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Ar de Simplicidade (Descrição - Parte I)

     Naqueles dias havia enorme sensação de ausência da liberdade, não por falta, não por prisão, mas pela inexistência de reciprocidade, sim, pois em cada fase do evoluir temos diferentes visões sobre o multifacetado real sentido do amor. Este mesmo, hoje, me soa apenas como algo que pode tornar-se gigante, porém frágil, capaz de enfraquecer até não mais existir, pois necessita nutrir-se de reciprocidade.

     Havia também algo feito do mais letal veneno do universo, algo chamado "dúvida", causador de dor inimaginável, palavra minúscula, mas de maiúscula eficácia para desintegrar pouco a pouco.

     Tentarei relembrar...

    ...Mas como se relata algo do qual pouco se sabe? Como falar com propriedade sobre o que esperas que ainda vá acontecer conforme o famigerado curso do futuro? Como se pode explicar um sentimento inexplicável? '

      Apenas tentarei...

    À tarde, no fim de tarde daquele dia de dezembro, pude contemplar pelo que espero que seja a primeira de inúmeras vezes a visão daquela criatura vindo ao meu encontro, de longe, enfrentando tudo e um pouco mais, apenas por mim.

     Tudo nela é convidativo, mas ao mesmo tempo é sublime, é belo, também é vivo, como respirar pela primeira vez, tudo nela compõe um ciclo que demonstra o clímax da natural beleza da simplicidade.

    Tem olhos magníficos, onde se pode ver verdade, e apesar de tão pouca idade, exala sedução com uma pitada de inocência, combinação letal. Ao adentrar a mágica aura que aqueles olhos detêm, me senti hipnotizado, vivendo de forma real a descrição de "Olhos de cigana oblíqua e dissimulada" de Dom Casmurro.

     É impressionante como um simples olhar pode destruir e reconstruir um universo inteiro em segundos. De repente milhares de convicções tornaram-se dúvidas, e as tão frequentes dúvidas/precauções pareciam simplesmente não resistir a ela, a sensação era de que sempre a conheci. Quanto a ela, pude ter certeza, sempre esteve ali, naquela mesma mínima distância, não sei como, nem de que modo, mas tive certeza instantânea. Mesmo que em sonhos ou outros caminhos, já vivi aquele olhar em algum lugar, outra dimensão, outra vida, quem sabe.

     E assim chegamos à descoberta de toda veracidade universal daquela velha frase: "Quem hoje é tudo amanhã pode ser nada." Pois é exatamente deste modo que a vida segue, um caminho de mão dupla, dentro de um labirinto, e nós somos ventríloquos, controlados por um louco chamado Amor, hora nos guiando para um destino seguro, hora para um destino feliz, e ambos insistem nesta guerra de opostos, nos fazendo largar tudo e todos por simples detalhes, em meu caso, por simples, porém complexos olhos.

    Nunca esquecerei a inexplicável graça estampada no "sorrir daqueles olhos", nunca esquecerei a sensação de me ver eufórico dentro deles, a mágica de vê-los satisfeitos no momento em que perceberam que os percebi, que os quis, e mesmo sabendo que não devia, sim, eu os quis, e como os quis.

     O que unicamente me intriga até este momento é quais artifícios aquela criatura usou para me fazer desejar aquele mundo novo, mesmo em meio a tanta dor, ( Pois, a dor cega, bem semelhante ao poder concedido ao amor), me fez apaixonar pelo simples infinito prazer que seu ar de simplicidade inspira. 

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Iury Ranieri ESCRITO POR Iury Ranieri Compositor
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