O Presságio do Adeus
A MENINA QUE OUVIA
DE UMA CIGANA VADIA
UMA CONVERSA FIADA.
COSTUMAVA DIZER,
PARA A MENINA ESCUTAR
SEUS SONHOS, DESEJOS
E PAIXÕES SOBRE O MAR.
DESCOBRE NA GAROTA
ALGUÉM QUE A SURPREENDA
DE QUE NECESSITE DE SUAS PALAVRAS
E DE HISTÓRIAS NARRADAS, APENAS.
A CIGANA FALAVA DA DELÍCIA DE PRAZERES,
DESEJOS LOUCOS E DE PODERES,
PREVENDO, ASSIM, A CHEGADA DE UM AMOR
INFINITAMENTE MOTIVADOR.
A MENINA DESCOBRE NA CIGANA
ALGUÉM QUE A COMPREENDA
E QUE TAMBÉM SE ENCANTE
COM SEU CORAÇÃO, APENAS
MAS A CIGANA PERSISTE COM OUSADAS HISTÓRIAS
QUERENDO OUVIR, TAMBÉM, DA MENINA
SEUS DESEJOS E MEMÓRIA.
A MENINA REVELA QUE ESPERA
NA LEITURA DE SUA MÃO
OUVIR DE SUA BOCA O FENÔMENO DA PAIXÃO
SÓ PARA VER NA MAGIA,
TUDO O QUE O AMOR, POR ELA, UM DIA, FARIA.
E ASSIM DECIFROU A CIGANA SEU PASSADO:
UM ELO NOS CAMINHOS
SEU PRESENTE:
AGRADOS E CARINHOS
E NO FUTURO:
ANÚNCIOS DE UMA ESPERA SEM COBRANÇAS.
E A MENINA ESPERA... ESPERA...
ESPERA TANTO, COITADA,
QUE ACHA QUE AINDA NÃO É A HORA.
E A CIGANA VADIA,
NÔMADE DE UM CORAÇÃO QUALQUER
SE CANSA DE TER TEMPO
PARA ESTA MENINA MULHER.
BRUXA VEEMENTE VAI EMBORA
SEM DESCANSO E SEM DEMORA
NÃO DIZ SEQUER ADEUS
NEM PALAVRAS PELO CANTO DO OLHAR SEU
NÃO CHORA COM A DOR DA MENINA
QUE TANTO A ESPERA,
DEIXANDO ADORMECER, MAIS UMA VEZ,
O FLORESCER DA PRIMAVERA.
A MENINA SENTI A FALTA DA CIGANA
AINDA QUE DAS PALAVRAS QUE A ENGANAM,
MAS QUE ALIMENTAVAM A PAIXÃO.
DESCOBRE QUE, NA VERDADE,
NUNCA EXISTIU A TAL REALIDADE
DE AMAR UM DIA ASSIM
DESEJA, ENTÃO, CONSOLAR-SE NA SOLIDÃO
E INVENTA UM MUNDO DE PALAVRAS
QUE FALAVA DA PRINCIPAL COMPAIXÃO.
DIZ A MENINA, BOBA E SAUDOSA,
QUE SE NÃO TIVESSE TIDO A ILUSÃO DA ALEGRIA
SIMPLESMENTE NÃO PODERIA
TER TRAZIDO COM OUTRAS VESTES,
A FELICIDADE A TANTO AUSENTE
A MENINA, AGORA, DESCONTENTE,
SÓ FAZIA LEMBRAR,
QUANDO ADMIRAVA SUA SAIA LONGA,
SEU CORDÃO DE PRATA
E AS CONCHAS DO MAR
QUE ANUNCIARIAM UM DIA,
QUE OUTRO AMOR, NATURALMENTE, ACONTECERIA.
RECORDAVA
SUA CURIOSIDADE ACALMADA
DA MÃO ESTENDIDA
DA CIGANA QUE LIA
NAS LINHAS DA CONTRAMÃO
A VIDA QUE SE SEGUIA
E OS PERIGOS DA PAIXÃO
A VELHA SÁBIA,
AO PERCEBER QUE A MENINA QUERIA SEMPRE MAIS,
MAIS DO QUE ELA PODERIA LHE DAR,
MAIS DO QUE A PRÓPRIA CINAGANA PODERIA DESEJAR
DE SER SEMPRE E SÓ ADMIRADA,
TEMIDA E COBIÇADA PELO UNIVERSO SEU,
FUGIU, DEIXANDO SAUDADES, TEMENDO TAMBÉM O ADEUS.
AO PROJETAR-SE NA MENINA
A DOCE ILUSÃO DE QUERER SER SOMENTE AMADA
DESCARTA A IDÉIA DE LER SÓ PRA ELA
O FEITIÇO QUE LHE ATIÇAVA,
O DESTINO QUE ESCOLHERIA,
A VIDA PRECIOSA QUE LEVARIA
DE UM AMOR QUE LHE DESPERTAVA
TODAS AS DELÍCIAS DO AMANHECER.
* Este poema contou com o prêmio Silvio de Macedo, em 1º lugar, no concurso literário Prêmio de Ouro das Américas em 2000.
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