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Eu? Uma Borboleta

 

A Menina Borboleta

 

 

    Quando eu falo sobre a menina borboleta ninguém acredita. Todos pensam que estou perdendo o juízo e que ela nunca existiu, ou melhor, que existiu sim: na minha imaginação. Alguns fingem acreditar nas minhas palavras, mas longe das minhas vistas e dos meus ouvidos chamam-me de mentiroso e louco. Outros, perguntam: “Você tem certeza que foi real? Pode ter sido apenas um sonho.”. Mas eu sei que ela foi real. Afinal, antes de conhecê-la a minha vida era vazia e nem um pouco colorida.

    Eles não acreditam em mim porque nunca conheceram alguém como ela: tão ingênua, crédula, inocente, meiga e amorosa. Uma tola que ainda acreditava em finais felizes e via bondade nas pessoas. E por causa disso muitos se aproveitavam dela.

    Eu sentia pena da menina quando a via triste ou chorando pelos cantos por ter se doado tanto e não ter recebido ajuda na mesma proporção. “Por que existem pessoas que querem fazer mal as outras?” foi o que ela me perguntou e o que eu nunca soube responder.

    Ela jurava chorando que nunca mais iria amar, mas isso era algo impossível de prometer. Afinal, a menina borboleta era daquele tipo que se apegava rápido e que amava aos montes. Daquelas que silenciavam as dores para que o causador não sofresse. Daquelas que perdoavam fácil e de coração.

    Ela calava os segredos para não ter que confessar. Ela sempre colocava a felicidade dos outros na frente da sua. Não brigava com quem lhe queria mal, se afastava, mas não deixava que ele percebesse o quanto a incomodava.

    Amava em silêncio para que o ser amado não tivesse que retribuir forçado ou para que não fugisse dela. Escutava o menino dizendo que a considerava uma amiga e nada mais. Ouvia também seu próprio coração gritando: “Mas eu te amo. Eu te amo tanto.” e nada fazia a não ser sorrir para ele e escutar quando o menino falava sobre seus amores.

    Ela considerava todos como amigos, mas amigos de verdade ela não percebia que tinha poucos. Por que, borboleta, você nunca contou nos dedos quantos deles eram verdadeiros? A maioria zombava dos seus sonhos e desejos. Na frente da menina, apoiavam-na, por trás cochicham o quão idiota ela era por acreditar em universos encantados e por ter um otimismo exagerado.

    O único crime que ela cometeu foi ter roubado o meu coração, mas disso ela nem desconfiava. Era só olhar para a menina e todas as minhas dúvidas desapareciam. Era ela quem me fazia acreditar em milagres e em amor verdadeiro. Com ela aprendi que quando amamos não esperamos retribuição. Damos sem qualquer pretensão.

    A menina era assim: uma sonhadora com asas grandes, embora os outros teimassem em tentar podá-las. Deixem a menina borboleta em paz, eu gritava, mas ninguém parecia me ouvir. Eu tinha medo de que um dia ela deixasse de acreditar e eu perdesse a minha menina borboleta... E esse dia aconteceu mais rápido do que eu esperava.

    Um dia ela se cansou de tanta perseguição e maldade. Desacreditou. Acordou um dia e não viu mais o sol. Otimismo? Não, ela já não tinha. A sua alegria cessou e os seus sonhos findaram. Ela se tornou uma menina como as outras. Já não confiava nas pessoas nem tinha fé. Não sabia nem mesmo retribuir um amor, pois tinha medo de se doar e assim se machucar. 

    Pobre menina. Cética, fria, realista... Pessimista. Não acreditava em finais felizes e não via mais em ninguém amigos, para ela, eram todos inimigos. As suas asas se fecharam numa noite e no dia seguinte não mais abriram. Parabéns eles conseguiram transformar a menina borboleta em uma menina comum. E, hoje, ela se tornou meu sonho bonito que eu ainda espero que volte a acontecer.

    Adeus menina borboleta... Sinto saudade dos seus vôos sobre minha janela.

 
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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

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