo, pois lembrarei que você quebrou a minha coleção de copos de extrato de tomate de uma só vez. Mas vamos comer pensando em você e nesse seu problema que entrará na oração antes de comermos. – Enfatizou Berenice com muito pesar.  

Desligaram. Apesar das divergências, Berenice tem uma família muito unida. Sua vontade sempre foi ter um ambiente harmonioso, mesmo sem condições financeiras e alguns dias da semana comendo cuscuz sem carne, ela se sentia uma pessoa feliz, pois tinha um marido que a amava muito.

E chegou o grande momento. Na casa de Berenice ainda se usa VHS, ela tem dificuldades em desvendar os mistérios do mundo tecnológico, porque a última vez que tentou usar um disco compacto, ela só queria usar o lado com desenhos, na cabeça dela, o lado B do disco. Não tocava. Depois de rebobinar a fita, finalmente o vídeo começou.

Uma das sobrinhas trouxe pipoca, foi a sobra do Cosme e Damião, já que ultimamente as crianças não estão comendo muito, porque dizem que dá dor de barriga, que Deus não aprova e blá blá blá. Mas quem não cresceu entrando na fila da pipoca? Berê, como é conhecida Berenice por seus familiares, não tinha problema com religião.

O vídeo começa mostrando a entrada de Januária, prima bem distante, que odeia Berenice. Na verdade, maior rival. Desde pequena, Januária tinha inveja de tudo o que cercava Berenice. Dos namorados, das amigas, dos pais, etc. Certa vez, ela saiu descalça na chuva, percorreu a favela procurando pessoas que tinham gripe e abraçava incessantemente a todos. E quando chegou em casa, chupou toda uma cuba de gelo. Tudo isso por saber que Berenice estava gripada e queria ficar também.

- O convite foi tão em cima da hora que mal pude comprar um presente do seu nível. Daí, trouxe apenas essa lembrancinha, não é cara, mas é de coração. – Cuspiu Januária entregando uma cartilha do ABC.

- Não tem problema, se é de coração, tudo bem. Soube que seu coração é do tamanho do mundo, talvez pelo excesso de gordura que tem seu corpo e o tamanho do seu peito caído, não sei. – Devolveu Berê.

- Ainda falta alguém chegar? Estou com fome. – Disse uma voz saindo do armário, provavelmente de alguma criança brincado de esconde-esconde.

- Onde estão as namoradinhas, querido? – Conitnuou Januária ao filho mais velho de Berê. – Já comeu o peru hoje, querido? – Logo após emitiu sons de risos demoníacos.

Todo mundo sabe que Giltinho não tem namorada, tem namorado. E sério. Namoram de porta e tudo mais. Berenice começou a desconfiar quando os batons, os esmaltes e as calcinhas começaram a sumir. Mas a certeza veio meses depois. Ele convidou o namorado para dormir em sua casa, sua mãe achava que era apenas amigo da faculdade. Giltinho tinha colocado uma roupa íntima para a noite especial com seu parceiro, tudo por baixo do bermudão e da camisa polo, para não levantar suspeitas.

O que ele não esperava é que naquela noite chegaria um outro amigo da faculdade querendo uns livros emprestados. Esse amigo é daquele bem sacana, que manda o amigo se lascar, dá tapão nas costas, chama de veado e por aí vai. A família de Giltinho estava toda reunida na sala, quando de repente, esse amigo puxa a bermuda dele pra baixo, exibindo uma calcinha vermelha de renda enfiada nas proximidaes do seu ânus. Foram alguns minutos de silêncio absoluto.

- Desculpa, mãe! Desculpa! – Gritava Giltinho.

- Eu não acredito no que vejo. – Exclamou Berê.

- Mainha, eu posso explicar. – Com os olhos cheios de lágrimas insistia Giltinho retirando a calcinha do ânus, pois quanto mais ele se mexia, mais a calcinha entrava. Às vezes dava gritos de prazer, mas em suma, era de dor por ter que explicar a situação constrangedora à sua mãe.

- Isso não tem explicação. Quantas vezes eu te disse que não quero ninguém usando as minhas roupas íntimas? Quantas vezes neguei sutiãs às suas tias por causa do cheiro de “cc” que elas têm nas axilas? Imagine uma calcinha que tem contato direto com meu canal vaginal. – Desabafou Berenice enquanto fechava os olhos de sua filha mais nova. - Não vou te perdoar por isso. – Berenice era pobre, morava na favela, mas tinha bons modos, destacava-se.

- E por eu ser gay? – Disse um pouco mais tranquilo Giltinho, meio que já lançando um sorriso safado pro namorado.

- O quê? Gay? Você não é gay. – Disse sem acreditar.

- Mãe, estou com uma calcinha enfiada no cu. Eu sou gay.

- Filho, isso é fase. Vamos conversar.

- Mãe, Bernardo é meu namorado. Veio aqui em casa hoje tirar a minha virgindade.

Bom, mas a história de Giltinho será contada outro dia, isso foi apenas para que o caro leitor entenda o grau de veneno de Januária. E o vídeo continuou passando. Januária chegou à mesa do ponche e observou por alguns minutos, cheirou, fez cara de quem não estava se agradando de algo e não hesitou em exprimir seus sinceros sentimentos sobre a cena.

- Berê! Berê! Eu acho que tem formiga nesse suco.

- Não se preocupe, é bom pra vista. Quem sabe assim você não passe a ver a verdade diante de seus olhos. – Disse Berencice de forma amena e sem pestanejar. – Januária, será que esse ano você desencalha?

- Ela passa o dia no facebook curtindo o status de quem começa um relacionamento sério. – Falou um penetra que ninguém sabe de onde veio.

- Quem é você, meu filho? – Falou Januária puta da vida.

- Sou o cara que você manda umas três cutucadas por dia no facebook. Lá, minha foto principal só aparece o tórax mesmo. Eu já te bloqueei e você continua fazendo perfil falso pra me adicionar, mas a “webcam” não mente, você é gorda, não rola. – Devolveu o desconhecido.

O câmera continuou filmando a ceia. Boa parte da filmagem era de bunda, de vaginas descobertas sem a calcinha, coisa do tipo. Teve até um momento em que a filmagem aconteceu no banheiro durante um sexo bem selvagem. Certos momentos, ninguém mais sabia distinguir buracos. Alguns já haviam se retirado da sala por causa das cenas obscenas, outros para tirar a pipoca velha grudada nos dentes.

Berenice estava um pouco sem graça, ainda não tinha assistido ao vídeo, eles prometeram guardar e só assistir no outro Natal. Ela tentou tirar a fita, mas o videocassete já havia engolido metade dela e não desligava. Um vizinho, que todo ano fila a boia de Berenice disse que por ele tudo bem. A fita continuou.

Durante a ceia no vídeo, via-se pessoas comendo de boca cheia, crianças chorando, mas satisfação maior em ver a família reunida podia se ver no semblante de Berenice. Ela estava em êxtase, não mais ouvia nada ao seu redor, apenas sentia o clima familiar invadindo a sua casa e o clima natalino dominando tudo. Esse momento foi quebrado quando um de seus sobrinhos gritou que tinha uma mosca no refrigerante e ao mesmo tempo jogou um pedaço do peru dos pobres em Berê, um pedaço do sobrecu de galinha semicrua.

A filmagem acabou praticamente nesse ponto. Nem o cachorro se encontrava mais na sala. Apenas o esposo de Berenice. Mas o que ninguém percebeu, é que Berê já tinha saído há muito tempo da sala. O que teria acontecido? Por que a filmagem fez a maior interessada sair do recinto? Muito intrigado, seu esposo foi em busca de respostas.

Ele não precisou bater na porta, porque não tinha. Era uma casa muito simples. Sala, cozinha, local do cachorro, sala de estar, tudo era em um mesmo cômodo. O banheiro era nos fundos da casa, ao ar livre mesmo. A única coisa bem definida, era o quarto, o ninho de amor dos dois.

- O que aconteceu, Berê?

- O que aconteceu? Como ousa perguntar isso?

- Não estou entendendo.

- Vou explicar. Conseguiu assistir às filmagens? Percebeu que só se via bunda, vaginas e coisa do tipo? Melhor. Conseguiu assistir à parte do sexo no banheiro? Posições que mal conheço.

- Vi. Um absurdo! Da próxima vez precisamos chamar alguém que melhore o foco nesses momentos. – Disse Clodoaldo ainda sem entender.

- O bêbado que estava filmado era você, Clodoaldo. Era você.

 

FIM DO CAPÍTULO 01

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Jabs Barros (Jabs Topadão) ESCRITO POR Jabs Barros (Jabs Topadão) Compositor
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