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Pouco importa como vai ser o final, o que importa é que, bom ou ruim, a nossa história vai ter um fim.

    Contagem regressiva... Cinco. Quatro. Três. Dois. Meia noite. E então, os fogos de artifício anunciam que o ano novo está presente! Barulho de champanhes sendo abertos. Música ao fundo. Pessoas se abraçando, brindando, rindo, gritando e comemorando o ano que estava por vir. E eu, como sempre, sendo a exceção.

    Com uma taça de champanhe na mão, eu observava aquela profusão de risos e comemorações e esperava por uma ligação que não tinha a menor obrigação de acontecer. Um ano separados. Trezentos e sessenta e cinco dias sem ouvir a sua voz. Oito mil setecentas e sessenta horas sem te ver. E mesmo assim havia uma partezinha em mim que acreditava que você iria ligar para cumprir a promessa que me fez há dez anos.

    Era 01h30min quando me convenci de que não adiantava esperar e que dessa vez você havia me esquecido. Com raiva atirei o celular numa almofada próxima e ele tocou. Assustada e esperançosa corri para atender: “Alô. Pan?”. Alegre, você me perguntou como eu tinha adivinhando, se desculpou por não ter ligado mais cedo e me desejou um feliz ano novo. Em troca, eu desejei que em 2011 os seus sonhos se concretizassem e que fosse um ano cheio de paz, bênçãos, amor e prosperidade.

    Mil coisas passavam pela minha cabeça e eu mal ouvia o que você falava. No entanto, eu tinha certeza de uma coisa: você ainda se lembrava de mim, de nós. Após alguns minutos, ouvi alguém te chamar e logo depois você me disse que precisava desligar, mas que eu nunca me esquecesse de nós dois.

    Menos de um segundo após a ligação ter terminado, foi que percebi que tinha que ter te contado como foi o ano sem você. Um ano tão comum e ao mesmo tempo tão diferente. Pois, apesar de tudo continuar igual, eu estava sem você aqui ao meu lado e isso fez toda a diferença.

    Eu deveria ter te dito as poucas mudanças que ocorreram na cidade. A casa velha e o parque, nos quais a gente costumava passar a maior parte do tempo brincando e se divertindo, foram destruídos para dar lugar a uma escola e a um supermercado que nada dizem sobre a nossa história.

    Eu deveria ter te confessado que nada mudou em meu coração, que continuo sentindo o mesmo amor por ti e que não houve um dia sequer que eu não tenha pensado em você ou desejado que as coisas voltassem a ser como eram antes, mas as coisas nunca são como a gente quer ou espera que seja.

    Eu deveria ter te desejado um feliz ano novo da mesma maneira que eu fiz no ano passado: alegre, sorridente e de bem com a vida, mas eu sou incapaz de fingir tão bem. E o mais importante, eu deveria ter te contado que você, ou melhor, que nós fomos o meu pedido para o próximo ano.

    Lágrimas de decepção escorriam dos meus olhos e, deitada na cama abraçada com uma foto nossa, eu repetia para mim mesmo: “Como você pode ficar calada? Você teve a chance de dizer tudo o que te atormentou durante 2010 e preferiu omitir. Por quê? Por quê? Por que algumas pessoas são tão burras ao ponto de deixarem a sua chance de felicidade escapar?”

    Foi nesse estado que minha mãe me encontrou e com o coração partido eu pedi a ela que me desse à chance de voltar para 2010 ou, pelo menos, algumas horas antes da ligação do Pan. Compreensiva, ela tentava me acalmar: “Ah! Meu bem, você sabe que eu daria tudo para colocar um sorriso no seu rosto, mas isso está fora do meu alcance: não tenho poder sobre o tempo. E mesmo que o ano passado tenha sido horrível, para 2011: vamos esperar que seja um bom ano.

    A última frase dita por minha mãe explodiu em mim como um sinal. Afinal, eu havia passado um ano inteiro esperando e estava a ponto de cometer o mesmo erro, no entanto, sabia que dessa vez eu podia fazer diferente. Pulei do colo de mãe e, apressada, corri para arrumar as malas enquanto gritava: “Mãe, mãe, acorde o pai. Eu tenho que pegar o primeiro avião que vá para Belo Horizonte. Tenho que ver o Pan.”.

    Não precisei falar mais nada, ela havia entendido e com um sorriso vi mamãe indo em direção ao seu quarto para chamá-lo. Minha mãe sabia para onde eu iria e o que eu iria fazer. Pois há anos ela havia entendido o que somente agora descobri: na vida de todo mundo existe uma história inacabada, entretanto a minha não precisava fazer parte desse grupo.

    Eu ia lutar pela minha felicidade. Eu não ia mais esperar, iria fazer acontecer. Pouco me importa se na vida do Pan não há mais espaço pra mim. Pouco me importa se ele se cansou de esperar ou se passa cada noite pensando em mim. Pouco me importa como vai ser o amanhã ou se iremos ficar juntos para sempre. Pouco importa como vai ser o final, o que importa é que, bom ou ruim, a nossa história vai ter um fim.

=**=

 

P.S.: Vamos aproveitar esse começo de ano para por um fim em todas as histórias inacabadas. 

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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

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