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ARTE: ENTENDER X SENTIR - Tchello d’Barros

ARTE: ENTENDER X SENTIR
Tchello d’Barros


Cenário: Qualquer espaço cultural, imaginemos por exemplo, o teatro de uma cidade qualquer, onde se apresentam grupos locais e eventualmente peças com atores globais e tal. Ponto de encontro de artistas de diversos segmentos, local de ensaios, elucubração de projetos e de diálogo entre alguns dos raros intelectuais da região.

Personagens: Um grupo de jovens casais, da classe média, que já acomodados nas poltronas do auditório, aguardavam um pouco impacientes o início da peça teatral. Não foi possível deixar de ouvir seus comentários sobre a importância de vir ao teatro e assim adquirir um pouco mais de cultura.

Cena: Após a apresentação, naquele momento em que se espera as pessoas saírem em longas filas, ouviu-se um breve diálogo entre o grupo, pois uma das pessoas disse não ter entendido a peça. Não entendeu o texto. Não entendeu nada.

Mis-an-cene: Possivelmente este seja um exemplo de nossa incapacidade de sentir uma obra de arte. Nossa necessidade de entender tudo, de quantificar as coisas, de raciocinar de forma analítica, por vezes nos impede de sentir a proposta de um artista, de captar a intenção de uma criação cultural, de absorver uma linguagem contemporânea. Dessa forma perdemos a oportunidade de fruir aquela que é a principal finalidade de qualquer proposta artística; a emoção estética.

Primeiro Ato: Segundo o filósofo Taine, o homem é um produto do meio onde vive. Ora, se nosso contexto social é essa sociedade massificante, competitiva e tecnicista em que vivemos, nada mais natural que uma tendência para racionalizarmos tudo, de forma um tanto objetiva, um tanto matemática. É o caso de assistir e não entender uma peça de teatro onde a linguagem corporal e textual é subjetiva, onde a cena se completa na imaginação do expectador.

Segundo Ato: É também o caso daquelas elegantes senhoras que, numa exposição de arte, diziam não estar entendendo as pinturas, pois a linguagem era abstrata. Ora, o autor não quer ter sua obra entendida, mas sentida. Não se trata de uma planta de arquitetura, mas de uma obra pictórica. Se com os olhos do rosto é difícil de entender o jogo de cores e formas, os olhos da alma sentem a harmonia das nuances cromáticas e das formas indefinidas que o artista plasmou na superfície da tela. Para o leigo, a regrinha é bem fácil: Gostei ou não gostei! Ninguém precisa ler a História da Arte para apreciar um quadro.

Terceiro Ato: De forma análoga, o mesmo acontece no meio literário, onde aquele poeta de vanguarda, que desenvolve uma aprimorada pesquisa de linguagem, construindo uma poética inovadora, transcendente, por vezes é incompreendido, pois as pessoas tentam entender seu trabalho, que existe na verdade para causar impressões ao espírito e não ao intelecto. Até aí tudo bem, pois essa é a ordem natural das coisas. O condenável seria um artista descer do nível alcançado para apresentar algo mais fácil, mais digerível, prostituindo o próprio talento.

Fecha a Cortina: Caberia lembrar então que, o sentir é o genuíno veículo para se alcançar a emoção estética, seja textual, musical, teatral ou plástica. E como a arte não existe para ser entendida, quando alguém apreciar uma obra e não entender, mas emocionar-se, então é porque finalmente entendeu.

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