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1 - Educação única vertente para transformação!

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A educação tem um grande poder de transformar vidas.

Lembro-me que no interior de Joaquim Gomes/AL, aos 9 anos, passavá-mos o dia com um "punhado" de farinha e 1/4 de limão azedo para matar a fome. Na maioria das vezes, comìamos rato de cana, "tripas" de galinhas que desciam de brejo abaixo quando as mulheres cortavam galinhas e a correnteza da água as traziam.
Não tinha escola pra ninguém. Erá-mos 4 pessoas em casa.
Minha Mãe doente, meu Padrasto viajava por 15 dias pra quebrar pedras nas pedreiras, meu irmão de meses e Eu dona da casa.
Mesmo ao meio das circustâncias tinha a audácia de pegar papel de barracão, pedaço de lápis, um candeeiro e caixas de fósforos, caixas de remédios, aliás, tudo que tivesse escrita e colocava sobre a mesa e transcrevia para o papel os códigos e signos.
Tinha vontande imensa de saber ler e escrever.
Queria enxergar o mundo com outros olhos.
Em 1979 viemos morar na favela da Vila Brejal. Área de mangue, poucas casas. Invadimos um pedaço de lama e construímos uma casa de papelão. Toda tarde a maré vinha e entrava dentro de casa: cobras, sapos, rãs, peixes, dejetos de toda espécie. A chuva, a inudação e o vento derrubou nossa casa diversas vezes, afinal, era mangue. E assim como a minha realidade, diversas outras famílias viviam a mesma situação de calamidade precária.
Dona Severina, 4ª série primária, foi convidada para ensinar o MOBRAL só para adultos em uma outra rua da favela. Eu chorei pra ir estudar. Não podia! Mesmo assim, ela me escondeu detrás das últimas bancas com medo da fiscalização. E foi lá que mesmo sem documento de identificação, comecei a ler e escrever. Aprendi muito rápido e não tinha mais espaço depois de 6 meses. Também não tinha como eu ir para uma escola tradicional por falta de documento.
Aos 12 anos, minha mãe conseguiu meu registro e aí fui estudar na Escola Estadual Cincinato Pinto, onde durante um ano (1982) passei da 1ª para 3ª série e não mais parei.
Comecei a ensinar na 4ª série, aos vizinhos e filhos de vizinhos na mesma comunidade. Aos 15 anos estava ensinando no salão da Igreja São Francisco de Assis (Vila Brejal), Aos 17 anos estava na AEC (Associação de Educadores Católicos/AL), Pastoral do Menor, Centro de Apoio à Criança e Adolescente, Projeto Brejal, Associação de Moradores da Vila Redenção entre outras.
Hoje sou Graduada em Pedagogia pela ULBRA- (Universidade Luterana do Brasil) e Servidora Pública - (Secretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas).
Diante do exposto, volto a afirmar que é através da educação e da fé em Deus que o homem enxerga, encontra solo, firmeza, coragem, força para seguir e mudar sua história.
Não tenho medo de lutar.
Não tenho medo de servir.
Não tenho medo de ensinar o que aprendi.
Não tenho medo e nem vergonha de mostrar ao mundo quem fui e quem sou.
Muitos como eu, teve e tem histórias de campeões e vencedores que deveriam ser mostrados
na mídia como forma real de insentivo.
Guerreiros somos todos nós que buscamos conhecer, aprender e ensinar.
Paulo Freire, guerreiro, foi um homem que não teve medo de começar e fazer diferente.
Tantos Paulos Freires têm no Brasil, principalmente no interior que deveria ser visto pelo Sistema.
A gradeço a todos que me ajudaram.
Caneta, papel, cola, régua, lápis de cor, fardamento, de tudo me faltaram, só não me faltou ousadia de cruzar noites perigosas entre ruas e bandidos pra chegar até aqui.
Sou educadora no coletivo, no meu trabalho, na minha comunidade, na minha família, aonde eu chego, mostrando a minha postura, ética e prática.
Agradeço hoje o espaço da mídia de poder aqui dizer o que estou dizendo agora.
Deixo um abraço para todos.
Maria José da Silva - Maceió/AL
Pedagoga/ULBRA - (Cursista : pós em Gestão Pública Municipal/UFAL e Curso de Extensão em Elaboração, Gestão e Avaliação de Projetos Públicos pela FGV-2010/2011)
Texto publicado no meu blog (http://mariajos-pedagoga.blogspot.com/)   
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Maria José da  Silva ESCRITO POR Maria José da Silva Escritora
Maceió - AL

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