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ESCRI(DORES)

Objetivo: parar de encontrar palavras e apenas jorrá-las, derramá-las, explodir como uma barragem onde se fez um pequeno vazamento. Explodir em letras. Explodir minha alma em mil pedacinhos espelhados, que brilhem em cinza, rosa, amarelo e roxo, se alternando no chão, chiando, bebendo o sol com a respiração entrecortada. Clímax, o auge, mais que o alfa. Afundar-se tão profundamente como em areia movediça, a impossibilidade de sair e a aflição de querer, acima de tudo, ficar. Ir mais e mais e mais pra baixo, engolindo, engasgando. Buscar mais e mais ao fundo, surto, escuridão novamente. A cabeça roendo exclamações e pontos finais onde não há nada além de uma folha em branco. Rasgar minhas tripas, sangrar meus medos pelos poros, suar trevas. Expulsar o que me faz gaiola de mim mesma. Grades intransponíveis, leves, serenas e ao meu alcance. Arrancá-las-ei e o estômago a retorcer-se e corroer-se com as queimaduras gélidas do desespero. Eis o real escritor: aquele que não flui palavras, mas as despeja e dá as costas ao público pálido e sombrio a doer-se com suas palavras. Que, além da escrita, capaz de tamanho estrago?

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Letícia Pontes ESCRITO POR Letícia Pontes Escritora
Maceió - AL

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