Queimam meus olhos
Queimam meus olhos, perante a chama cósmica que flui em volta de todos os passos dados e planejados pela minha cabeça, metricamente formada no âmago do estômago de Deus durante uma ressaca decorrente de altas doses de otimismo, autocontrole e perseverança, onde, o organismo divino, enjoado de sua própria substância, vomita a si mesmo e a todos nós, imagem e semelhança de seu tédio!
E como queimam meus olhos, em ver covardemente a carne que tomamos emprestada para alimentar a vida, ser consumida pela rotina ínfima do dever, mutilador do bem estar, de estar, espontaneamente sendo. Fora do alcance do olhar acusador da dispensa e do horário marcado com a aurora!
Ora, como queimam meus olhos, perto dos incensos acesos no altar petrificado da consciência confortável da filosofia, pacificamente aceita e fiel à seita de que é inútil querer ultrapassar os limites fixos da natureza humana, em que nossa condição imutável é conformar-se em compreendermos sem contradição aquilo que ontologicamente somos!
E ainda mais queimam meus olhos, envolvidos numa trama legislativa obscura, silenciosamente aterrorizante, que discretamente nos impõe sem o uso de armas, através de centros burocráticos de tortura, especializados em arrancar pedaços sem deixar vestígios do sangue suado, a agonia letal da tensão de estar condenado à contradição do fétido dilema: direito ou dever?
E assim queimam meus olhos, ardidos feito alho, batendo com maestria na bigorna das emoções o ferro em brasa, com o malho pesado de lágrimas, na expectativa de elaborar uma ferramenta eficaz duplamente pontiaguda com a qual eu possa de uma só vez, furar os meus dois olhos!
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