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A surra que eu nunca levei

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Inspirado por um texto de conteúdo altamente absurdo que tive o desprazer de ler neste site, me vi inspirado a escrever esta resposta.

Esse papo de "sou da época em que apanhava para meu próprio bem" não cola, nunca colou... Eu admito que até algum tempo atrás, eu era - ERA - a favor da "palmada educativa" até que pude conhecer mais sobre a educação positiva, sobre a educação SEM SURRAS e me vi encantado, vi principalmente, o quão errado eu estava. 

Cresci sendo educado da seguinte forma: 

Certa vez, na casa da minha avó, cheguei em uma tia minha (eu devia ter uns 2 a 3 anos de idade) e dei um chute na canela dela, chute este que fora revidado, eu saí correndo, chorando, não o fiz mais... Não por saber que era errado, mas por medo... E ensinar uma criança a ter medo não é ensiná-la sobre certo e errado... Aprendi com essa (des)educação no entanto, que, se uma criança chega até mim e me dá um tapa, me chuta, ou cospe em mim, eu tenho o DIREITO de revidar na mesma moeda, certo? ERRADO! O ideal é que eu a explique que aquilo é errado, o ideal é que eu saiba repreender tal ato sem que precise recorrer à violência... Basta falar sério... Não grosso... Sério. Mostrar a ela que aquilo está errado, que é feio, que não se faz esse tipo de coisa. Mas meus pais? Meus pais nunca me bateram por isso... Houve um único episódio em que meu pai, para assustar a mim e à minha irmã, pegou um chicote e foi bater com ele na escada de nossa casa, quando ele baixou o braço para chicotear o degrau da escada, eu passei... E aquela chicotada pegou em minhas costas... Eu chorei horrores... Mas não tanto quanto o meu pai, que me pedia desculpas, que chorava e pedia para que eu o perdoasse, e desde então, ele nunca mais utilizou-se de chicote ou quaisquer outras coisas para nos assustar, pois sempre teve o nosso respeito, sempre nos educou bem, foi um pai e tanto, não me ensinou a resolver nada na porrada, mas me ensinou a me defender para que elas não me atingissem, enquanto brincávamos de lutinha no tapete da sala.

Quando você comete um erro e apanha por tê-lo cometido, você não está sendo educado... Se você pensa que "uma palmadinha não faz mal, vai educar", está extremamente enganado(a)... Essa "palmadinha" vai tornar-se algo recorrente, vai criar na cabeça da criança o seguinte conceito: "Se não consigo resolver na conversa, resolvo na porrada". É esse o modelo de educação que você espera dar a uma criança? Sério? 

No texto a autora cita um caso onde diz "Uma vez apanhei na escola, de uma menina bem maior que eu, quando contei pra minha mãe, eu apanhei de novo, para eu nunca mais permitir que NINGUÉM JUDIASSE DE MIM, nem que fosse para sair correndo"... E me admira que ainda não esteja correndo de sua mãe... Bater em uma criança por ela SER criança? Bater em uma criança porque ela deu cola pro irmão dizendo que era pirulito (push-pop), bater em uma criança que rabisca a parede da casa, bater em uma criança que não te obedece quando você diz "não faça isso" não são formas de amor, são formas de violência, são formas de impedir que a criança cresça e se desenvolva adequadamente... Não que tenha que ser permissivo, basta utilizar-se da educação positiva, da educação sem violência. Conheci uma criança, um menino lindo, que é educado desta forma, sem surras, e adivinhem só... O "muleque" chega pra mãe e diz "mamãe, quero mamá", a mãe prepara a mamadeira, ele pega seu "naná" (travesseiro), ajeita onde lhe convier, deita, mama e dorme. Se ele faz algo errado, a mãe o repreende sem utilizar-se da violência, e você teria coragem de dizer que o que falta a ele é uma surra? Creio que não.

Em seguida a autora faz a infeliz comparação dizendo que "Se Bin Laden tivesse apanhado, ele não teria sido assassinado!", bom, não sei se você sabe, mas a MAIORIA dos casos envolvendo violência, se for vasculhado o passado de cada um, verá traços inegáveis de violência doméstica, de pais que espancavam as mães na frente dos filhos, de pais que não toleravam um erro dos filhos, punindo-os com uma surra, de pais que, ao invés de encorajar os filhos nos estudos, espancavam-os por tirarem notas baixas, de pais que espancavam as mães por terem contrariado seu "não" ao filho, mesmo que tal fato tenha sido da seguinte forma:

- Pai, posso comprar bala?

- Não!

- Mãe, posso comprar bala?

- Pode sim, filho.

E em seguida vem o homem:

- Como ousa tirar minha autoridade na frente do nosso filho?

E aqui começam os espancamentos.

Então, por favor, me diga onde um meio violento contribui de forma positiva para a formação de uma criança!

Se seu filho é violento, se ele agride amigos, namoradas, parentes, ou quaisquer outros que o contrarie, não é porque faltou surra na educação dele, mas sim, porque HOUVERAM SURRAS em um processo que deveria ser educativo-construtivo. 

Por fim, devo dizer que, defender a "surra educativa" e colocar no final de seu texto "Faça o bem e o bem voltará multiplicado para você..." definitivamente é extremamente contraditório... É o famoso "morde e assopra"... Bater em uma criança e depois dizer "bati mas foi pro seu bem" só vai contribuir para que ela cresça acreditando que a violência resolve tudo.

Se você "educa" com violência, você NÃO EDUCA... Destrói!

E lembre-se... Aqui se faz, aqui se paga!

 

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Thiago Moreira ESCRITO POR Thiago Moreira Escritor
Ouro Preto - MG

Membro desde Setembro de 2013

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