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A BOLA AMARELA

 

Outro dia, chegando ao quintal pela manhã, me deparei com uma bola amarela. Imediatamente lembrei do poema de Cecília Meireles, Jogo de bola.

(...) Bola amarela, / a da Arabela. / A do Raul, / azul. / Rola a amarela / e pula a azul. (...)

Peguei a bola e reportei-me à infância, em que brincávamos com a bola emprestada dos meninos da Rua Nova. Vez por outra, a bola caía no quintal da vizinha, Dona Guilé (Guilhermina), ficávamos torcendo para tê-la de volta. Qual nada! Sempre nervosa, sem dó nem piedade, ela cortava a bola e jogava os pedaços de volta para a rua. Parecia até que ela ficava do outro lado do muro, esperando a redonda, pois no melhor da brincadeira, um toque forte e certeiro de alguém, quase sempre, fazia a bola cair no quintal de Dona Guilé e a brincadeira acabava. Inventávamos outras brincadeiras para preencher as horas livres daquelas tardes.

            Fotografei a bola amarela, ainda recordando dos jogos de queimada e de futebol da nossa infância. Lembrei da tristeza que ficávamos quando Dona Guilé nos devolvia, por cima do muro, a bola cortada... Logo, voltei meu pensamento para a alegria dos momentos em que jogávamos bola na rua, sem medo e sem preocupação. Coisa rara hoje em dia!

 Então, me veio à mente aquela crônica de Luís Fernando Veríssimo, A bola, que descreve a decepção de um pai, nos dias atuais, que dá uma bola de presente ao filho e ele pergunta: como é que liga? E vai procurar no embrulho o manual de instrução. Sem se encantar com a bola, a criança volta para a frente da televisão para jogar, usando o controle remoto do vídeo game.

A tecnologia é uma realidade. Os tempos são outros. Por questão de segurança, muitas vezes, as crianças quase não brincam na rua, mas a bola continua sendo um brinquedo acessível para crianças de todas classes sociais. Acredito que é por esse motivo que os brasileiros são reconhecidos por suas inquestionáveis habilidades com a bola.

A bola rola... o tempo rola... a vida rola...

Pensamentos e considerações à parte. Abri o portão na esperança de encontrar o dono da bola. Era cedo ainda e não haviam crianças na rua (COHAB). Precisava sair para trabalhar, não poderia prender o brinquedo das crianças, resolvi deixar a bola na calçada para ela encontrar seu dono ou dona. 

Naquele mesmo dia, no final da tarde, quando estava regando as plantas, ouvi o barulho de crianças brincando, fui olhar e lá estavam quatro meninos, ensaiando embaixadinhas e brincando com a bola amarela.

Merandolina Pereira de Melo

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Merandolina ESCRITO POR Merandolina Escritora
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