Tema Acessibilidade

AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

RESUMO

Este artigo apresenta a importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem. O ato de educar deve ser permeado de afetividade, pois ela é necessária ao êxito educativo. O espaço educativo deve ser marcado por características que confere ao educando segurança em si e confiança ao educador, sendo elementos necessários na prática educativa. Pois, para haver aprendizagem deve haver troca e esta, por sua vez, deve ser aplicada com afeto. Precisamos não só ensinar o currículo, mas ensinar a amar, a ter empatia com o outro, isso só é possível através do afeto, pois quando se recebemos carinho, a retribuição torna-se mais propícia

PALAVRAS – CHAVE: Escola – Educação – Aprendizagem – Afetividade.

ABSTRACT

This article presents the importance of affectivity in the teaching-learning process. As we know, the act of education should be permeated with affection, because it is necessary for educational success. The educational area should be marked by features that give the student confidence and security in itself to the educator, being necessary elements in educational practice. Well, to be learning should be exchanged and this, in turn, must be applied with affection. We must not only teach the curriculum, but teaching to love, to empathize with others, this is possible only through the affection, because we care when we receive more prone to repay it.


KEY - WORDS: School - Education - Learning - Affectivity.












INTRODUÇÃO

A escola é um espaço de multiplicidades, onde diferentes valores, experiências, concepções, culturas, crenças e relações sociais se misturam e fazem do cotidiano escolar uma rica e complexa estrutura de conhecimentos e de sujeitos. Essa rica heterogeneidade que permeia a escola acaba por se confrontar com uma estrutura pedagógica que está baseada num padrão de homem e de sociedade, que considera a diferença de forma negativa, gerando assim uma pedagogia excludente.
As relações estabelecidas no contexto escolar têm se revelado cada dia mais difíceis e conflitantes. A descrença de que a escola possa constituir-se num espaço de construção de conhecimento, de alegria, de formação de pessoas conscientes, participativas e solidárias, tem recrudescido. Os sentimentos em relação a ela têm sido de desilusão, desencanto e impotência diante dos inúmeros problemas cotidianos. Um deles refere-se às relações eu - outro, (Maturana,1999, p.23), a não aceitação do outro como um legítimo outro na convivência, na inabilidade de se lidar com os conflitos comuns ao convívio humano, ou seja, questões ligadas à afetividade que integra a emoção, a paixão e o sentimento, presentes em todas as relações humanas. Esses e outros problemas estão presentes no chão da escola, e superá-los implica um desafio imbricado em questões políticas, econômicas, sociais e pedagógicas.
Mas é necessário encarar este desafio como uma possibilidade de mudança em que a busca e o diálogo estimulem a capacidade reflexiva e a construção de uma visão plural do conhecimento.
É preciso levar em conta o sujeito concreto, contextualizado no tempo e no espaço – professor e aluno – atuantes no cenário educativo, que pensam, sentem, sofrem, amam e criam. O sujeito é um espaço de singularidade, gestado no conflito, nas diferenças, no heterogêneo. Com a intenção de traçar caminhos que permitisse investigar a relação entre o afetivo e o cognitivo no contexto da sala de aula, a pesquisa foi realizada, tendo como eixos a relação entre afetividade e cognição no processo de aprendizagem e a relação afetiva do sujeito com os outros sujeitos como um elemento instigante no processo ensinar-aprender.



1. A ESCOLA E O SEU PAPEL SOCIAL

A escola é a instituição que liga o sujeito à sociedade. Deve formar para o educando exercer bem seu papel social, sendo um bom cidadão. Ela é um lugar que oportuniza, ou deveria possibilitar as pessoas à convivência com seus semelhantes (socialização). De acordo com texto do PROGESTÃO – Módulo 1 (, 2001, p. 23):

“As melhores e mais conceituadas escolas pertenciam à rede particular, atendendo um grupo elitizado, enquanto a grande maioria teria que lutar para conseguir uma vaga em escolas públicas com estrutura física e pedagógica deficientes.”

O país tem passado por mudanças significativas no que se refere ao funcionamento e acesso da população brasileira ao ensino público, quando em um passado recente era privilégio das camadas sociais abastadas (elite) e de preferência para os homens, as mulheres mal apareciam na cena social, quando muito as únicas que tinham acesso à instrução formal recebiam alguma iniciação em desenho e música.
A escola é uma instituição social com objetivo explícito: o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes,e valores) que, aliás, deve acontecer de maneira contextualizada desenvolvendo nos discentes a capacidade de tornarem-se cidadãos participativos na sociedade em que vivem.
Eis o grande desafio da escola:, fazer do ambiente escolar um meio que favoreça o aprendizado, onde a escola deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a ser, além disso, encontro com o saber com descobertas de forma prazerosa e funcional, conforme Libâneo (2005, p. 117):

“Devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos.”


A escola deve oferecer situações que favoreçam o aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão, entendimento da importância desse aprendizado no futuro do aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará conhecer e aprender sempre mais.
A política de atuação da equipe pedagógica é de suma importância para a elevação da qualidade de ensino na escola, existe a necessidade urgente de que os coordenadores pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à parte técnica, burocrática, elaborar horários de aulas e ainda ficarem nos corredores da escola procurando conter a indisciplina dos alunos que saem das salas durante as aulas, enquanto os professores ficam necessitados de acompanhamento. A equipe de suporte pedagógico tem papel determinante no desempenho dos professores, pois dependendo de como for a política de trabalho do coordenador, o professor se sentirá apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços e conquistas; enfim, o sucesso alcançado no dia-a-dia da escola e, consequentemente, o desenvolvimento do aluno em todos os âmbitos.
Os novos paradigmas da educação que exigem do profissional docente uma nova postura ante as desigualdades sociais, o modo de vida imposto pela contemporaneidade que exige dos indivíduos uma constante reestruturação de suas capacidades pessoais e, principalmente, profissionais, a globalização, o neoliberalismo, a competitividade, o tecnicismo, entre outros fatores, nos faz refletir sobre a necessidade de criarmos mecanismos que efetivamente contribuam para a construção de uma sociedade mais humana nos modos de educar.

Atualmente, cabe à escola tornar, dentro de suas possibilidades, a humanidade menos desumana. Afinal, que outra forma nós temos de fazer a escola cumprir sua função social senão através de um processo complexo de conscientização de todos os envolvidos com o nosso sistema educacional: comunidade, corpo docente e alunado?

Cabe à escola aproximar a comunidade do convívio escolar numa tentativa de reestruturar a família e o interesse dos pais pelo futuro de seu filho, de oferecer oportunidades de acesso à cultura, à tecnologia, à informação, de oportunizar a reflexão de questões relativas ao respeito ao próximo, suas culturas, etnias e orientação sexual, à preservação do meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável, entre vários outros temas.

Portanto, infelizmente, é função social da escola muito mais do que deveria, pois a ela é transferida em caráter de urgência, tendo em vista tantas questões que fogem das mãos da sociedade que tenta injustamente se proteger sem fazer por onde minimizar as desigualdades sociais. E a escola compete conduzir e formar o sujeito capaz de exercer sua cidadania de forma plena garantido-lhes êxito profissinal



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1.1 O EDUCANDO E O ENSINO

É um desafio diário ensinar a adolescentes. Isso é vivido por milhares de profissionais que em sua grande maioria tem dificuldade de lidar com alunos nessa fase tão complexa da vida. Onde, traumas, frustrações, são mais propensas deixando cicatrizes por toda a vida.
Assistimos “in loco” ou pelos meios de comunicação, as agressões sofridas por professores que são vulneráveis a elas, por ter um contato diário, ou semanal e conviver no espaço onde o adolescente busca autoafirmação diante dos colegas, e hostiliza a autoridade do professor.
Pode-se dizer que a principal característica da adolescência é a ruptura com o passado. É ai que o educando passa a se conscientizar de que os padrões adotados até aquele momento são os mesmos transmitidos por seus pais, sem jamais terem sido questionados.
Em contato com a sociedade, de repente ele começa a perceber que existe uma enorme gama de valores, muitas vezes contraditória, e isso leva a pensar que os padrões adotados anteriormente, talvez não sejam os mais adequados.
Daí, sente a necessidade de verificar outro posicionamento. Tais posicionamentos representam, muitas vezes, experiências negativas.
Assim, o ensino deve buscar estratégia para lidar e contribuir com a formação não só intelectual, mas também afetiva. Dom Bosco, pai e mestre da juventude segundo a concepção católica, afirmava que o educador “para se fazer respeitar deve fazer amar”. Ou seja, afetividade é fundamental para conter o comportamento hostil dos educando na escola. Já que o convívio social é feito de interações que devem ser buscadas no respeito mútuo. Educar é formar cidadãos conscientes de seus deveres e direitos.
Assim, trabalhar com essa faixa etária requer que tenhamos não só conhecimentos didáticos e científicos, mas também, da psicologia educacional, garantir o equilíbrio emocional do educando, sabendo lidar com as indisciplinas dos mesmos, pois a escola é de lugar sucessos e fracassos. Como podemos observar em GOOD e WEINS (1986, p.:1095):
“A escola é um lugar onde os adolescentes desenvolvem ou fracassam no desenvolvimento de uma variedade de competências que vão definir sua identidade e sua capacidade, onde são alimentadas as amizades com pares e onde o papel de membro da comunidade é testado, tudo isso durante um período altamente formativo do desenvolvimento. Portanto, a construção da autoestima da competência interpessoal, da solução de problemas sociais e da liderança se tornar importante por si só e com base crítica do sucesso na aprendizagem acadêmica.”

Uma escola que se preocupa com o bem estar psíquico do aluno garante maior êxito no fator ensino- aprendizagem, já que a educação é também confiança naquele que transmiti o conhecimento. Pois, a satisfação dos alunos com a escola, sua sensação de que as aulas são interessantes e de que os professores se importam com eles, e as avaliações dos professores influenciam a autoestima dos alunos. Contribuindo para o sucesso pedagógico. É missão do professor ajudar os alunos a obterem habilidades e conhecimentos relevantes
Portanto, o ensino deve estar intrínseco a compreensão dos fatores da adolescência, garantindo o maior êxito no ensino- aprendizagem. É no conhecimento do quadro emocional do aluno que garantimos o equilíbrio na interação aluno/professor /escola.

1.2 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DA FAMÍLIA NA VIDA DO EDUCANDO.

A Família é a base de tudo na vida do ser humano. É na família que aprendemos as primeiras noções da vida em sociedade, os primeiros conceitos de cultura, de afeto, de carinho, de exemplos.
A afetividade exerce um papel crucial na vida das pessoas e forma um elo na relação familiar e Professor-Aluno
Apesar de diferentes em sua natureza, a afetividade e a cognição são inseparáveis, dissociadas em todas as ações simbólicas e sensório-motoras.
Descreve-se o caráter social da afetividade, sendo a relação afetividade-inteligência fundamental para todo o processo de desenvolvimento do ser humano.
Cabe ao educador integrar o que amamos com o que pensamos trabalhando de uma só vez, a razão e a emoção. Só se aprende a amar, quando se é amado. Por isso a criança tem que se sentir amada, para descobrir o que é amor. Nós não damos aquilo que não temos.
As crianças precisam sentir-se amadas pelos pais, e pela família. O amor lhes dá segurança, fazendo com que tenham mais vontade de participar e explorar o mundo que as cerca, fazendo com que tenham mais vontade de participar e explorar o mundo.
Podemos perceber que quando os pais se fazem presentes, mostrando interesse pelo filho, pela escola, pelo que ele está aprendendo, pelas coisas que está fazendo ou deixando de fazer e pelos seus progressos e necessidades, as crianças apresentam maior motivação para aprender, pois se sentem orgulhosas de seus feitos.
O laço escola-família se faz mais do que necessário e é através dele que muitas vezes conseguimos vencer obstáculos no transcorrer da vida escolar da criança.
“A família é essencial para que a criança ganhe confiança, para que se sinta valorizada, para que se sinta assistida”. Por isso é de extrema importância criar um elo de comunicação entre a família e a escola. Ambas necessitam uma da outra para garantir o êxito educacional do aluno.” (CHALITA, 2004p.226)


1.3 AFETIVIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Falar de afetividade e aprendizagem é falar da essência da vida humana, que por sua natureza social, se constrói na relação do sujeito com os outros sujeitos, num contexto de inter-relações.
Cada ser particular relaciona-se com outro num processo de desenvolvimento singular, delineado nas relações sociais. Organiza seu comportamento frente às situações com as quais se depara no seu dia-a-dia, cujo processo realiza-se com base na natureza biológica e cultural que caracteriza o comportamento humano, constituindo assim, a história do sujeito.
A afetividade é o território das emoções, das paixões e dos sentimentos; a aprendizagem, território do conhecimento, da descoberta e da atividade; organizam-se em fenômenos complexos e multideterminados, definidos por processos individuais internos que se desenvolvem através do convívio humano.
Ter a afetividade e a aprendizagem como tema implica enveredar por um caminho intrigante que envolve processos psicológicos difíceis de serem percebidos e desvendados. É ter a subjetividade como objeto de pesquisa, (Minayo, 1999, p.15): “o dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante. Portanto, não está sujeito à objetividade ou a dados concretos que ao serem analisados possibilitam maior segurança e racionalidade.” Pelo contrário, o seu percurso nos possibilita mais questionamentos do que certezas. Exige uma aproximação do objeto de pesquisa que vai além das evidências, que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas
A escola é um espaço de vivência, de convivência e de relações pedagógicas, espaço constituído pela diversidade e heterogeneidade de ideias, valores e crenças. Assim, é impregnado de significado, é espaço de formação humana, onde a experiência pedagógica – o ensinar e o aprender – é desenvolvida no vínculo: tem uma dimensão histórica, intersubjetiva e intrasubjetiva. Pesquisar esse cotidiano se constitui então, um desafio: estudar a relação entre afetividade e aprendizagem no cotidiano da sala de aula. Visto que, apesar da existência de teorias e reflexões a respeito do tema, a escola continua priorizando o conhecimento racional em detrimento das relações afetivas. Como afirma MATURAN (1999, p.?15):

“Vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui o viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um fundamento emocional.”


Educar não significa apenas repassar informações ou mostrar um caminho a trilhar, que o professor julga ser o certo. Educar é ajudar o educando a tomar consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade em que vive, bem como de seu papel dentro dela. É saber aceitar-se como pessoa e principalmente aceitar ao outro com seus defeitos e qualidades. É, também, oferecer diversas ferramentas para que a pessoa possa escolher o seu caminho, entre muitos. Determinar aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com circunstâncias adversas que cada um irá encontrar.
O educador é, sem dúvida, a peça mestra nesse processo de educar verdadeiramente, devendo ser encarado como um elemento essencial e fundamental. Quanto maior e mais rica for sua história de vida e profissional, maiores serão as possibilidades de desempenhar uma prática democrática efetiva que eduque positivamente. Como afirma (Nóvoa,1991:16): “Não é possível construir um conhecimento pedagógico para além dos professores, isto é, que ignore as dimensões pessoais e profissionais do trabalho docente”.
Porém, não se quer dizer, com isso, que o professor seja o único responsável pelo sucesso ou insucesso do educando durante sua vida educativa, mas sim, que o seu papel é de vital importância, seja como pessoa ou como profissional.
Para que haja esse processo educativo efetivo é necessário que algo mais permeie essa relação aluno-professor. É esse algo a mais que falta em diversas instituições de ensino. A afetividade, uma relação mais estreita entre o educando e o educador.
A inter-relação entre os sentimentos, os afetos e as intuições na construção do conhecimento tem sido enfatizada por diversos autores.
Snyders (1986) afirma que quando se ama o mundo, esse amor ilumina e ajuda revelá-lo, a descobri-lo. O amor não é o contrário do conhecimento e pode tornar-se lucidez, necessidade de compreender, alegria de compreender. Mauco (1986) comenta que a educação afetiva deveria ser a primeira preocupação dos educadores, porque é ela que condiciona o comportamento, o caráter e a atividade cognitiva da criança.
Goleman (1997), ao desenvolver o conceito de inteligência emocional salienta que aprendemos sempre melhor quando se trata de assuntos que nos interessam e nos quais temos prazer.
A preparação da criança para a escola passa pelo desenvolvimento de competências emocionais – inteligência emocional – designadamente confiança, curiosidade, intencionalidade, autocontrole, capacidades de relacionamento, de comunicação e de cooperação. Sem o auxílio e o exemplo do professor pode se tornar uma tarefa árdua, pois a criança se espelha no exemplo e quem é o exemplo na escola se não o professor. Freire (1997, p.:86), fala sobre a importância dos componentes afetivos e intuitivos na construção do conhecimento da seguinte forma:

“... é necessário que evitemos outros medos que o cientificismo nos inoculou. O medo, por exemplo, de nossos sentimentos, de nossas emoções, de nossos desejos, o medo de que ponham a perder nossa cientificidade. O que eu sei, sei com o meu corpo inteiro: com minha mente crítica, mas também com os meus sentimentos, com minhas intuições, com minhas emoções. O que eu não posso é parar satisfeito ao nível dos sentimentos, das emoções, das intuições. Devo submeter os objetos de minhas intuições a um tratamento sério, rigoroso, mas nunca desprezá-los.”


Dentro da abordagem democrática, a afetividade ganha um novo enfoque no processo de ensino e aprendizagem, pois se acredita que a interação afetiva auxilia mais na compreensão e na modificação das pessoas do que um raciocínio brilhante, repassado mecanicamente. A afetividade, no processo educacional, ganha seguidores ao colocar as atividades lúdicas no processo de aprendizagem.
Assim, como o aluno precisa aprender a ser feliz e descobrir o prazer de aprender, nós educadores temos o dever de sermos felizes e de transmitir tal felicidade para que contagiemos os nossos educandos.
Se a criança não tem felicidade em casa, a escola é o melhor lugar para mostrar a ela que a felicidade existe para quem acredita nela. Se ela não tem afeto e carinho, porque não mostrarmos à criança o quanto é bom um afeto?
Podemos perceber, vivenciando o assunto, que na maioria das unidades escolares não ocorre à afetividade, pois o aluno é visto como mero objeto de aprendizado, ou seja, um ‘lugar’ onde o conteúdo deve ser depositado.

2. AS RELAÇÕES EU-OUTRO NO COTIDIANO DA SALA DE AULA

Na teoria de Henri Wallon, a dimensão afetiva é destacada de forma significativa na construção da pessoa e do conhecimento. Afetividade e inteligência, apesar de terem funções definidas e diferenciadas, são inseparáveis na evolução psíquica. Entre o aspecto cognitivo e afetivo existe oposição e complementaridade. Dependendo da atividade há a preponderância do afetivo ou do cognitivo, não se trata da exclusão de um em relação ao outro, mas sim de alternâncias em que um se submerge para que o outro possa fluir. A escola é um campo fértil, onde essas relações a todo tempo se evidenciam, seja através dos conflitos e oposições, seja do diálogo e da interação. ALMEIDA, (2001, p. 85):
“O conflito faz parte da natureza, da vida das espécies, porque somente ele é capaz de romper estruturas prefixadas, limites predefinidos. O conflito atinge os planos sociais, morais, intelectuais e orgânicos.”


Wallon (1894,p. 21) deu destaque ao conflito eu-outro, característico da fase do personalismo (aproximadamente dos 3 aos 6 anos) e da adolescência, segunda e última crise construtiva. O conflito emocional estimula o desenvolvimento, pois resolvê-los implica manter o equilíbrio entre razão e emoção, o que levará a um maior amadurecimento tanto da afetividade quanto da inteligência.
Só há conflito onde há diferença e o homem sendo um ser múltiplo e diversificado não tem como evitá-lo. No cotidiano escolar, essencialmente heterogêneo, é imprescindível que o conflito seja encarado como possibilidade favorável ao desenvolvimento emocional e intelectual dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Levando em consideração que o cenário educativo é espaço de desejos, afetos e conflitos que constituem a vida inter e intrapsíquica, presentes em todos os momentos na relação ensino-aprendizagem; é um espaço dialético, onde convivem autoritarismo e diálogo, oposição e interação, razão e emoção. Por isso, é necessário manter o equilíbrio do ambiente, harmonioso.

2.1 AS INTERAÇÕES GESTADAS NA RELAÇÃO EU-OUTRO

Ensinar a condição humana, eis um dos setes saberes necessários à assume crucial importância, pois estamos nos referindo à sala de aula não apenas como espaço de construção de conhecimentos, mas de convivência, de formação de seres humanos.
A sala de aula é espaço vivo. Nela, além dos conflitos, há momentos de interação que ocorrem naturalmente entre alunos e professores e há os que são provocados tanto pelo professor quanto pelo aluno e que se revestem de significado. Em sala de aula percebe-se, um interesse e uma participação maior por parte dos alunos, por causa de professores que em sua prática pedagógica procuram criar um clima de respeito e amizade entre eles e os alunos, na medida em que os tratam de forma educada e respeitosa.
Isso não que dizer que não os repreendem. Mas, não utilizando expressões que os rotulem como incapazes, tendo interesse em ouvi-los, procurando dar um sentido conceitual e significativo a essas falas, relacionando-as ao conteúdo da área e muitas vezes à formação do aluno como pessoa, assim valorizando os conhecimentos e vivências trazidas por eles.
É buscando estimulá-los através de palavras, gestos, manifestando interesse por eles, como sujeitos importantes e ativos nas relações estabelecidas, tentando delinear novos percursos que rompam com a noção de fracasso e de exclusão vivida por muitos alunos. Essas aulas significam mais que um simples conteúdo, mas uma relação direta com situações pertinentes a eles.
A construção e reconstrução do saber acontecem quando se percebe o significado do que está sendo vivenciado, quando há a mobilização e a interação dos sujeitos nesse processo. Quando as relações professor/aluno/conhecimento permitem a participação, a argumentação, o respeito pela palavra do outro, mesmo em meios aos tropeços no caminho, há a possibilidade de avanço no processo de aprendizagem.
Nesse processo de interação humana, de intercâmbio, o conhecimento estruturado do professor, sua forma de expressão mais formal, seus valores e concepções se misturam aos saberes não sistematizados e empíricos dos alunos, aos seus valores e linguagens próprios de seu ambiente cultural. Esse encontro, observado numa perspectiva dialógica pode assumir um valor significativo no processo de aprendizagem, propiciando a participação ativa e a mobilização para aquisição do conhecimento. Como afirma Freire, (1996, p.159-160):

“Na verdade preciso descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha autoridade.”


Avaliamos que a não preocupação do professor em tecer uma relação de interação com os alunos acaba provocando uma reação que gera aborrecimento ao professor dificilmente será vista por ele como uma resistência a sua atitude, e sim como desrespeito, rebeldia e falta de interesse do aluno, que em nada contribuirá para o encaminhamento de possíveis soluções para os conflitos.
Essa fala nos permite conhecer a valorização dos alunos ao professor que os escuta, que se preocupa com suas dificuldades e que entende que a aprendizagem não ocorre ao mesmo tempo e do mesmo jeito para todos. Reconhece que ele é um elemento importante de mediação entre o aluno e o conhecimento. Nesse sentido podemos fazer alusão à teoria Vygotskyana sobre a importância da intervenção pedagógica, o papel do professor de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, fazendo juntos, demonstrando, fornecendo pistas e provocando avanços que não ocorreriam naturalmente, e mais uma vez recorremos a FREIRE (1996:162-163):
“Não importa com que faixa etária trabalhe o educador ou a educadora. O nosso é um trabalho com gente, miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca. Gente formando-se, mudando, crescendo, reorientando-se, melhorando, mas porque gente, capaz de negar os valores, de distorcer-se, de recuar, de transgredir.”


Sabemos que a atitude do professor, a forma como ele interage com a classe, como direciona o seu fazer pedagógico está relacionado às suas concepções de homem e de mundo, sejam elas conscientes ou inconscientes.
A afetividade abrange as paixões, os sentimentos e as emoções, portanto, também estão nela inseridas as manifestações de agressividade, medo e raiva. O desconhecimento teórico desses conceitos dificulta a compreensão das relações de reciprocidade e oposição entre afetividade e cognição, e o poder das emoções, sejam elas perturbadoras ou ativadoras, influindo de forma estimuladora ou desagregadora na aprendizagem. Isso pode acarretar enganos na interpretação de determinadas reações ou ações na sala de aula, levando à redução da capacidade de discernimento tanto do aluno quanto do professor.
O que evidenciar nestas falas, tanto dos alunos, quanto dos professores é a importância do diálogo na prática educativa. O diálogo oferece oportunidades, segundo Hernández, ( 2002, p.20):

“para expandir, reconsiderar uma questão ou problema e procurar compreendê-lo de diferentes maneiras. O que, por sua vez, permite desenvolver a consciência de aprender e impulsionar estratégias de pensar sobre a própria aprendizagem. Além disso, a partir do diálogo, enfatiza-se a reflexão, a investigação crítica, a análise, a interpretação e a reorganização do conhecimento.”


O diálogo pode então, ser significativo para estimular o interesse, a necessidade e a conscientização na relação ensino-aprendizagem e pode contribuir para a reciprocidade entre afetividade e aprendizagem, o que não deve ser confundido com permissividade, Freire (2000, p.117):
“o diálogo entre professores ou professoras e alunos ou alunas não os torna iguais, mas marca a posição democrática entre eles ou elas. Os professores não são iguais aos alunos por várias razões, entre elas porque a diferença entre eles os fazem ser como estão sendo.”


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Penetrar no universo escolar, tão difícil de desvendar, onde não há caminhos definidos, mas que vão sendo construídos no caminhar revela a noção de que não vê-lo realmente como é, se ver, o que pode e consegue ver, o que permite conhecimentos e concepções. Assim, à procura de respostas, é possível que mais indagações tenham sido provocadas do que respostas encontradas.
O sujeito constrói-se a partir das relações entre um mundo externo, estruturado pela cultura e pelas condições históricas, e por um mundo interno, não somente no aspecto cognitivo, mas afetivo, que envolve desejos, pulsões, sentimentos e emoções, portanto, é extremamente importante aproveitar essas relações na prática educativa,

A afetividade é um conceito amplo, integra relações afetivas como a emoção (medo, cólera, alegria, tristeza), a paixão e o sentimento, inerentes ao processo ensino-aprendizagem. Emoção e cognição são dois aspectos inseparáveis no desenvolvimento e se apresentam de forma antagônica e complementar.
Na sala de aula, espaço social de convivência diária, foi possível perceber movimentos que caracterizam os conflitos eu-outro e que se constituem em oportunidades de questionamentos, reflexão e conscientização, e outros que apenas desgastam a relação professor/aluno/conhecimento. Mas, também, movimentos em que as interações gestadas na relação eu-outro são baseadas na importância do eu e do outro, no comprometimento e no diálogo.
A escola constitui-se num espaço essencialmente educativo, cuja função principal é a de mediar o conhecimento, possibilitar ao educando o acesso e a reconstrução do saber. Essa função está imbricada inexoravelmente às relações, pois a transmissão do conhecimento se dá na interação entre pessoas. Assim, nas relações ali estabelecidas, professor/aluno, aluno/aluno, o afeto está presente. Um dos componentes essenciais para que esta relação seja significativa e represente uma parceria no processo ensino-aprendizagem, é o diálogo.
Enfatizar o diálogo como imprescindível na relação professor/aluno não significa, portanto, desconsiderar a diretividade necessária ao processo ensino-aprendizagem ou a má interpretação de que o bom professor é “o bonzinho”, “o que permite tudo” ou “o que entende o aluno em todas as suas atitudes”.
A relação professor/aluno, por sua natureza antagônica, oferece riquíssimas possibilidades de crescimento.
Os conflitos oriundos desta relação desigual podem e devem ser aproveitados, pois resolvê-los pressupõe o exercício constante de equilíbrio entre razão e emoção. Devido à natureza paradoxal das emoções, há um antagonismo entre as mesmas e atividade intelectual. É possível perceber que quando ocorre a elevação da temperatura emocional o desempenho intelectual diminui, impedindo a reflexão objetiva, e quando a atividade intelectual está voltada para a compreensão da emoção, seus efeitos são reduzidos. O desenvolvimento deve conduzir à predominância da razão, sem que a emoção esteja excluída.
Em se tratando de adolescentes é importante que a relação afetiva seja mais cognitiva, que se concretize considerando o outro como legítimo outro na convivência, ou seja, que a relação professor-aluno se dê como uma parceria afetivo-cognitiva, evidenciada através de uma linguagem onde haja espaço para o elogio, o incentivo e mesmo para a repreensão necessária, direcionada ao outro como possibilidade de reflexão, conscientização e formação. É essencial que esta relação esteja pautada no interesse pelo sujeito singular, gestado no coletivo, e principalmente pela crença na capacidade do ser humano.
Essa relação é uma via de mão dupla, professor/aluno, aluno/professor, que faz da sala de aula uma teia de valores, necessidades, aspirações e frustrações que se entrecruzam e, portanto, se influenciam reciprocamente. Por isso, tanto professor quanto aluno são responsáveis por dar o tom a essa relação, mas é imprescindível compreende-se que professores são maestros nessa sinfonia, quer seja por pela formação, experiência ou por diferença em relação ao aluno, sujeito em formação, em busca de identidade.
A relação afetiva entre os sujeitos envolvidos no processo ensinar-aprender, o exercício do diálogo, o fazer compartilhado, o respeito pelo outro, o estar aberto, o saber escutar e dizer, configuram-se como elementos de fundamental importância para a aprendizagem.
É imprescindível, então, que no contexto escolar se trabalhe a articulação afetividade-aprendizagem nas mais variadas situações, considerando-a como essencial na prática pedagógica e não a julgando como simples alternativa da qual pode lançar mão quando queremos fazer uma “atividade diferente” na escola. Essa articulação deve ser uma constante busca de todos que concebem o espaço escolar como locus privilegiado na formação humana.
Os conhecimentos são construídos por meio da ação e da interação. O sujeito aprende quando se envolve ativamente no processo de produção do conhecimento, através da mobilização de suas atividades mentais e na interação com o outro. Portanto, a sala de aula precisa ser espaço de formação, de humanização, onde a afetividade em suas diferentes manifestações possa ser usada em favor da aprendizagem, pois o afetivo e o intelectual são faces de uma mesma realidade – o desenvolvimento do ser humano.

































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Maria Alice Santos ESCRITO POR Maria Alice Santos Escritor
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