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Sexta-feira 13.

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Roselimara, filha de pequenos agricultores no interior do Ceará, começou e terminou todo o seu Estudo Fundamental numa escola pública com apenas infraestrutura básica de ensino, quer dizer: sem parque infantil, biblioteca, computadores, sala de professores, quadra de esporte, laboratório, informática... Engravidou aos 15 anos e parou de estudar. Mãe solteira aos dezesseis, aos dezessete ela conheceu Roberto, sete anos mais velho. Com ele e o seu menino mudou-se para o Sudeste - cidade grande - e foi morar no morro, em área de risco; uma cratera ameaça engolir o seu barraco. Hoje, aos vinte e um anos, o marido desempregado, ela doméstica com três filhos para criar e sem creche onde os possa matricular, a vida é só dificuldade.

Quarta-feira, 11 de Agosto, nove horas da manhã. Roselimara tomou posse das moedas que o marido deixou sobre a mesa e saiu para comprar pão e leite na padaria. Na volta, diante da Casa de Apostas, inopinadamente olhou para o cartaz em letras garrafais que informava: MEGASENA ACUMULADA, ÚLTIMOS DIAS. Ela não resistiu. Entrou na loja, pegou um volante, e com a caneta amarrada num fio preso ao balcão riscou meia dúzia de números no talão. Fez sua aposta e pagou o jogo com o trocado que lhe sobrou das compras. Na Sexta-feira, 13 de Agosto, nove horas do dia, de novo Roselimara entrou na padaria e gastou suas moedinhas nos ingredientes pro café. Lembrou-se do jogo e voltou na Lotérica, entrou, sacou da bolsa a sua aposta e conferiu seus números com o resultado exposto no cartaz, colado na parede. Acertou o 13, seu número de sorte; o 21, a sua idade; o 47, que era a idade da sua mãe e de quem jamais se esquecia; e o 55, a idade do pai. Passou raspando no 29, ela apostou no 28, a idade do marido; e inverteu os algarismos no número 50, cravou no 05, a idade do seu primeiro filho.

Ela, que jamais ganhou uma bala sequer, embolsou R$195,00 por ter feito a quadra na Megasena. Ficou tão feliz com aquele premio inesperado que logo sacou o dinheiro ali mesmo no caixa, e nem perdeu tempo chorando a possibilidade de ganhar o premio máximo, já que foi por tão pouco. À noite, quando o marido chegou trazendo no bolso suas moedas amealhadas dos motoristas nas ruas e calçadas, ela lhe deu a notícia, e disse que já tinha um plano para gastar o dinheiro: montaria uma barraquinha na feira de Domingo pra vender churrasquinho. Falou dos seus propósitos com tanta determinação, que o marido limitou-se a concordar e apoiar. Disse-lhe ainda: melhoraremos de vida seguindo por esse caminho, você vai ver! E estalou um beijo na sua boca.

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Dilucas ESCRITO POR Dilucas Autor
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