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Animais nas urnas...

A eleição é a maior manifestação democrática desse país, embora alguns discordem argumentando que a obrigatoriedade do voto fere o princípio fundamental da democracia: a liberdade – faz sentido. Mas como seria bom se todos os brasileiros soubessem valorizar, sem precisar ser obrigados a isso, o direito do voto conquistado pelo sangue de tantos herois da nossa história.
 
E não é exagero intitular por “herois” as pessoas que deram suas vidas para que hoje tivéssemos o direito de falar, cantar, berrar e votar. É triste ver jovens da atualidade desperdiçando esta oportunidade singular de debater propostas, articular ações, refletir sobre os nossos males, planejar o futuro das próximas gerações, e votar – que é apenas uma consequência de tudo isso.
 
É compreensível a nossa decepção política, mas não é admissível que ela persista. Dizer-se decepcionado é um ato simplista frente aquilo que podemos fazer para, de fato, desenvolvermos a nossa infante democracia brasileira. A corrupção política abala nossa esperança; os jovens que têm um real interesse de promover o bem comum não encontram espaço em partidos que se perderam nas suas ideologias e que se transformaram em reduto de cacifes poderosos.
 
A situação é realmente dramática, mas dentre as opções que nos restam, a omissão é a pior delas. Aliás, só existe algo pior do que a omissão: corromper-se. Dias atrás, fui negativamente surpreendido ao escutar de um amigo (jovem cidadão politicamente articulado e inteligente) a seguinte afirmação: “Vou vender meu voto. É fácil, basta entregar a cópia do meu título e na hora não votar, até porque ninguém vai ficar sabendo em quem eu votei ou deixei de votar”.
 
Fiquei decepcionado, ou mais do que isso, angustiado. Esse ato é típico das pessoas que pensam em fatos e esquecem as consequências: corrupção gera corrupção. Parte dos brasileiros que “enchem” a boca para criticar nossos políticos, são os primeiros a corromper-se. E não adianta justificar dizendo que o dinheiro de “caixa dois” é o dinheiro que eles roubam do povo durante seus mandatos - talvez se o povo fosse suficiente comprometido com a fiscalização do erário público, a nossa realidade política fosse outra.
 
Sem contar que mais importante do que requerer de volta um dinheiro roubado é valorizar a decência. Quem favorece e defende a prática da corrupção é igualmente pútrido, isto é, podre.
 
O líder tibetano Dalai Lama certa vez escreveu: “Quando perdemos a capacidade de julgar o que é certo e o que é errado, de distinguir entre um benefício duradouro e uma vantagem apenas temporária para nós e para os outros ou de avaliar qual será o provável resultado de nossas ações nos igualamos aos animais”.
 
Tenho medo de que nos tornemos verdadeiros animais brasileiros, sem a capacidade de entender que trinta ou cinquenta reais não pagam o preço de ter moral para condenar posteriormente às práticas de roubo, sonegação, suborno, nepotismo, tráfico de influência, e tantas outras formas de corrupção existentes na nossa pátria.
 
Um país corrompido não se desenvolve, e para acabar com essa triste realidade, é necessário que cada um, valorizando a sua singularidade, aja licitamente. Votar pode ser um dos mais bonitos atos para uma civilização, mas também pode ser a maior fonte dos nossos problemas: que não sejamos corresponsáveis por isto.
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

Membro desde Junho de 2011

Comentários

Ron Perlim
Ron Perlim

Bom seria que a clareza deste texto entrasse no âmago das pessoas e despertassem elas para o fazer político deste país. Por isso defendo a ideia de a sociedade se organizar em Núcleos de Reeducação Política para levarmos a clareza, a luz do entendimento político para essas pessoas que ainda vivem nas "trevas" da ignorância. Visite o http://oeleitoral.blogspot.com e dê a sua opinião sobre o que nele estar escrito. Abraço!