QUANDO A REAÇÃO É INEVITÁVEL
Debruçando ainda sobre os paradigmas da Ação, Reação ou Resignação, entendo que há momentos na vida que, definitivamente, não nos cabe resignar, mas a busca da sabedoria para encontrar o momento certo da reação continua fundamental. Todavia não esqueça que, se o inimigo não tiver uma rota de fuga, vai partir para cima por falta de alternativa. Lembrando, contudo, que o nosso objetivo é sempre que ambos saiam ilesos de danos que comprometam a sua honra.
É nesse contexto que lembro de um professor que tive na universidade, cujo nome não revelo nem sob tortura, e não adianta tentar adivinhar, porque certamente você vai errar. A matéria era terrível, mas o mestre era mais terrível ainda. Agressivo, grosseiro e desrespeitoso, mas em compensação parecia ter a pretensão de quebrar o recorde mundial da estupidez. Ninguém o suportava e, para complicar, a coordenação parecia impotente diante dele. Os alunos não lhe faziam perguntas, ninguém ousava fazer um comentário sobre a matéria, até que, um dia, ele cansado do tédio que se tornara a sua aula, resolveu explodir e insinuar que todos nós éramos desprovidos de inteligência. Quem nunca teve um professor assim? A partir daí quase todos tentaram reagir à altura, registrando, um a um, a sua indignação. Mas, a cada indignação proferida, ele retrucava sarcasticamente como se deleitasse com aquele tipo de revolta. Ele parecia acostumado com todo tipo de rebelião e sabia exatamente o que fazer para tornar a coisa mais difícil. Até aquele momento, eu permaneci inerte, mas não resignado, pois sabia que uma palavra diferenciada poderia ter a chance de atenuar a ironia do notável educador.
Após encontrar um fragmento de valentia, pedi a palavra e falei: “Eu discordo dos que reclamam do senhor uma postura ética e respeitável. Eu discordo que o senhor deva mudar o seu perfil, tornando-se uma pessoa dócil somente para facilitar a nossa formação. Discordo de tudo isso, porque sei que estamos sendo preparados para administrar pessoas, temperamentos, atitudes e desafios individuais. Sendo assim, durante o exercício da nossa profissão, quando nos aparecer um indivíduo sarcástico, irônico e incompetente, mas sem condições de nos livrarmos dele, certamente vamos lembrar este momento e dizer: depois de ter lidado com o notável professor, esse aí é ‘café pequeno’”.
Naquele momento, soa a campainha do seu telefone móvel cujo aparelho devia pesar uns cinco quilos, um dos primeiros a chegar ao Brasil, e o professor saiu da sala para atender, não retornando naquele dia. Na aula seguinte, enquanto eu o aguardava com a tensão de quem está prestes a sofrer um contra-ataque, ele se comportou como se tivesse sido acometido por uma amnésia profunda, adotando uma postura mais parecida com a de um professor. No final, todos foram aprovados e felizes – graças à generosa distribuição de pontos graciosos – menos eu, o único condenado a repetir a matéria.
No ano seguinte, tive a honra de encontrar o “venerável mestre” em um dos corredores fora do meu horário habitual e ele, cercado por um grupo de alunos, perguntou-me o que eu estaria fazendo ali. Eu respondi: repetindo a matéria do ano passado. E aí, tá gostando? Sim, Agora estou estudando com um professor de verdade. No decorrer da minha carreira profissional, aquela matéria foi extremamente útil. Valeu a pena repetir.
Mas, se o leitor me perguntasse o que tem isso a ver com as minhas experiências institucionais, responderia: é que no exercício da minha profissão, lidei com pessoas que me fizeram concluir que “café pequeno” era aquele professor. Sobre estas, comentarei posteriormente.
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