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O poço

A revelação do inato de um ser.

Desperto em um local sombrio, o medo toma conta de mim. Não consigo mensurar a profundidade, mas sei que estou em um poço impossível de sair. Minhas mãos tremem, estou desesperada por dentro e imóvel por fora, como se não conseguisse expressar nada, como se estivesse em um pesadelo e que no fundo, talvez seja mesmo.

Em meio a toda aquela guerra dentro de mim, meu corpo finalmente reage e consigo olhar para cima. Sem dúvidas é extremamente alto e impossível de sair. Por mais que tente, mal consigo tirar os dois pés do chão. Após algumas tentativas e longos minutos (que pareciam horas) o desespero interno começou a transbordar como se fosse uma avalanche e a sensação de medo exalava pelos meus poros.

Ensaio um pequeno grito, porém tímido, estava tentando comprimir o choro que insistia em sair sem autorização.

Mãe, socorro! me ajuda!! (Não conseguia pensar em outra pessoa para poder me ajudar).

Eu chamei incessantemente até que a minha voz já trêmula não conteve meu desespero e tomada pela descrença de que alguém me ouviria comecei a gritar, de tal forma que minha voz que a muito tempo não havia falhado tornou a falhar.

Em meio a todo aquele desespero e inúmeras tentativas de subir acabei escorregando e caindo. Ao ver o sangue em minhas mãos o choro correu pelo meu rosto e desse ponto em diante comecei a desacreditar que alguém chegaria para me ajudar.

Ouço uma voz! Sim! É minha mãe. Ela me olha e meia desnorteada dá início a um pequeno questionário de como eu fui acabar ali, mas que logo é interrompido pela angústia de me ver naquele abismo e a pressa de me tirar dali.

Ela me lança uma corda, já um pouco velha, mas bem resistente. Parece que foi feita para aquela situação, pois já tinha nós que me ajudariam a subir. Mas não adiantou, eu estava muito machucada e não tinha mais vigor, por mais que tentasse o medo de cair durante a subida me tomou e mesmo vendo a corda não tive forças para subir.

Começo a ouvir mais vozes, outras pessoas surgem, dentre elas o meu novo 'amigo' (não sei descrevê-lo com precisão, pois para mim ainda é uma incógnita sua real posição em minha vida). Seu olhar é brando e através dele fui capaz de ver a possibilidade de sair.

Em um breve momento esqueço que estou ali e começo a olhar todos aqueles que estão ao meu redor, o quanto se importam comigo e querem me ver fora dali.

Várias cordas começam a descer, cada uma de uma cor diferente e uma espessura. Eu sabia que todos queriam que eu saísse daquele lugar e eu também queria sair, o sentimento que pairava sobre mim era o desejo de conseguir abraçá-los mais forte do que nunca antes havia abraçado.

Era o momento de alcançar a liberdade e viver uma nova oportunidade após todo aquele tormento, eu pensava que seria assim mas não foi. Minha mente não parava e milhares de dúvidas começaram a encher minha cabeça. "Tantas pessoas querendo me ajudar, mas ninguém descia, ninguém sabia como era estar naquele poço, ninguém é capaz de sentir o mesmo que eu quando caí. eles não viram tudo o que passei antes de aparecerem, ninguém estava aqui quando eu mais precisei."

Talvez esse tenha sido o ápice do desespero, desacreditei de tudo. Os meus olhos se fecharam e por mais que todos estivessem ali me chamando e dando as mãos para me ajudar, eu não conseguia segurar nas cordas, não conseguia ao menos me agarrar.

Em meio aquela "tempestade",ouço uma voz que me dizia:

- Se acalme e respire! Respire… Respire…

Havia paz naquela voz e isso acalmou meus pensamentos, era como uma brisa suave que soprava aos meus ouvidos calmaria. Então, eu parei, respirei e expirei e aos poucos tudo aquilo que estava dentro de mim começou a sumir. Não ouvi mais vozes, não senti mais dores, as feridas em meu corpo se tornaram insignificantes, tudo se tornou paz.

Ao abrir os olhos não estou mais em um poço, é apenas uma poça de lama e não vejo mais ninguém. Não sei ao certo o que aconteceu, mas agora não me importa mais, tudo ficou para trás e eu só consigo pensar em seguir em frente, meus passos são leves, meu vestido verde florido balança com o vento e meus cabelos não se controlam. Era como se aquele momento nunca tivesse existido. Não sei ao certo o que preciso para chegar a essa calmaria, mas sei que ela está diante dos meus olhos.

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Ramon Silva ESCRITO POR Ramon Silva Escritor
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