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A PRIMEIRA FOLHA DE OUTONO - Tchello d'Barros

A PRIMEIRA FOLHA DE OUTONO
Tchello d’Barros


No momento em que traço estas linhas de fim de verão, tenho diante de mim a primeira folha do Outono, a primeira folha de Plátanos, que esta semana, caminhando numa praça, o vento trouxe e sem avisar pousou em meu peito, bem ali na altura do coração. E não adianta dizer que foi meu anjo porque ele anda ocupado com coisas mais importantes no momento.
Mas foi um sinal. Sinal positivo. Primeiro porque a mãe natureza me diz através deste gesto poético que se findaram os dias tórridos de mais um verão caliente, tropical, sensual. Se por um lado vamos deixar de ver as moçoilas desfilando nas ruas em trajes mais à vontade, por outro, este singelo incidente me diz que está chegou a estação mais sublime do ano, a estação da poesia, da nostalgia.
Pois eu trouxe a folha comigo, está aqui em minha frente, inerte, num álbum entre fotos de algumas flores; Simone, Agatha, Izabel... A folha é marrom-claro, em tons de ocre e nuances de cobre. Ela me lembra uma estrela. Já foi verde como a esperança do povo brasileiro, verde como um certo par de olhos fugazes, que guardam nas pupilas duas gotas do Atlântico. Ver de perto, ver de novo.
Para nós que já estamos sentindo as primeiras aragens, as primeiras auroras da estação, é preciso lembrar de Bashô, um antigo poeta japonês, monge zen-budista que peregrinava a pé pelo velho país do sol nascente e relatava em seus poemas haicais as maravilhas da paisagem. Já naquela época ele falava da beleza da lua nas noites de Outono, uma beleza misteriosa que atravessa o tempo e os lugares, que atravessa nosso sentimento.
Bem, hoje as coisas mudaram um pouco. Pode-se ver na Internet filmes on-line de nosso satélite natural, em tempo real, imagens captadas por satélites artificiais. Ainda assim nada muda a paisagem romântica e bucólica que nos envolve com uma atmosfera cálida, quando numa noite de Outono, tudo fica mais nostálgico, feérico e sublime.
Através da história, muitos poetas escreveram sobre a lua, o luar e seus efeitos no espírito dos mais românticos. É o luar outonal como fonte de inspiração, como fosse um pacto com a musa, uma ode aos céus, um ditirambo ao amor. Até mesmo os lobos entoam seu canto, como se estivessem a acordar antigos fantasmas para a dança da vida.
Mas é hora de, entre um copo de vinho e uma sonata de Bach, sob o halo lunar que se ergue acima das nuvens, guardar minha folha de Outono. É hora de fechar este álbum. É hora de abrir este coração.
 
 
 
 
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