Translúcido

            Nos dias mais mágicos do verão brasileiro, torna-se prazerosamente fácil existir em uma irreal verdade de sonhos e fantasias, mas como tudo é passageiro nesta vida, um dia, os sonhos também acabam tanto os sonhos que apenas podemos vivenciar em uma realidade fictícia, quanto os que nos são permitidos lutar para torná-los reais. Então, chega o frio inverno e bate aquela impressão de que todo esforço dedicado ao que se quis e pelo que se lutou, serviu de nada, uma forma desesperançada de angústia destinada a um último suspiro do mundo que um dia nos foi possível cogitar a possibilidade de realmente existir, mesmo que por um intenso e desiludido segundo.

            São dias de desespero e solidão, mas que nos proporcionam um novo ângulo de visão da vida, e mais que isto, uma eventual e essencial evolução como ser humano. Onde tudo a nossa volta reflete tão translúcido que se torna impossível não crer que aquele pesadelo será eterno.

            Períodos que fazem com que nossas mentes evoluam lentamente, enquanto nossos descontrolados corações tentam de forma extremamente dolorosa, nos induzir a reviver momentos que passaram, e que mesmo que existisse a remota possibilidade de acontecerem novamente, só nos trariam uma maior dependência de algo irreal, no qual o maior significado deste ato seria um eventual retroceder, e com certeza uma prorrogação do estado de sofrimento, na relação com uma difícil evolução em meio ao longo inverno.  

            Hoje, não consegui parar de refletir sobre os espaços solitários de tempo que acontecem em nossas vidas, e que se tornam indesejáveis por suas dolorosas complexidades sentimentais, e após relembrar momentos felizes de veraneios que sempre farão parte do passado, pude constatar que o inverno é uma fase única nas nossas vidas, uma oportunidade de crescer mental e espiritualmente, isto não o torna fácil de ser vivenciado, e muito menos desejado por alguém, mas simplesmente essencial.       

Maceió – AL

03 de Abril de 2012