A presença
Estavam sob um pé-de-matafome lamentando o comportamento do gestor e por unanimidade diziam que ele estava ausente, não parava na roda de “amigos” e que já tinha os locais certos de pouso. Naquela paranoia circular a vida passava numa ocupação vil e tola.
Em um desses dias um cãomício estava por perto, ouvia as lamentações, defendia com afinco o seu dono, inventando justificativas soltas; acrescendo ao âmago daqueles a indiferença. Ele os deixou e todos que ali se encontravam sabiam que em poucos minutos o prefeito saberia.
Passaram-se alguns dias e o prefeito encostou o carro próximo à turma do pé-de-matafome, desceu do carro, aproximou-se, distribuiu apertos de mão e por ali ficou. Os frequentadores da turma mudaram o semblante, trataram-no com satisfação, alguns tiveram um papo ao pé do ouvido.
Um dos frequentadores da turma, chamado Válter, despediu-se dos amigos e foi para casa. Ao se aproximar, encontrou-se com Sofhós na porta da casa dele e disse-lhe:
— Cadê você? Se tivesse com a gente lá embaixo, teria encontrado com o homem!
— Não sou como você e tantos outros que precisam da presença de políticos, algumas pessoas ricas para me sentir gente, um ser humano. Para isso, comportam-se feito cães, a língua se esconde na boca feito jiboia e os olhos se enchem de uma fútil alegria.
Surpreso, Válter nada disse. Baixou a cabeça, entrou em casa e nunca mais cumprimentou Sofhós.
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