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E A USINA BARCELOS ? O QUE SERÁ?

E A USINA BARCELOS: O QUE SERÁ?

*Andre Pinto - Técnico em Turismo, Bacharel em ADM, Pós-graduado em Museografia e Patrimônio Cultural, Assessor Cultural do Palácio Cultural Carlos Martins, Membro da Academia Pedralva Letras e Artes, poeta, pesquisador, Gestor local do Geoparque Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro e Membro da Comissão Estadual de Museus - SIM-RJ.

Usina Barcelos - um promissor Museu dos Engenhos Centrais no Brasil ?

Um breve histórico

No dia 23 do novembro de 1878, era inaugurada na cidade de São João da Barra a Usina Barcelos, fato que contou com a ilustre presença do Imperador D. Pedro II e diversas personalidades da aristocracia rural do Norte Fluminense.
A inauguração da Usina de Barcelos, da Cia. Agrícola Campos-São João da Barra, do Barão de Barcelos e acionistas, contou com a presença do imperador e sua esposa, fato raro de acontecer no interior da Província do Rio de Janeiro naquela época.

Desde o início do século XIX, 26 engenhos de açúcar, sendo dois movidos a vapor, existiam no município, fazendo com que o porto fluvial da cidade de São João da Barra fosse bastante movimentado. Só nas ilhas do Rio Paraíba havia seis engenhos.

O Engenho Central de Barcelos, assim denominado, por obrigação contratual do financiamento imperial, foi uma das primeiras indústrias da região a não utilizar mão-de-obra escrava. Gerou muita produção e empregos e fez surgir a própria localidade de Barcelos, hoje 6º Distrito da cidade de São João da Barra-RJ.

Nos finais do Século XIX e de passagem para o Século XX, a Usina construiu sua própria ferrovia particular para o escoamento de cana-de-açúcar das propriedades existentes na Planície Goytacá. Eram em torno de 08 locomotivas à vapor e cerca de 100 vagões-carreta que trefegavam em circuito rural em trilhos próprios, fazendo, no entanto, ligação com a Estrada de Ferro Campista que se dirigia à cidade de Campos dos Goytacazes para o escoamento da produção.

Com o falecimento do Barão de Barcelos, personalidade de muita influência na região, a Usina Barcelos passa para a gestão de outros empresários que prosseguem com a produção de açúcar e álcool até a primeira metade do Século XX, chegando até a possuir uma pista de pouso para aviões (Palacete) e que foi aproveitada pelos militares, em tempos de Guerra. A pista de pouso serviu também para baldeação da empresa Panair, principalmente para servir aos administradores da referida usina.

Na segunda metade do século XX a Usina é adquirida pelo Grupo Othon (1974), do empresário Bezerra de Melo que entra no programa Pró-álcool na década de 1980, no entanto, por motivos de melhor produção do mercado sucro-alcooleiro na região de São Paulo, a usina começa a amargar prejuízos, sofrendo inclusive, processos trabalhistas e de danos causados ao meio ambiente por poluição atmosférica de suas precárias chaminés, sendo desativada em 2009.

Novas perspectivas com interesses museológicos

Desde seu encerramento de atividades, em 2009, a usina vem sendo alvo de atenção da comunidade de Barcelos, que deseja fazer do espaço uma área de recreação, lazer e de memória do ciclo econômico do Açúcar na região Norte Fluminense e no Brasil,pela importância que teve o referido espaço.

A municipalidade, procurando atender a demanda dos seus moradores, manifestou interesse em adquirir, por desapropriação de utilidade pública, a grande área da Usina Barcelos que faz confrontação com a comunidade de Barcelos e o rio Paraíba do Sul. Desta forma, a Prefeitura Municipal de São João da Barra, quando da revisão do Plano Diretor Municipal em 2013, feito pelo renomado arquiteto Jayme Lerner, elaborou um projeto paisagístico aproveitando-se as instalações e maquinários da referida usina. No entanto, nenhuma ação foi concretizada até o presente momento.

O projeto de Lerner prevê a criação de uma grande área de vivência, urbanização da orla do rio Paraíba do Sul, criação de um espaço cultural na antiga estação ferroviária de Barcelos e nos galpões da Usina Barcelos um museu expondo todo o tipo de maquinário existente para o processo de moagem, bem como um espaço-memória para exposição permanente de fotografias e documentos antigos. Há a intenção de criação de uma pequena destilaria de cachaça artesanal, bem como de venda de produtos derivados do açúcar como os famosos doces "bombocados", "chuviscos", "carapitos", "balas de caramelos", "melaços", "rapaduras", "goiabadas" e afins.

Como membro da Comissão Estadual de Museus, na suplência de meu colega titular e diretor do Arquivo Público Municipal de Campos do Goytacazes, Dr. Carlos Freitas, em reunião na Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, no ano de 2015, fiz uma indicação para que o estado pudesse tornar o espaço em um belíssimo museu da Cana-de-Açúcar. O pedido está consignado em ata.

A Usina Barcelos foi muito importante para o país, pois foi inaugurada por Sua Majestade D. Pedro II e grande comitiva, além de ter sido um projeto pioneiro de Engenhos Centrais que mudariam o método produtivo de cana-de-açúcar no país para melhor, além de não utilizar mão-de-obra escrava. Desta forma, só por estes dois motivos, já merece se tornar um museu, não só municipal, mas de cunho nacional a ser objeto de tombamento até pelo próprio IPHAN como patrimônio Nacional.

Neste dia mundial dos Museus, este é o meu grande desejo! Que um dia seja concretizado.

Breve histórico do Barão de Barcelos

Domingos Alves Barcellos Cordeiro

O Barão de Barcelos, foi o Dr. Domingos Alves Barcellos Cordeiro,que nasceu em São João da Barra, na Província do RJ. Era bacharel em direito pela faculdade de São Paulo, e um grande fazendeiro no Rio de Janeiro, tendo inaugurado em 1878 a Usina de Barcelos, que era a segunda maior usina de açúcar do Estado.

A Usina de Barcelos é uma das mais antigas do Brasil. Estiveram presentes à festa inaugural, que foi soleníssima, o imperador D. Pedro II, a Imperatriz Thereza M. Christina, as demais pessoas da Família Imperial e a sua comitiva.

Domingos Alves Barcelos Cordeiro foi agraciado com o título de Barão de Barcelos em 19/07/1879 . Título de origem antroponímia, tomado do sobrenome da família.

Era ainda membro de antiga e importante família, de origem portuguesa, de abastados proprietários rurais, donos de engenhos, estabelecida no município de Campos, região norte-fluminense.

Foram patriarcas Francisco Alves de Barcellos e Margarida Corrêa, casados em 1670.

Fontes: 
-Nobreza Brasileira de A a Z.
- Pinto, João Oscar. Escravidão & Engenhos no Norte Fluminense. Ed. Achiamé, 1985.

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Andre Pinto ESCRITO POR Andre Pinto Escritor
São João da Barra - RJ

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