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Menino é Bicho Curioso

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     Gostava de ir a missa, embora as achessem incompreensivas na maioria das vezes.Igrejas sempre me atraíram por seu silêncio enigmático.Parece haver uma presença invisível que atribuímos a Deus. As imagens - olhos parados, vidreados. Olhando para não sei onde, ou, para dentro de si mesmas.

     Os ecos dos passos pareciam querer dizer alguma coisa.Talvez um segredo ou quem sabe, um convite ao desconhecido.Ou até, segredos de missas...

     Olhava comovida para o santuário do Santíssimo,onde ninguém deveria se aproximar muito, principalmente menino.Me perguntava o que era guardado lá dentro que cuidavam com tanto esmero e reverência.

     Olhava curiosa em direção ao andar de cima que tinha como acesso uma escada,que, hoje sei, dava três volltas até chegar ao topo.Parece que algo me convidava a conhecer. Um dia fui.

     Era final de tarde.Depois das quinze horas. Hora em que a igreja costumava estar sempre vazia. Padre Benício Dantas, certamente descançava em seus aposentos na casa dos padres.

     Esguerei-me para as escadas e meu coração acelerou.Teria fantasmas?Almas penadas?(pensei). Fantasmas de santos? Mas santos não tem fantasmas.Ninguém nunca tinha me falado de fantasmas de santos .Porque fantasmas é coisa de medo. Santo nã é coisa de medo(refletia). Mas naquele ambiente eu não tinha mais tanta certeza.Sei lá! Iniciei a subida receosa, e, ao mesmo tempo estasiada com aquela imensidão de igreja.Ouvia o eco de cada passo. O tempo parecia parado...No meio da escadaria vizualizei na semi-escuridão algo escuro alguns degraus a minha frente. Já não estava mais sozinha.Parei procurando enchergar melhor através da penumbra. Resistí. Sentí uma presença...talvez já produto da ausência da claridade do sol. Era alguém, como impedindo minha passagem.Grandes olhos esbugalhados brilhantes, vidrados, olhando diretamente para mim. Um rosto horrível de morto sacrificado que parecia querer tocar-me com seus braços meio estendidos em minha direção. Gelei. Um calafrio percorreu-me o corpo e gritei aterrorizada com a figura fantasmagórica da torre da igraja de Nossa Senhora do Ó.

     Fugí. Descí em alvoroço escada abaixo.Tinha um furacão nas parnas. Ofegava ao chegar no térreo a procura da porta da saída que ainda estava uma metade aberta.Ó Deus se estivessem trancadas?!...

     Naquela noite não foi fácil relaxar e adormecer normalzinho. A curiosidade crescente. Mas, dizia no meu coração-nunca mais vou lá ver.

     Dias depois,descobrí por meios de terceiros que nada mais era que a estátua de Jesus morto.Aquele que sempre era levado(quando mais conservado),para as procissões. Aqueles olhos vidrados, injetados de sangue era de um morto mesmo? JESUS!... Menino faz cada coisa!

                                                     ELENA

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m.elena.costa ESCRITO POR m.elena.costa Escritora
São Miguel dos Campos - AL

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