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POETAS DA CHÃ PRETA

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Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha”. A reunião dos grandes vates da Chã Preta, na obra que ora se edita tem um motivo mais que especial. Nunca dantes as sapientes palavras de Cassimiro de Abreu sintetizaram o verdadeiro regozijo, que é poder traduzir ainda que de forma ritmada o que sentimos ao pisar neste torrão e contemplar o que as mãos do Criador desenhou em forma de paisagem – rios caudalosos, planícies verdejantes, flora multicolorida e não obstante toda essa aquarela naturalista capaz de ofuscar os olhares mais atentos, a capacidade de dialética de vários chãpretenses na prosa e no verso é algo sem precedentes nesta terra caeté.

A poesia como missão abraçada por tantos tornou-se a nau que conduz o homem aos píncaros da glória e imortalidade. A escola poética de Chã Preta há muito que revela grandes trovadores, que se faziam perceber desde as remotas épocas, quer nos aboios e toadas conduzindo o gado nas íngremes plagas campesinas; em festas populares dos santos católicos nos terreiros de chão batido das casas grandes; como também no grito rouco de mestres do guerreiro que com o apito embalava os versos na pisada das danças típicas e não menos nos pagodes e cocos de roda quando da tapagem de casas de taipa, sob a luz tremula dos candeeiros exalando o cheiro de querosene.

Foi neste cenário um tanto bucólico e ruralista, que surgiram nossos autênticos mestres na arte de versar. E nesta relação ainda que modesta, muito mais pelo anonimato de alguns poetas, que mesmo pelo rol aqui apresentado, evoco das bagaceiras do velho engenho de bangüê no Bonsucesso o notável homem folck Pedro Teixeira, que com sua inteligência e devoção pelos causos de nossa gente conseguiu perenizar sua estremecida terra. Vem a guisa da memória o parnasianismo inconfundível de Paulo Duarte, oriundo do Caçamba com suas manias de curvas, fora capaz de inebriar seus leitores com o poder de sua pena. Neste índice de literatos um gênio do populismo e da rima sobressai, admirado pelos detalhes metrificados de seus versos, coroou sua trajetória trovadoresca nos aplausos dos boêmios, sempre aclamado com velho Passinho, cujo nome batismal era Plácido Pereira.

Se o saudosismo foi o axioma de tantos poemas, misturados a delicadeza das palavras com a inserção da religiosidade, peculiar à mulher interiorana faz-me citar Maria Rebelo Melo ,Durvalina Palmeira e Laurinda Vasconcelos, a primeira criada nas longínquas regiões da Boa Esperança, aquela na amplidão dos campos da Floresta e esta à sombra da Casa Grande da Medina. E a eterna Serra Lisa como sentinela que guarda o povo que se aninha aos seus pés, teve seu nome exaltado nos versos brejeiros de José Firmino Teixeira. E o vaqueiro com suas aventuras e percalços, vestido com gibão e chapéu de couro foi o grande personagem surgido no imaginário intelectual de Netinho Teixeira no seu Santo Izidro. E com os pés a pisar no solo verdejante de sua Recanto aparece entre nós Otílio Duarte, com a inchada sobre os ombros cantou como ninguém as labutas na terra comum dos homens.

Figura ainda neste elenco poético o jornalista e historiador Severino Florêncio, com a sua argúcia ao lidar com as palavras e uma inteligência de longe privilegiada, externou nas folhas envelhecidas do Voz da Serra o amor incondicional por seu torrão. E do primeiro reduto de urbanização no ainda povoado de Chã Preta –Tobias – surge o talento inconteste do docente Otoniel Fernandes, cuja veia poética fora herdada de seu genitor e descoberta ainda em tenra idade. E novamente da Boa Esperança dos Rebelos Maia, surge um ícone do versar, de natureza irrequieta José Maria Rosa com profundo ardor literário e eloqüente inspiração tem seu nome registrado com tinta dourada nos anais da história de sua Princesa dos Montes.

Se a ausência de alguns é por demais percebida nesta obra, sua presença é argamassa indestrutível nos corações de tantos que estima-os. E em uníssono a plêiade declama auspiciosamente como quem vaticina uma verdade inalienável e perene, numa lidima demonstração de carinho por sua terra , fazendo coro as palavras da também poetisa lusitana Florbela Espanca: “ Ser poeta é ser mais alto/ é ser maior...e é amar-te,assim perdidamente...”

 

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OLEGÁRIO VENCESLAU ESCRITO POR OLEGÁRIO VENCESLAU Escritor
Chã Preta - AL

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