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Qualquer um aprende a escrever

Eu me recordo das primeiras percepções que tive da vida e tentava pô-las para fora, fosse na oralidade ou na escrita. Mas a minha pobreza vocabular me impedia de colocar as palavras nos lugares certos.

Isso me incomodava, me constrangia. Me vi tateando no mundo das letras, das leituras da vida, que muitas vezes não foram fáceis.

O escritor nascia dentro de mim e eu nem me dava conta disso. Então, me veio às primeiras tentativas, pobres, mas veio e eu as consegui materializá-las. Muitas delas estão registradas em cadernos escolares.

Aquele menino que não sabia reescrever as suas sensações foi-se pouco a pouco se libertando nos cadernos, onde é possível observar a quantidade de matéria bruta neles contida esperando ser lapidada. Aí, quando me deparo com pessoas que ainda acredita e teima que escrever “é um dom”, percebo quanto é inútil essa espiritualização da escrita. São pessoas que não leram a epístola de Paulo aos Romanos, nem compreenderam a própria motivação da escrita, nem a função social que ela exerce sobre as pessoas.

Só os imaturos insistem nessa ideia e isso pode ser facilmente desmistificada por simples observações daquilo que se passa em nossas cabeças e fora dela. Você já parou para vigiar a si próprio? Já percebeu que a nossa cabeça estar sempre produzindo personagens e enredos, os mais variados possíveis?

Pois é!

As pessoas inventam os mais diversos enredos que a mente é capaz de produzir, que gostaríamos que se tornassem reais ou não, através dos sentidos e da percepção. O que falta em muita é a riqueza vocabular, a prática da leitura, a prática da escrita e a capacidade de expressar com precisão aquilo que se quer dizer.

Com esses elementos, criam-se as mais diversas personagens e determinadas situações possíveis. Sabemos que somos assim e o nosso mundo e o de fora nos povoa. Eu saio do mundo externo e fico comigo, eu e os personagens que às vezes não quero. Depois, saio de mim materializando enredos.

Na verdade, o que falta na maioria das pessoas é o domínio das palavras, a compreensão delas e a função social que exercem. Escrever é prática, é se reconhecer no outro e nos vários aspectos da vida. Qualquer um aprende a escrever. Agora, se terá vocação para ser escritor, é outra história. E nunca confundir vocação com graça divina.


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Ron Perlim ESCRITO POR Ron Perlim Escritor
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