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Dois Namoradinhos

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                  Ela era mais velha do que ele, acho que uns três anos, não sei ao certo. Mas as feições na face não demonstravam isso, talvez a pouca idade de ambos escondesse os detalhes da idade.

                 Ele estava trêmulo, com mãos frias, úmidas, a boca tremia e a voz saía como um sussurro rouco, embolado. Ela parecia ora furiosa, ora esperançosa. Suas palavras duras pareciam travar uma guerra dentro dela antes de saírem. As palavras na verdade, não se coadunavam com aquele rosto triste e choroso. Talvez ela mesma não tivesse certeza do que estava fazendo. No fundo o que ela queria era acordar, esfregar os olhos, ligar pra ele e contar o sonho ruim que tinha acabado de ter, mas estava lúcida. Estava acordada, não era sonho.

                     Ele saiu apressadamente, subiu na bicicleta emprestada do seu primo e sumiu do campo de visão dela. Ela temia por uma tragédia, talvez isso fosse castigo, mas não estava acostumada a perdoar, era tudo muito novo, na verdade.

            Ele contou o acontecido ao primo. Sentou no quintal de sua casa, enquanto seu parente discorria acerca de relacionamentos. De repente levantou-se, bateu a calça para cair a areia, saiu de casa e montou na bicicleta. Saiu, passou pela ponte, desceu a ladeira do mercado. Avistou um posto de gasolina, parou, comprou uma cerveja e a tomou. Era a primeira vez que pilotava sob efeito de álcool, na verdade era a primeira vez que se utilizava desse meio para não chorar ou para ter uma explicação acaso a lágrima caísse. Tomou e partiu dando voltas pela cidade sem destino. O celular no bolso de sua camisa não tocava, de repente seria a bateria... mas não, não era a tecnologia a culpada.

                   Voltou a rua dela. Já era umas cinco da tarde e num junho chuvoso as luzes da casa já estavam acesas. Parou a bike em frente a casa e desceu. Tocou a campainha sem nem saber ao certo o que falar. Não tinha ensaiado, nem pensado no que estava por fazer. Ela abriu a porta com olhos vermelhos que logo se encheram de lágrimas. E ficaram ali: um olhando o outro em silêncio. Ela baixou o rosto e sorriu discretamente, abraçou-o e o beijou meio que de súbito.

           Aliviado e feliz ele prometeu nunca mais deixá-la. Lado a lado puseram-se a caminhar pela calçada, enquanto ele empurrava com uma das mãos a bicicleta. No silêncio de quem não precisa dizer nada para ser compreendido, eles voltavam a ser dois namoradinhos que tinham acabado de fazer as pazes.


Madalena Sofia Galvão Viana

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Madalena Sofia Galvão Viana ESCRITO POR Madalena Sofia Galvão Viana Escritora
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