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CARTA DE DESPEDIDA PARA MINHA FAMILIA

Natal, 18/04/2004 e 18/07/2011 (Finalização)

 

caríssimos!

 

Hoje faz exatamente quarenta e dois anos que nascí.

Não sei bem qual o sentido que tem este momento para vocês, também não tive muito tempo para perceber isto em vocês.

Não sei também qual a qualidade da minha concepção, mas com certeza alguém deve saber.

Hoje me vejo ausente dos locais que assistiram o meu desenvolver, meus desarranjos, meus berros, minhas glórias, meus pódiuns, derrotas e algumas transformações perceptiveis a olho nú.

Os caminhos que percorrí agora se distanciam da minha vista.

Já não vejo o verde e o colorido da minha terra "Natal", não sinto o cheiro da jinguinha fritando la na ridinha, do caranguejo Sá da "Marlene", do subir no morro do careca, do carnaval do centro da cidade no primeiro domingo desta festa, a praia de pipa, os aniversários do "neto", os olhinhos dos meus sobrinhos brilhando ao ver as minhas brincadeiras, a "tia lia" no meu ouvido pedindo uma história ou uma palhaçada!

Perdí de vista as medidas deles, sinto por isto.

Também não vejo mais, tanta briga, tanta descrininação, preconceito e vergonha no olhar da minha mãe e irmãos, talvês isto esteja anestesiado no coração pelo distanciamento, pois de outra forma minha vida seria um "côma" existencial.

Passei por muitos lugares me esquecendo de vocês, me ocutei por decisão, me anulei por depressão.

O amor que deixei de ter por mim mesma me fez dobrar as medidas, acredito que alimentada pela dor da falta que não conseguí domar.

Andei só, acompanhada pelo desprezo, desespero, agonia e perdição.

Mas não desistí de dobrar as esquinas.

Sabe, agora eu posso dizer que me libertei, estou andando de mãos dadas com a vida e pretendo segurar com tudo o que posso a luz que ela ainda sopra.

Eu estou deixando de ser visceral, isto demora um pouco, quero ser literal e, de certo serei mal interpretada, não importa.

Até aqui a vida me proporcionou muitos momentos, se bons ou ruins, foram grandes em sua essência.

Parto agora para mais uma etapa desta viagem, sei que o que perdí não vou recuperar mais, é injusto dizer "vamos tentar mais uma vez", isto não existe!

As marcas que fincaram feridas no peito de alguém que fica sem juizo de tanta dor, desengano e saudade, são insuperáveis, por isto que digo, não foi só a juventude que se foi, vocês se foram também.

Se um dia houver e tempo tivermos, podemos nos conhecer melhor, quem sabe!?

Eu torço para que todos tenham uma vida melhor, que tenham menos prejuízos e que acertem de verdade.

Saúde para você minha mãe, vá viver.

Quanto as minhas intervenções, se tornarão muito em breve, INDOLOR!

Saudações da filha, irmã e tia, 

Eliana (Lia)

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Eliana Carvalho ESCRITO POR Eliana Carvalho Escritora
Maceió - AL

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