Mais-valia
O ser humano se distingue do animal,
pois detém profusa capacidade de pensar o próprio pensar,
de transformar a natureza consoante suas necessidades.
Antes detentor dos meios de produção,
conhecia toda a escala produtiva
e produzia somente a serviço de sua subsistência,
para as suas necessidades primárias e as de sua família.
O ser humano individualizava-se pelo seu trabalho,
era artífice de sua condição de vida, dono de seu tempo.
Seu trabalho: um patrimônio indelével, uma marca na história,
lapidado por demorado processo evolutivo
- uma justificação de sua condição existencial.
O ser humano não alimentava ilusões!
O produto de seu labor detinha valor de uso.
Mas momento chegara de germinar as sementes do capitalismo,
quando na história surge no espírito um retrocesso.
Desenfreia o afã pelo acúmulo de riqueza,
advêm transformações sociais e a reanimalização humana.
O Ser humano não produz apenas para si, mas para uma abstração,
para longínquos e esparsos mercados consumidores,
e jaz com o desprovimento de sua nacionalidade.
Eis a perversa globalização: a contramão da autorealização.
O ser humano não mais consome o que produz,
mas fabrica em si inéditas carências e perde sua essência.
Passa a auferir apenas fração de sua produção, um valor de troca,
o que enseja a máxima da “mais-valia”.
Não mais senhor do seu trabalho, um vendedor de sua força,
que, daí em diante, uma singela mercadoria.
Não mais detentor de seu tempo, consumidor do seu produto,
foi-lhe usurpada a liberdade...
perdeu-se e tenta resignificar sua insignificância.
Despiu-se de sua identidade, passou a bem tangível.
Castrou-se seus desejos, seu anseios e existir,
está sob o império das forças alheias.
Qual a alternativa, senão existir sem o si mesmo?
Simone Moura e Mendes
1 mil visualizações •
Comentários