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O Haiti é aqui...

O Haiti, país localizado na Ilha de São Domingos – na América central, coleciona em sua história turbulências políticas e caos social. A turbulência mais recente se deu da última década do século XX pra cá: o Padre Aristide foi eleito presidente pelo voto direto do povo haitiano em 1990; um ano depois foi deposto por um golpe militar e refugiou-se nos Estados Unidos; os organismos internacionais impuseram, em represália ao golpe, sanções econômicas; em 1993, a volta de Aristides é negociada, mas os militares acabam descumprindo o acordo, e a ONU se vê obrigada a decretar o bloqueio total ao país. Em 1994, Aristide é reempossado, e encontra um Haiti mergulhado numa crise política, econômica e social profunda. Dez anos depois, um levante militar afastou Aristide do poder, e um novo ciclo de turbulência estava começado.
 
 
Nesse contexto, o Conselho de segurança da ONU designou o Brasil a agir em prol do povo do Haiti. Várias missões do nosso exército foram desenvolvidas lá, garantindo-lhes a segurança interna e possibilitando-os uma reconstrução política pacífica e constitucional. Sabe-se lá porque, os haitianos sempre tiveram um apreço especial pelo povo brasileiro; sempre prestaram muita atenção na nossa cultura, e divertem-se com nosso futebol. Causa-nos orgulho saber que o Brasil pode retribuir esse afeto com uma missão civilizadora.
 
Em 2010, um terremoto de proporções absurdas causou um estrago no Haiti – era mais uma tragédia social a ser enfrentada por aquele povo sofrido. O sentimento de solidariedade e comoção foi quase unânime entre os brasileiros. Mas, nesse momento de tanta dor, o povo e o governo do Brasil não foram omissos com relação aos nossos irmãos.
 
No que tange às missões de paz lá desenvolvidas, nosso país comanda no Haiti quase 7 mil homens das forças de paz da ONU, dentre os quais, 1.300 são brasileiros. Visando proteger os direitos humanos daquele povo, o governo brasileiro já gastou, em dados oficiais, mais de 577 milhões de dólares. Tudo isso é louvável.
 
No entanto, em paralelo, uma outra sociedade (esta inserida no Brasil) vive um caos no que diz respeito à segurança pública, por exemplo. O estado de Alagoas, líder de índices negativos de IDH, educação e violência, tem clamado por socorro. O interessante é que há uma disparidade de tratamento da União para com o povo do Haiti e com o povo de Alagoas.
 
Nosso estado tem uma dívida ativa com a União que consome mensalmente da nossa receita, algo em torno de 40 milhões de reais. O executivo estadual até tentou negociar com o governo federal, a conversão desse montante em investimentos para o próprio estado, mas a resposta foi negativa: “Esse artifício é inviável” – disseram Lula, enquanto presidente, e, mais recentemente, a Presidenta Dilma Rousseff.
 
É como diz o jargão: “Santo de casa não faz milagre”. É concebível que o governo federal seja solidário com o povo do Haiti, mas agir assim, e fazer vistas grossas à realidade do estado de Alagoas não se pode admitir. Será que só somos um país rico na hora de nos gabarmos por emprestar dinheiro ao FMI? E olhe que a intenção do governo de Alagoas não é deixar de pagar a tal dívida pública, mas, vale repetir, é transformar esse dinheiro em investimentos nos pilares fundamentais de qualquer sociedade que se preze: educação, saúde e segurança.
 
Infelizmente, pra complicar, os políticos alagoanos – que se mostram extremamente articulados para resolverem questões de interesse próprio ou partidário – se acovardam na hora de exigir o cumprimento dessa reivindicação. Talvez não tenham se dado conta que o povo de Alagoas agoniza pela paz e por mais justiça social. Diante desse tratamento diferenciado e incoerente, diante do silêncio de quem deveria brigar incessantemente por nós, resta-nos pedir a Deus para que os nossos governantes entendam aquilo que o músico-poeta, Caetano Veloso, já havia entendido: “Pense no Haiti. Reze pelo Haiti. O Haiti é aqui”.
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Arryson André ESCRITO POR Arryson André Escritor
Maceió - AL

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